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A estreia foi uma convergência muito mais feliz de todos os meus mundos do que a convenção republicana tinha sido. Eunice e Sarge organizaram um grande evento beneficente no John F. Kennedy Center for the Performing Arts, em Washington, centro de artes onde a exibição de Irmãos gêmeos iria coroar um festival para promover a Special Olympics. O presidente recém-eleito Bush compareceu com a esposa, Barbara, e também estiveram presentes Teddy Kennedy, o deputado de Massachusetts Joe Kennedy II e outros integrantes dos clãs Kennedy e Shriver. A jornalista e apresentadora de TV Barbara Walters e a âncora de TV Connie Chung marcaram presença, bem como os magnatas Armand Hammer e Donald Trump. Um congestionamento de limusines se formou em frente ao centro, acompanhado por dezenas de equipes de filmagem e centenas de fãs.

Uma demonstração de ginástica e levantamento de peso de atletas da Special Olympics abriu o evento. Bush então subiu ao palco e elogiou os atletas por sua determinação antes de se virar para mim. “Há vários tipos de coragem”, afirmou. “Existe a coragem de meu amigo Arnold Schwarzenegger, que mais de uma vez me acompanhou em campanha por este país... depois voltou para casa e aguentou as broncas da família da própria esposa.” A plateia riu.

Na verdade, Eunice e Sarge sempre assistiam aos meus filmes e me ligavam no dia seguinte para dizer o que tinham achado. Por causa das armas e da violência, contudo, nem todos na família Kennedy demonstravam o mesmo entusiasmo. Portanto, Eunice não estava de todo brincando ao dizer: “Finalmente a família inteira pode ir assistir a um dos seus filmes.” Irmãos gêmeos foi a comédia de maior sucesso da temporada, o que naturalmente me deixou muito feliz, já que era meu primeiro lançamento de Natal e superara todas as expectativas. O fim de semana de estreia, em meados de dezembro, foi ótimo, e daí em diante o sucesso continuou. Em todos os dias entre o Natal e o ano-novo nossa bilheteria chegou a 3 milhões de dólares – ou seja, mais de meio milhão de ingressos eram vendidos por dia. Foi um final feliz para todos os que haviam se arriscado no projeto. Ivan continuou a produzir e dirigir comédias de sucesso, incluindo Um tira no jardim de infância e Júnior, estrelados por mim. Danny DeVito seguiu expandindo seu talento excepcionaclass="underline" dirigiu filmes como A guerra dos Roses e produziu outros, como Pulp Fiction e O nome do jogo. Para a Universal, Irmãos gêmeos fechou com chave de ouro um ano de cinco ou seis sucessos – e Tom Pollock, depois que se aposentou, tornou-se o principal executivo da produtora de Ivan Reitman.

Hollywood é a meca das imitações. Bastou que eu trabalhasse em uma comédia para todos começarem a me mandar roteiros desse tipo, além dos habituais projetos de filme de ação. Mais importante ainda: graças ao nosso contrato inédito com a Universal, acabei ganhando mais dinheiro com Irmãos gêmeos do que com qualquer de meus filmes da série O exterminador do futuro. Os estúdios não demoraram muito a impor limites. Hoje em dia, ninguém consegue sequer chegar perto de um acordo tão aberto quanto o que tivemos em Irmãos gêmeos.

Contando as vendas internacionais, os direitos para VHS etc., o filme já rendeu mais de 35 milhões de dólares só para mim – e continua rendendo, porque os DVDs ainda vendem e o filme continua a ser exibido na TV. Há 25 anos venho tentando convencer a Universal a fazer uma continuação. O projeto se chamaria Triplets (Trigêmeos), e Eddie Murphy, uma pessoa que eu adoro e admiro, interpretaria nosso desconhecido irmão mais velho. Recentemente, no Polo Lounge do hotel Beverly Hills, concordamos em acelerar as negociações e Triplets está agora encaminhado.

CONFORME MEU SUCESSO AUMENTAVA, Sarge me instigava a fazer mais pelo bem público. “Arnold”, dizia ele, “seus filmes e sua carreira de ator são ótimos. Mas me diga uma coisa: quantas vezes mais você quer fazer perseguições de carro?” Ele não sabia nada sobre o ramo do entretenimento. Em 1978, na estreia de Superman: O Filme, Sarge e Eunice organizaram um evento beneficente para a Special Olympics em uma grande tenda montada em sua casa. Sentado à mesa ao lado de Sarge estava ninguém menos que o Superman em pessoa, Christopher Reeve.

– O que você faz? – perguntou-lhe Sarge.

– Estou no filme. Interpreto o Superman.

– Que fantástico! O Superman! – exclamou meu sogro. – Mas sabe de uma coisa? Acho que ter super-homens na vida real é mais interessante.

Parte dele queria ser diplomático e respeitoso, mas outra parte não conseguia entender como alguém era capaz de gastar tantas horas usando fantasia e maquiagem. Sarge nunca lia o caderno de entretenimento dos jornais.

“Quantas pessoas você ajuda quando aparece bonito em um set?”, perguntava-me ele. Ficava implicando comigo sobre como eu ficara impressionado com James Earl Jones durante as filmagens de Conan. “Você me disse que Jones estava no meio de um monólogo e esqueceu a fala, e contou como ele foi profissional, como manteve a pose e disse: ‘A fala, pessoal, sopre a fala para mim.’ E a fala seguinte era: ‘Eu sou a fonte da qual você brota’, e então ele disse: ‘Ah, sim... Eu sou a fonte da qual você brota.’”

E continuou: “O que é importante para você, afinal? Ser capaz de ficar paralisado no meio de uma cena e esperar que alguém lhe diga a próxima fala? Não seria muito melhor viajar pela África e ensinar as pessoas a cavar poços e cultivar vegetais, ou inspirá-las a plantar?”

Eram dois mundos em colisão, mas eu não discordava totalmente dele. Atuar tinha suas limitações em matéria de realização genuína. Mesmo assim, eu sentia que Sarge estava jogando sujo. Eu estava apenas tentando explicar por que admirava James Earl Jones. Um ano depois, pude dar o troco. Após voltar a exercer a advocacia, meu sogro estava me contando sobre uma viagem com Armand Hammer para fechar negócios no ramo petrolífero na Rússia. Falou de uma noite em que havia saído com especialistas locais.

– Você não imagina como a vodca deles é boa – disse Sarge.

– É isso que você admira de verdade? – indaguei. – É isso que importa na sua vida? Beber a melhor vodca?

– Não, não, não! Nós fechamos um negócio importantíssimo!

– Estou só brincando. Você se lembra da vez em que me perguntou, referindo-se à carreira de ator, se o que importava para mim era ser capaz de ficar totalmente imóvel no meio de uma cena e esperar que alguém me dissesse a próxima fala?

– Está bem, entendi – admitiu Sarge.

O trabalho social era parte importante da conversa na casa de meus sogros. “Arnold, você tem uma personalidade tão incrível”, comentavam eles. “Imagine usar tudo o que Deus lhe deu para estender a mão e incentivar os outros: atletas da Special Olympics, sem-teto, pessoas doentes, veteranos das Forças Armadas... Não faz a menor diferença a causa que você escolher. Com sua energia e sua fama, poderia dar um imenso destaque a qualquer coisa.”

Eu já havia embarcado em uma cruzada mundo afora para promover a saúde e a boa forma física entre os jovens. Eu me engajara ainda mais com a Special Olympics: agora era o treinador nacional de musculação dos Estados Unidos, dando seminários e fazendo aparições frequentes por todo o país. Com minha popularidade crescente de astro de cinema, estava pronto para assumir outros compromissos.