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O Mislik movia-se agora. As suas placas articuladas batiam umas nas outras e deslocava-se com a velocidade de um homem a passo. Docemente, Assza tornou a pôr a temperatura a 120 absolutos.

— Aqui está. Gostaríamos que você descesse na cripta, expondo-se aos raios do Mislik. Não há nenhum perigo, nenhum perigo grave. Todos os outros já desceram, sem sucesso, infelizmente. No Espaço, quando estamos protegidos pela parede dos nossos ksills, são necessários nove Milsliks para pôr a nossa vida em perigo. Aqui, tão perto e sem proteção, um só chega. Como reina nesta sala uma temperatura muito baixa, e o vazio quase absoluto, você será equipado em conformidade. Vigiarei tudo daqui e dois autômatos lhe acompanharão, para trazerem você se perder os sentidos. Aceita?

Hesitei um instante, vendo rastejar o ser de pesadelo, que me parecia revelar sob a carapaça geométrica um espírito impiedoso, uma pura inteligência sem nenhum sentimento, mais temível do que toda a ferocidade consciente. Sim, era bem aquilo.

0 Filho da Noite e do Frio!

— Seja — respondi, deitando um último olhar sobre o écran.

— Se necessário — acrescentou Assza —, posso elevar a temperatura e matá-lo. Mas não penso ser forçado a isso. Há, no entanto, um risco para você. Um só Mislik não pode matar um Hiss, salvo se este se expuser muito tempo aos seus raios. Ele também não matou aqueles que lhe precederam, mas você é diferente! — «Au diable» — disse em francês. E acrescentei: — Não percamos tempo. Cedo ou tarde, será necessário tentar a experiência!

— Nós não podíamos tentar antes que você falasse a nossa língua. Não lhe poderei transmitir pensamentos quando estiver na cripta.

Reacendeu a luz. Um Hiss entrou e fez-me sinal para o seguir. Descemos ao nível da cripta, a uma sala onde estavam pendurados escafandros transparentes. O Hiss ajudou-me a vestir um, que me ficava perfeitamente, o que não admira, porque tinha sido feito especialmente. para mim. Um outro, enorme, devia ter servido ao gigante rechonchudo de olhos pedunculados que eu tinha visto estatificado na Escadaria das Humanidades. A porta abriu-se, ainda uma vez e duas máquinas de seis rodas, com possantes braços. metálicos, entraram. O Hiss saiu e a porta fechou— se.

— Está me escutando? — disse a voz de Assza no meu capacete.

— Sim, muito bem.

— Você está ainda ao abrigo dos raios do Mislik. Estes raios não atravessam os quatro metros de ferro-níquel que lhe separam dele É a única proteção eficaz, mas é impraticável em combate, por causa do seu peso Vou agora abrir a porta de. comunicação. Recue e, sobretudo, aconteça o que acontecer, não tente tirar o escafandro antes que eu diga.

Um bloco de metal de quatro metros de comprimento deslizou lentamente para fora da parede. Não senti nenhuma impressão. de frio, mas o meu escafandro inchou lentamente. Introduzi-me pela abertura e penetrei na cripta. O Mislik estava na outra extremidade, imóvel. A luz azul me pareceu mais fraca do que sobre o écran.

Avancei devagar sobre o solo liso. Tudo era silêncio e imobilidade. Ouvia dentro do meu capacete a respiração lenta de Assza. O Mislik continuava a não se mover.

De repente deslizou para mim. Visto de frente apresentava-se como uma massa achatada, da altura de cerca de meio metro. — Que devo fazer? — perguntei.

— Ele não emite nada. Não lhe tocará. Uma vez voou e esmagou um Hiss. Nós o submetemos a doze basikes de alta temperatura, no limite da possibilidade de sobrevivência para ele, Julgo que ele compreendeu e não recomeçará. Se o fizer, você tem um pistola de calor na cintura. Não a empregue senão em caso de necessidade.

O Mislik girava rapidamente em redor de mim.

Ele não emite ainda. Está sentindo algo? — Nada, absolutamente nada. Um certo medo!

— Atenção! Ele emite! Éle emite!

Na parte da frente da massa metálica acabava de aparecer uma fraca faixa de luz roxa. Eu não sentia absolutamente nada e disse-o a Assza.

— Você não sente um formigueiro? Nem vertigem?

— Não, nada!

O Mislik emitia agora violentamente. A faixa de luz atingia, um bom metro de comprimento.

— Ainda não sente nada?

— Não.

— Com uma tal intensidade há muito que um Hiss teria desmaiado! Creio que vocês, os Terrestres, são os seres da Profecia!

O Mislik parecia desconcertado. Pelo menos foi assim que interpretei o seu manejo. Recuava, avançava, emitia, cessava de emitir, recomeçava. Me encaminhei para ele Recuou, depois parou. Então, cheio dum sentimento talvez enganador de invulnerabilidade e dum desejo de bravata, avancei a grandes passos e me sentei sobre ele! Ouvi a exclamação horrorizada de Assza, depois o ecoar do seu riso estridente quando o Mislik me desmontou com uma brusca sacudidela e fugiu para a outra extremidade da cripta. Eu era o primeiro ser de carne que tinha tocado num Mislik vivo!

— Basta — disse Assza. — Volte para a sala dos escafandros. O bloco fechou a abertura, o ar entrou, assobiando, e eu.pude, ajudado pelo Hiss, sair do escafandro.

Tomei o ascensor e penetrei no gabinete de Assza. ele estava caído na poltrona, chorando de alegria.

CAPÍTULO IV

UMA CANÇÃO DUM OUTRO MUNDO…

Desta vez fiquei três dias na ilha Sanssine. Assza tinha imediatamente informado o Conselho dos Sábios do resultado positivo da experiência, e algumas horas mais tarde todos estavam reunidos na grande sala ao lado do gabinete de Assza. Porém, quando me pediram para voltar a descer em seguida até a cripta, recusei claramente. Se as emanações mislik pareciam não ter me afetado, os meus nervos estavam na sua máxima tensão. Durante todo o tempo que estive defronte deste bloco de metal consciente consegui ficar calmo. Mas agora a minha energia estava esgotada e sentia uma invencível vontade de dormir. Os Sábios compreenderam-me e foi decidido deixar tudo para o dia seguinte. Me deram um quarto muito confortável e, com a ajuda do aparelho para fazer dormir, passei uma bela noite.

Não foi sem apreensão que penetrei na cripta; não sabia, com efeito, se a minha maravilhosa imunidade duraria e, no caso contrário, o que se passaria. Havia pedido que mandassem vir um dos neófitos do Colégio dos Sábios, Szzan, ao qual tinha ensinado, no decorrer das nossas conversações, bastante medicina terrestre. Os preparativos foram longos: fizeram-me uma extração de sangue, uma numeração globular e muitas outras observações. Além disso, um voluntário hiss devia descer comigo para verificar se a irradiação emitida pelo Mislik na minha presença era bem aquela que era nefasta para os Hiss. Por especial favor, tinham convidado os técnicos do ksill que tinha atingido a Terra, e, salvo Souilik, que vagueava algures no Espaço, todos lá estavam, Aass na frente. Gostei de os tornar a ver, mas fiquei menos satisfeito quando percebi que o voluntário que me devia acompanhar era Essine.

Não tentei dissuadi-Ia. Já sabia que em Ella, em face do perigo, toda a diferença entre homens e mulheres estava abolida desde milênios. Ela foi voluntariamente, os Sábios tinham-na aceito, e uma recusa da minha parte seria para ela uma injúria sem nome. Mas os meus velhos preconceitos terrestres não podiam deixar de desaprovar.

Eu estava armado duma pistola especial, de «calor frio», que me permitia, em caso de necessidade, elevar a temperatura o bastante para atingir gravemente o Mislik, sem o matar, ou seja fazer passar a temperatura em sua volta de —2610 a quase -1000

.

Descemos então, seguidos dos quatro autômatos, até a sala dos escafandros. Dois Hiss esperavam-nos aí para nos ajudarem a vestir a nossa roupa de vácuo. Enquanto me davam a minha, pude ver a cara de Essine empalidecer — isto traduzia-se entre os Hiss por uma cor cinzento-esverdeada — e ouvi-a murmurar qualquer coisa que parecia uma oração. Evidentemente, estava com medo, o que eu achava absolutamente natural, visto que, se eu tinha fortes probabilidades de sair ileso, ela estava quase certa de ser duramente atingida. Por isso, quando passamos a porta cilíndrica, pus-lhe a mão no ombro e, pelo microfone, disse-lhe: