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– Excelente! E o que foi que eles levaram?

– Bem, parece que não levaram muita coisa. Fizeram a sra. Maberley dormir com clorofórmio e a casa foi... Ah! Aqui está a senhora.

Nossa amiga do dia anterior, parecendo muito pálida e doente, tinha entrado na sala, apoiando-se numa pequena criada.

– O senhor me deu um bom conselho, sr. Holmes – ela disse, sorrindo com pesar. – Ai de mim! Eu não o ouvi! Não quis incomodar o sr. Sutro, de modo que fiquei desprotegida.

– Eu só soube hoje de manhã – explicou o advogado.

– O sr. Holmes aconselhou-me a ficar com algum amigo em casa. Não dei importância ao seu conselho e paguei por isso.

– A senhora parece muito doente. Talvez seja difícil contar-me o que ocorreu.

– Está tudo aqui – disse o inspetor, dando uma pancadinha num volumoso caderno de anotações.

– Mesmo assim, se a senhora não estiver cansada demais...

– Há realmente tão pouco para contar. Não tenho dúvida de que a malvada da Susan planejou uma maneira de eles entrarem. Eles deviam conhecer a casa muito bem. Durante um minuto tive consciência do pano com clorofórmio com que taparam  a minha boca, mas não sei quanto tempo fiquei sem sentidos. Quando acordei, um dos homens estava ao lado da cama e o outro estava se levantando, tendo na mão um pacote que retirou da bagagem de meu filho, que estava parcialmente aberta e espalhada no chão. Antes que ele conseguisse fugir, dei um pulo e o agarrei.

– A senhora arriscou-se muito – disse o inspetor.

– Eu me agarrei a ele, mas ele conseguiu se livrar, e o outro deve ter me golpeado, porque não consigo me lembrar de mais nada. Mary, a criada, ouviu o barulho e começou a gritar na janela. Isto atraiu a polícia, mas os patifes tinham ido embora.

– O que foi que eles levaram?

– Bem, não acho que esteja faltando alguma coisa de valor. Tenho certeza de que não havia nada nas malas do meu filho.

– Os homens não deixaram nenhuma pista?

– Há uma folha de papel que eu devo ter arrancado do homem a quem me agarrei. Estava no chão, todo amassado. A letra é do meu filho.

– O que significa que não tem grande utilidade – disse o inspetor. – Agora, se pertencesse ao ladrão...

– Exatamente – disse Holmes. – Que bom senso aguçado! Mesmo assim, estou curioso para ver este papel.

O inspetor tirou de sua agenda uma folha de papel almaço dobrada.

– Eu nunca deixo passar nada, por mais insignificante que seja – ele disse com certa afetação. – Este é o conselho que lhe dou, sr. Holmes. Em 25 anos de experiência, aprendi minha lição. Existe sempre a possibilidade de uma impressão digital ou de alguma outra coisa.

Holmes examinou a folha de papel.

– O que o senhor acha disto, inspetor?

– Pelo que posso ver, parece ser o final de um romance excêntrico.

– Pode ser mesmo o final de uma história excêntrica – disse Holmes. – O senhor reparou no número no alto da página? É o número 245. Onde estão as outras 244 páginas?

– Ora, imagino que os ladrões apanharam essas folhas. Vão ser muito úteis para eles!

– Parece uma coisa esquisita entrar numa casa a fim de roubar papéis como esses. Isto lhe sugere alguma coisa, inspetor?

– Sim, senhor; sugere que os malandros, na pressa, agarraram o que lhes caiu primeiro na mão. Desejo que se divirtam com o que roubaram.

– Por que estariam interessados nas coisas do meu filho? – perguntou a sra. Maberley.

– Bem, eles não encontraram nada de valioso no primeiro andar, de modo que tentaram a sorte no andar de cima. Essa é a minha opinião. O que acha disso, sr. Holmes?

– Preciso refletir sobre isto, inspetor. Venha até a janela, Watson.

Então, quando ficamos sozinhos, ele leu rapidamente o que estava escrito no pedaço de papel. Começava no meio de uma frase e continuava assim:

...o rosto sangrava muito pelos cortes e golpes, mas isto não era nada comparado ao sangramento do seu coração, quando ele viu aquele rosto adorável, pelo qual estava pronto a sacrificar sua própria vida, contemplando sua agonia e sua humilhação. Ela sorriu – sim, por Deus! Ela sorriu, como o demônio sem coração que era, quando ele ergueu os olhos para ela. Foi naquele momento que o amor morreu e nasceu o ódio.

O homem precisa viver por alguma coisa. Se não for pelo seu abraço, minha senhora, então o será certamente pela sua destruição e pela minha completa vingança.

– Que maneira estranha de se expressar! – disse Holmes, com um sorriso, ao devolver o papel ao inspetor. O senhor notou como o ele, de repente, mudou para meu? O escritor estava tão arrebatado pela sua própria história que, no momento supremo, imaginou que ele próprio era o herói.

– Parece literatura muito pobre – disse o inspetor, enquanto guardava novamente o papel na sua agenda. – Mas, o senhor já vai, sr. Holmes?

– Acho que não tenho mais nada a fazer neste caso, agora que ele está em mãos tão competentes. A propósito, sra. Maberley, a senhora disse que gostaria de viajar?

– Este sempre foi o meu sonho, sr. Holmes.

– Para onde gostaria de ir – Cairo, Madeira, Riviera?

– Oh! Se eu tivesse dinheiro, faria a volta ao mundo.

– Perfeitamente. A volta ao mundo. Bem, bom-dia. Talvez eu lhe mande um bilhete, à noite. – Quando passamos pela janela, vi, de relance, o inspetor sorrindo e sacudindo a cabeça. Estes sujeitos muito espertos têm sempre um quê de loucura. Foi o que percebi no sorriso do inspetor.

– Agora, Watson, estamos na última etapa de nossa curta viagem – disse Holmes, quando voltamos mais uma vez ao barulhento centro de Londres. – Acho que devemos esclarecer este assunto imediatamente; e seria bom se você pudesse me acompanhar, porque é mais seguro ter uma testemunha quando lidamos com uma dama como Isadora Klein.

Tínhamos tomado um cabriolé e seguimos velozmente para algum lugar em Grosvenor Square. Holmes estivera mergulhado em seus pensamentos, mas animou-se de repente.

– A propósito, Watson, acho que você já percebeu tudo claramente.

– Não, não posso dizer isso. Só entendi que vamos ver a senhora que está por trás de toda esta confusão.

– Exatamente! Mas esse nome, Isadora Klein, não significa nada para você? Ela era, é claro, famosa por sua beleza. Nunca houve mulher que se comparasse a ela em beleza. Ela é uma espanhola genuína, sangue verdadeiro dos altivos conquistadores, e seu povo tem tido líderes importantes em Pernambuco durante gerações. Ela casou-se com um alemão idoso, rei do açúcar, Klein, e atualmente é a viúva mais rica e também mais adorável da face da terra. Então houve um intervalo de aventuras, quando ela satisfez suas próprias preferências. Teve vários amantes, e Douglas Maberley, um dos homens mais admiráveis de Londres, foi um deles. Com ele, sem dúvida, foi mais do que uma aventura. Ele não era um doidivanas da sociedade, mas um homem forte, orgulhoso, que dava tudo e também esperava tudo. Mas ela é a belle dame sans merci de romance da ficção. Quando seu capricho é satisfeito, acaba o interesse, e se a outra parte interessada não quiser acreditar, ela sabe como fazê-la compreender.

– Então, esta era a própria história dele...

– Ah! Você agora está juntando as peças do quebra-cabeça. Ouvi dizer que ela está para se casar com o jovem duque de Lomond, que quase poderia ser seu filho. A mãe do jovem duque pode perdoar a idade, mas, um grande escândalo seria uma coisa diferente, de modo que é imprescindível... Ah! Chegamos.

Era uma das melhores casas de esquina do West End. Um lacaio, que parecia uma máquina, pegou nossos cartões e voltou dizendo que a senhora não estava em casa. – Então, vamos esperar até que ela esteja – disse Holmes alegremente.

A máquina sucumbiu.

– Não está em casa, significa que não está para os senhores – disse o lacaio.