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A primeira parada de nossa viagem foi em Columbus, onde meu amigo e sócio Jim Lorimer organizou um comício de 5 mil pessoas na grande esplanada vizinha à sede de sua seguradora, a Nationwide Insurance. Era um dia perfeito para discursos, ensolarado e fresco, e a empresa liberou os funcionários para garantir que a esplanada ficasse lotada. Além da fala do vice-presidente, Peggy Noonan também havia escrito a minha. Dava para ver que ela se divertira usando minha imagem de herói de ação. Apresentei Bush como “o verdadeiro herói americano”. “Eu sou um patriota americano”, falei para o público. “Vi Ronald Reagan e George Bush pegarem uma economia pequena e franzina e a transformarem em um super-herói.” Então acabei com o governador Dukakis usando uma frase que todos os veículos de comunicação repetiram depois: “Eu só sou o Exterminador nos meus filmes. Mas vou dizer uma coisa: em relação ao futuro dos Estados Unidos, o verdadeiro exterminador será Michael Dukakis.” Bush adorou o discurso e me batizou de Conan, o republicano.

Durante as viagens de uma cidade a outra a bordo do avião vice-presidencial, relaxamos e descansamos um pouco. Falamos sobre suas estratégias para a eleição, os discursos de Bush, se alguma vez ele já tinha esquecido para que cidade estava indo e se gostava de fazer campanha. Bush tinha uma atitude bem tranquila em relação ao caminho a ser percorrido – nem tudo precisava estar perfeitamente organizado.

Nossa conversa também abordou um interesse específico meu. Em 1980, no início do governo Reagan, eu recusara um convite para participar do President’s Council on Physical Fitness and Sports (Conselho Presidencial de Boa Forma Física e Esportes). Tratava-se de um grupo consultivo de 24 membros que, apesar do título pomposo, não fazia mais parte da Casa Branca. Sua origem tinha sido uma iniciativa do presidente Eisenhower para promover a boa forma física que fora bastante importante no auge da Guerra Fria – tanto ele quanto seu sucessor, John Kennedy, defendiam que os americanos deveriam estar em boas condições físicas para que pudessem proteger os Estados Unidos da ameaça soviética. Eu gostava especialmente das histórias sobre o que Kennedy tinha feito para incentivar o preparo físico e os esportes. Como presidente eleito, ele começara publicando um ensaio na revista Sports Illustrated intitulado “O americano flácido”, que havia chamado bastante atenção. Já na Casa Branca, desencavara um decreto de Teddy Roosevelt que incitava os fuzileiros navais americanos a completarem uma caminhada de 80 quilômetros em 24 horas. JFK, então, fez a mesma proposta à sua equipe da Casa Branca. Competitivo como todo Kennedy, Bobby aceitou o desafio e atraiu a atenção nacional ao percorrer essa distância calçado com seus sapatos Oxford de couro. O feito inaugurou uma febre nacional de caminhadas de 80 quilômetros e ajudou a lançar vários programas estaduais e locais em prol da boa forma – muitas vezes promovidos e coordenados pelo President’s Council.

Durante o conflito no Vietnã, porém, o assunto saiu de cena. O conselho tornou-se um apêndice da burocracia do Departamento de Saúde, Educação e Bem-Estar e assim permaneceu por duas décadas. Manteve certo prestígio – foi presidido durante um bom tempo pelo astronauta Jim Lovell, bem como por George Allen, lendário treinador da Liga Nacional de Futebol Americano –, mas nunca chegou a realizar muita coisa. Quando o presidente do país convidava a delegação olímpica americana ou os campeões do World Series de beisebol para ir à Casa Branca, por exemplo, o President’s Council não era sequer notificado. Foi por isso que recusei o convite em 1980: não queria fazer parte de uma organização moribunda. Então, quase 10 anos depois, senti que talvez fosse possível reverter a situação.

“É uma grande oportunidade”, falei para Bush.

Expliquei como seria ótimo para a Casa Branca reafirmar sua liderança no campo da saúde e da boa forma, tornando a insistir sobretudo na ideia de que o bom preparo físico é importante para toda a população, não apenas para os atletas.

– E os outros 99,9% de pessoas que nunca saem de casa para praticar esportes? – assinalei. – Quem está prestando atenção nas crianças acima do peso? Esses meninos e meninas jamais serão selecionados para uma partida de futebol americano, uma equipe de tênis, natação, vôlei ou polo aquático. E o garoto magrelo de óculos fundo de garrafa? Quem está prestando atenção nele? Várias escolas têm ótimos programas de esportes, mas nenhum programa de boa forma – prossegui. – O que podemos fazer pela maioria das crianças que nunca se interessaram por esportes? E pelos adultos que estão fora de forma, ou que talvez nunca estiveram em forma? Foi bom JFK ter dado ênfase aos esportes competitivos para inspirar as pessoas. Foi ótimo Lyndon Johnson ter criado o President’s Council on Physical Fitness and Sports. Agora, porém, precisamos tirar o foco das modalidades competitivas, direcioná-lo para a boa forma física acessível a todos e garantir que a população inteira participe.

Eu sabia que George Bush gostava de esportes e que cuidava bastante do corpo.

– É uma ideia brilhante, se você tiver tempo para dedicar ao assunto – disse ele. – Não vai ser algo do dia para a noite. Se for para fazer alguma coisa, é melhor fazer direito.

De Columbus fomos para Chicago, onde o vice-presidente fez um comício em uma escola de ensino médio. Na volta para o aeroporto, ele reparou em um estabelecimento chamado Three Brothers Coffee Shop e disse: “Veja só, um restaurante grego. Vamos parar.” Então todos os carros da comitiva encostaram e entramos. Bush se comportou de forma bem casuaclass="underline" entrou no restaurante, experimentou todos os pratos, conversou com clientes, garçons e funcionários da cozinha – achei aquilo maravilhoso. Ao recordar o ocorrido mais tarde foi que me dei conta: “Arnold, sua besta, ele está concorrendo com um cara chamado Dukakis. É claro que iria querer parar em um restaurante grego!”

Foi um privilégio poder observar tão de perto uma campanha presidencial, sobretudo apenas 15 dias antes da eleição. Eu nunca havia participado sequer de uma eleição para prefeito, mas agora estava vendo o que o candidato a presidente fazia no avião, quanto tempo dormia, como se preparava para os discursos, como estudava cada questão, como se comunicava e como fazia tudo isso parecer tão natural. Fiquei impressionado ao ver como Bush tinha facilidade para se relacionar, como posava para fotos, conversava com todo mundo e sempre sabia a coisa certa a dizer. E também como conseguia estar sempre bem-disposto para tudo isso. No avião, ele invariavelmente tirava um cochilo de 45 minutos. Como Jimmy Carter certa vez comentou, políticos são especialistas em cochilos. Depois era preciso acordar e se inteirar com rapidez das próximas atividades. A equipe o preparava para que ele tivesse algumas informações sobre o local. Doro, sua filha, sempre o acompanhava para lhe dar apoio moral.

A intensidade era totalmente diferente da de um set de cinema, porque os meios de comunicação estão presentes aonde quer que se vá. Não há espaço para erros. Cada palavra equivocada, cada gesto minimamente estranho são vistos e ampliados até se transformarem em algo imenso. Bush lidava com tudo isso de forma natural.

Já perto do Dia de Ação de Graças, enquanto os republicanos saboreavam a vitória de Bush, nós nos preparávamos para lançar Irmãos gêmeos. Eu nunca vira um diretor refinar os detalhes de um filme de maneira tão metódica quanto Ivan Reitman. Ele assistia a sessões de teste, conversava com a plateia e decidia mudar a música-tema ou encurtar determinada cena e exibia o filme outra vez. Então a nota crucial “desejo de assistir” subia dois pontos. Depois ele fazia outra alteração e o número aumentava mais um ponto. Conseguimos fazer a nota do filme subir de 88 para 93, o que, segundo Ivan, era mais alto até do que Os caça-fantasmas.