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“O que mais posso fazer?”, perguntei a meus sogros. Eles tiveram várias ideias. Eunice era uma fonte constante de inspiração. A meu ver, as realizações dela eram mais importantes que o trabalho da maioria dos prefeitos, governadores, senadores, até mesmo presidentes. Ela não apenas expandira a Special Olympics para mais de 175 nações como também conseguira mudar o pensamento das pessoas no mundo inteiro. Muitos países consideravam os deficientes mentais um estorvo para a sociedade ou um perigo para si mesmos, indivíduos que deviam ser tratados como párias ou que precisavam ser isolados em instituições especializadas. Eunice usou seu sobrenome e sua influência para libertar esses indivíduos, permitindo-lhes ter vidas normais e os mesmos benefícios sociais dos outros cidadãos. O desafio fora grande, pois os governantes não gostavam de ouvir que estavam fazendo algo errado. Ficavam constrangidos quando Eunice Kennedy Shriver aparecia para colocar em evidência as organizações onde os deficientes mentais ficavam trancafiados. Um a um, porém, os países foram mudando de opinião – até mesmo a China, que em 2007 acabou superando séculos de preconceito social e sediando os Jogos Mundiais Olímpicos Especiais. Foi a maior edição da história do movimento. Oitenta mil pessoas lotaram o estádio na cerimônia de abertura e até o presidente chinês compareceu. Também participei do evento como chefe da delegação americana.

Após a eleição de 1988, eu mandara um recado para o presidente Bush reiterando meu interesse no President’s Council on Physical Fitness and Sports. Disse que esperava que ele considerasse o meu nome quando pensasse em outros cargos após montar sua equipe ministerial. Se precisasse de opiniões em relação ao conselho de boa forma, seria um prazer poder compartilhar minha visão. Naturalmente, a equipe de Bush conhecia minha paixão por promover a saúde e a boa forma entre os jovens. Eunice mandou uma carta me recomendando para o cargo e assinalando que eu era “o astro número um” dos Estados Unidos. O presidente respondeu agradecendo por ela ter “recomendado nosso Conan”.

Por ora, contudo, minha sogra estava bem mais concentrada na produção de netos. Eunice ficou muito preocupada quando Maria e eu decidimos não ter filhos imediatamente. Já estávamos casados havia mais de três anos e ela vivia perguntando à filha: “Por que vocês não têm filhos?” Maria sempre respondia: “Eu tenho meu trabalho, ainda não é o momento. E Arnold está ocupado demais. Ele passa o tempo todo no set”, e outras coisas do tipo. Esses obstáculos eram reais. Maria havia se tornado uma das principais personalidades da NBC News. Além de ser âncora do Sunday Today e do Main Street, premiado programa mensal para jovens, ela também apresentava o noticiário do fim de semana e era substituta regular de Tom Brokaw no NBC Nightly News e em outros telejornais. Todos esses programas tinham sede em Nova York. No verão de 1988, Maria recebera um Emmy como coâncora pela cobertura da NBC dos Jogos Olímpicos de Seul, na Coreia. Ganhava bem mais de 1 milhão de dólares por ano e viajava o tempo todo – essas não eram exatamente as circunstâncias ideais para que se tornasse mãe.

Eunice, porém, pensava: “Não, deve haver outro motivo. Talvez eles estejam com dificuldade para engravidar.” Então começou a pesquisar sobre os efeitos dos esteroides anabolizantes na reprodução masculina. Jamais comentou comigo a respeito, mas mandou para Maria um relatório científico de cinco páginas assinado por um dos médicos ligados à Special Olympics. Pude imaginar exatamente como isso acontecera. Eunice havia feito o que sempre fazia, que era chegar ao escritório e dizer: “Arrumem um especialista para me ajudar com essa questão”, ou “Arrumem alguém para escrever este discurso”, ou ainda “Liguem para a Casa Branca e passem para mim”.

Era um relatório bem completo, escrito especialmente para Maria. O texto explicava que, se você tem uma vida sexual ativa e está tentando engravidar mas não consegue, há muitas razões possíveis, e uma delas pode ser o fato de seu marido ter usado ou abusado de anabolizantes. Seguia-se uma explicação médica dos fatos.

Vi o documento em cima da mesa de Maria por acaso, li e quase morri de tanto rir.

– Sua mãe está fora de controle – comentei.

– É, eu sei – respondeu Maria. Ela também estava rindo. – Dá para acreditar num troço desses? Preciso acalmá-la.

Era típico de Eunice tentar se intrometer na situação. Eu costumava brincar que ela queria ter dormido na cama entre nós dois durante a lua de mel para supervisionar os acontecimentos. Na família Kennedy, isso não era exatamente um exagero: segundo a lenda, quando Eunice e Sarge foram para a França em viagem de núpcias, chegaram ao hotel e depararam com Teddy no saguão. Joe o mandara até lá para lhes servir de acompanhante.

Tirando isso tudo, porém, Maria estava de fato ouvindo o chamado do relógio biológico. Acabara de completar 33 anos, um ano a mais que Eunice quando ela e Sarge tinham tido seu primeiro filho. Em 1989, portanto, decidimos nos apressar e Maria engravidou de Katherine.

Nessa primavera, eu estava outra vez vivendo um herói de ação nas filmagens de O vingador do futuro, mas a paternidade nunca me saía por completo da cabeça. Certo dia, quando estava folheando roteiros no trailer, encontrei uma versão preliminar de Um tira no jardim de infância. Não consegui largar o texto – a ideia de um policial durão obrigado a se fazer passar por um professor de jardim de infância me fez morrer de rir. Em Hollywood, as pessoas sempre diziam: “Nunca trabalhe com crianças ou com animais. É muito difícil atuar com eles, e costumam ser tão fofos na tela que acabam roubando a cena.” Eu já tivera a experiência com animais no papel de Conan e correra tudo bem. Mas fazia muitos anos que estava interessado em fazer um filme com crianças, e a perspectiva de ser pai me inspirou. Pensei: “Ótimo! Que as crianças roubem a cena! O importante é o produto final fazer sucesso.” Liguei para me certificar de que o roteiro estava mesmo disponível. Então perguntei a Ivan Reitman se ele aceitaria tornar a me dirigir. Ambos quisemos fazer mudanças no texto para dar mais ênfase ao aspecto sociaclass="underline" eu queria acrescentar o tema da boa forma física e ele queria falar sobre lares desfeitos, abuso de menores e vida em família. Mas nós dois concordamos em tocar o projeto. Como Ivan já estava preparando Os caça-fantasmas II para o final de 1989, começamos a planejar Um tira no jardim de infância para o Natal de 1990.

CAPÍTULO 19

A verdadeira vida

de um exterminador

QUANDO NOSSA PRIMEIRA FILHA NASCEU, em dezembro de 1989, eu estava no centro cirúrgico com uma câmera de vídeo na mão.

– Não se mexam!

– Mas nós temos que puxar o bebê.

– Não, não, esperem. Só para eu ter certeza de que vou conseguir gravar.

Os profissionais que fazem partos já devem ter visto de tudo na vida...

Maria e eu tínhamos feito todos os preparativos dos pais de primeira viagem. Agendamos uma instrutora do método Lamaze para ir à nossa casa de acordo com a data prevista para o nascimento. Participei de tudo, é claro – o pai precisa participar. Tem que se envolver com a gravidez, o parto, tem que cortar o cordão umbilical e se interessar por todas essas coisas, ao contrário do mundo do meu pai, onde o homem ficava totalmente alheio aos acontecimentos. (Alguém gravou um vídeo no qual eu imitava nossa aula de parto, e ver essas imagens convenceu Ivan Reitman a fazer o filme Júnior, no qual interpreto um cientista que engravida durante uma experiência científica.)

O próprio conceito do método de parto Lamaze parecia horripilante tanto para minha mãe quanto para Eunice.

“Você fica lá embaixo ajudando a puxar o bebê?”, perguntou minha mãe. “Vai filmar a vagina dela? Desculpe, mas isso é demais para mim.”