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A reação de Eunice foi mais ou menos a mesma. “Que bom, se for isso que Maria quer. No meu caso, pedi que eles me dessem uma injeção e me apagassem. Sarge só pôde entrar no quarto depois de três dias. Quando entrou, eu estava parecendo uma princesa, e a única coisa diferente era o bebê.”

Senti uma alegria quase inacreditável ao presenciar o parto de Katherine. Pensei: “Caramba! Minha primeira filha!” O interessante na mente humana é isto: conseguir sentir tamanha emoção com algo que bilhões de pessoas já fizeram ao longo da história. É claro que assumi imediatamente o controle da situação – ajudei a enfermeira a limpar a neném, levei-a para ser pesada, cobri sua cabecinha com um gorro para ela não sentir frio, pus a fralda e a roupinha, tudo isso enquanto fazia incontáveis fotos e vídeos, é claro. Maria chorava de tanta alegria, e fiquei ao seu lado enquanto ela repousava. Algum tempo depois, a enfermeira apareceu e explicou a Maria como amamentar. Sempre que eu ouvia algum cara dizer que tinha chorado ao ver o filho nascer, pensava: “Que bobagem.” Mas, quando fui para casa e liguei para meus amigos avisando que Katherine tinha nascido, fiz a mesma coisa.

Os pais de Maria estavam em Washington e minha mãe, na Áustria. “Só vamos aparecer quando formos convidados. Vocês precisam curtir esse momento a sós”, disseram meus sogros. Talvez Maria tivesse lhes pedido para falar isso, não sei. No entanto, ainda que Eunice definitivamente não fosse muito chegada a partos, Maria era sua única filha e no dia seguinte ela foi nos visitar. Não me importei – já tínhamos tido nosso momento de privacidade. Maria sentia que aquela menininha era a primeira coisa importante que tínhamos feito sozinhos, sem a interferência de sua mãe. Ela adorou quando fomos só os dois para o hospital.

Na noite seguinte, quando tivemos alta, havia uma dezena de paparazzi tirando fotos do outro lado do estacionamento, mas levamos Katherine para casa e então o processo de adaptação começou. Porque, quando um filho nasce, a vida do casal muda para sempre. Mesmo depois que os filhos saem de casa, você ainda se sente responsável por eles. Agora eu tinha outras pessoas de quem precisava cuidar: Maria, minha mãe, Katherine e outros filhos ainda por vir. Como vinha de uma família de cinco filhos, Maria sempre quisera ter cinco. Já eu, que tivera apenas um irmão, preferia ter dois. Pensei que acabaríamos chegando a um meio-termo.

Quando voltamos para casa e Sarge e Eunice chegaram de Washington, no dia seguinte, tentamos organizar os intervalos das mamadas, das trocas de fralda, e como devia ser a decoração do quarto. Uma babá logo passou a viver na nossa casa, e senti minha importância escorrer pelo ralo. Os cuidados com a neném passaram a ser um diálogo entre a babá e Maria. No início não dei muita atenção ao fato, mas depois li algo sobre “restrição de acesso” e vi uma matéria a respeito na TV. Pensei: “É exatamente isso que está acontecendo comigo! Estou sendo excluído, não consigo fazer nada direito, todo mundo vive com medo de eu segurar o bebê do jeito errado.” Decidi que eu precisava superar tudo isso e me divertir mais com a situação.

Devo ter lido isso em alguma revista no consultório de um médico, porque em geral não costumava comprar livros ou revistas sobre cuidados com recém-nascidos. Eu achava que, como nada disso existia na Idade da Pedra e ainda assim qualquer bobalhão cuidava de bebês, não havia o que pudesse dar errado. Contanto que você dê amor e carinho à criança, acaba acertando, como em todas as outras coisas que adora fazer. Os cuidados com os bebês estão programados no cérebro de um humano. Muitas vezes, em aviões, fui surpreendido pelo chorinho de um bebê 20 fileiras atrás de mim. Apesar da distância, sempre consegui ouvir, por mais baixo que fosse.

Na verdade, eu me sentia um cara de sorte, pois Maria era sensacional como mãe, e isso não é algo que se possa saber de antemão sobre alguém. Apesar da restrição de acesso, eu admirava o seu controle total da situação. Não precisava me preocupar com nada. Maria tinha instinto, era bem informada, havia lido uma quantidade suficiente de livros e acompanhava de perto o trabalho da babá – não havia deficiência nenhuma nesse quesito, fato que eu podia constatar mesmo sem ter participação tão ativa.

Ainda assim, decidi que a restrição de acesso não tornaria a acontecer. Um ano e meio depois, em julho de 1991, quando tivemos Christina, bati o pé desde o primeiro dia. Não disse nada do tipo “Não, vocês não podem mais me obrigar a sair do quarto”. Em vez disso, à noite, quando íamos nos deitar, assim que Maria terminava de amamentar eu pegava minha filha e a punha em cima do meu peito. Ela ficava com as pernas e os braços bem abertos e as mãos e os pés dependurados. Não sei quem tinha me dito para fazer isso. Foi algum cara que falou:

– Sempre ponho meu bebê em cima do meu peito.

– E como consegue dormir desse jeito? – perguntei a ele.

– Sei lá. De algum jeito, funciona. Não faço a menor ideia. Vai ver nem tive um sono muito profundo, mas tudo bem, porque foi pelo bebê.

Pensei: “É isso! Vou fazer a mesma coisa.” Descobri que, com Christina em meu peito, eu conseguia dormir, mas não era um sono tão profundo a ponto de eu me virar e rolar por cima dela. A natureza havia criado esse meio de proteção. Eu estava lá deitado, dormindo, e de repente eu a ouvia fazer barulhinhos de que estava acordando. Eu olhava para o relógio e via que quatro horas tinham se passado. Era exatamente como a enfermeira do hospital tinha dito: “Ela vai ter que mamar a cada quatro ou cinco horas.” Eu então a passava para Maria, que a amamentava, e depois a pegava de volta para mais algumas horas de sono.

Também passei a dominar muito melhor a questão das fraldas. Comecei a trocá-las desde o início e disse às mulheres: “Gente, eu fui um fracasso com Katherine porque, de cada 100 fraldas que Maria trocava, eu só trocava uma. Não é justo nem com a neném, nem com vocês, nem comigo. Desta vez quero participar mais.” Eu simplesmente fechava a porta e, caso elas tentassem interferir, passava a chave.

Assim, fui chegando e pronto, fiz tudo o que havia para fazer. Em uma ou duas semanas, cheguei a um estágio em que, quando minha filha chorava, eu tinha permissão para subir ao quarto dela e trocar sua fralda sem ninguém ir atrás de mim.

“Que avanço enorme”, pensei. Sentia-me no paraíso sozinho ali no quarto, olhando para aquela menininha e trocando sua fralda sem ninguém espiando por cima do meu ombro. Isso acalmava Christina, que de repente voltava a dormir, e eu pensava: “Fui eu que fiz isso!” Era um sentimento de realização completo, uma grande alegria por poder participar.

Com nosso terceiro filho, porém, foi tudo uma batalha outra vez, porque Patrick era o primeiro menino. Tinha que ser tratado de forma diferente, “como um menino”, seja lá o que isso signifique. Ficamos ambos radiantes, mas eu não esperava que Maria ficasse tão radiante assim com o fato de o bebê ser menino. Ela fazia mesmo questão de ser a influência mais importante na criação dele. Assim, mais uma vez, foi bem difícil dividir as tarefas no início, mas nós conseguimos. E em 1997, quando nosso segundo menino, Christopher, nasceu, soubemos equilibrar muito bem as coisas. Quando você tem um menino, em vez de comprar Barbies você de repente começa a se interessar por caminhões e controles remotos, carrinhos e tanques. Compra blocos de construção e monta castelos e locomotivas. Depois eles passam a querer brincar com facas, e mais tarde aprendem a atirar com pistolas, espingardas e fuzis de brinquedo. Tudo isso me deixava muito feliz.

O NASCIMENTO DE NOSSAS FILHAS COINCIDIU com o momento em que minha carreira no cinema alcançou a estratosfera. No Natal de 1990, algumas semanas depois que Katherine completou 1 ano, a revista Time me pôs na capa como o maior astro de Hollywood e disse que eu era, “aos 43 anos, o mais poderoso símbolo da preponderância mundial da indústria americana do entretenimento”. Um tira no jardim de infância havia estreado nos cinemas nesse fim de ano e já era um grande sucesso.