Mas eu tinha um projeto ainda maior em andamento: O exterminador do futuro 2 – O julgamento final.
Sete anos haviam se passado desde que O exterminador do futuro alavancara nossas carreiras, e Jim Cameron e eu sempre tivéramos a ideia de fazer uma continuação. Desde então, ele dirigira dois sucessos – Aliens, o resgate e O abismo – e em 1990 finalmente conseguiu os direitos e a primeira parte do financiamento para O exterminador do futuro 2. Ainda assim, fiquei um pouco espantado quando ele me chamou para conversar em um restaurante e disse o que tinha em mente para meu personagem.
– Como é possível o Exterminador não matar ninguém? – estranhei. – Ele é um exterminador! É isto que as pessoas querem: me ver chutando portas e metralhando todo mundo.
Desconfiei de que o estúdio estivesse dando para trás e tentando transformar o Exterminador no personagem de um filme com censura 12 anos. Isso havia destruído o personagem de Conan, e eu não queria ver a história se repetir.
– Não é nada disso – falou Jim. – Você continua muito perigoso e violento. Só que dessa vez o Exterminador volta quando John Connor é criança e está programado para protegê-lo. Ele não é mais o vilão da história. O vilão é um Exterminador novo, menor e ainda mais assustador, o T-1000, programado para matar o garoto. E o seu Exterminador precisa impedir.
Ainda havia carnificina, mas agora quem matava era o T-1000. Assim que entendi que o filme continuaria a ter censura de 16 anos, relaxei.
Enquanto O exterminador do futuro 2 começava a tomar forma, meus outros negócios prosperavam. Eu usara um pouco do dinheiro ganho com os filmes como capital para expandir minha atuação no mercado imobiliário. Tinha agora três prédios residenciais de tamanho razoável em Los Angeles, com mais de 200 apartamentos no total, além do quarteirão em Denver no qual Al Ehringer e eu estávamos construindo salas comerciais, restaurantes e lojas. Nossa aposta no lado mais abandonado de Santa Monica também rendera frutos: o número 3.110 da Main Street era agora um bem-sucedido complexo de escritórios e lojas, e o bairro havia entrado na moda. Nosso primeiro grupo de inquilinos – empresas sem graça como um banco, uma corretora de seguros e uma agência imobiliária – dera lugar a produtores, diretores e profissionais do entretenimento. No segundo andar ficava o escritório de Johnny Carson, e eu dividia o terceiro com Oliver Stone. “Por que não fico com a área à esquerda dos elevadores e você com a da direita?”, sugeriu ele. “Assim refletimos nosso posicionamento político.” Achei graça e concordei, e até hoje meu escritório continua no mesmo lugar. Um pouco depois, o astro do time de basquete Los Angeles Lakers Shaquille O’Neal se mudou para o prédio, e depois dele vieram outros produtores e empresários do esporte.
Eu também estava começando um enorme projeto de trabalho social. Bem pouco tempo depois de Katherine nascer, recebi a ligação da Casa Branca que estava esperando. “O presidente gostaria que o senhor assumisse o President’s Council on Physical Fitness and Sports”, notificou-me o representante, todo formal. “Ele disse que quer que o senhor faça exatamente o que sugeriu durante a campanha: que coloque de novo a boa forma física para todos entre as preocupações nacionais”, acrescentou. Ser nomeado “tsar presidencial da boa forma”, como os meios de comunicação passaram a me chamar, foi o desdobramento da minha carreira que mais me trouxe satisfação. Eu considerava o cargo parte da cruzada que iniciara décadas antes, ao promover o fisiculturismo como plataforma para a boa forma e a saúde. Além disso, ao trabalhar com a Special Olympics, eu estava vendendo a ideia do esporte e da boa forma para todos, não apenas para os atletas. Tinha sido por isso que pedira o cargo ao presidente Bush de forma tão enfática. Havia muita coisa que eu poderia fazer nessa função. A Casa Branca sempre cometera o erro de escolher para o trabalho grandes nomes do esporte, mas não necessariamente com habilidade para desempenhar o papel. A pessoa selecionada devia ser um atleta ou um ídolo, sim, mas alguém que pusesse a mão na massa, não que ficasse apenas sentado no trono. Eu tinha uma visão clara do que precisava ser feito. A essa altura, também já estava viciado no trabalho social, sobretudo com as crianças. Não tinha mais nada a ver com fama.
A notícia foi quase tão gratificante para minha sogra quanto para mim. Eunice tinha escrito pessoalmente a Bush para recomendar meu nome – ela defendia com paixão a causa da boa forma física, não apenas por ter um cargo de liderança na Special Olympics, mas também porque o mais forte defensor presidencial da boa forma desde Teddy Roosevelt fora seu irmão JFK. Quando liguei para agradecer, ela perguntou na mesma hora:
– Como eles estão pensando em anunciar a nomeação?
– Não sei – respondi. – O que você sugere?
– Em primeiro lugar, eu organizaria um encontro seu com o presidente no Salão Oval. Mandaria tirar uma foto e a divulgaria ao público. Depois disso, acho que você e o presidente deveriam sair da Casa Branca juntos para falar com a imprensa. Você deve estar preparado para explicar qual será sua contribuição e sua missão como líder do conselho. É necessário sempre ter uma missão e um motivo que façam de você a escolha certa.
Eunice tinha a genialidade política típica dos Kennedy. Sabia que uma nomeação daquele nível em geral não era considerada suficientemente importante para justificar uma coletiva de imprensa. O presidente tem vários tipos de conselho: o Conselho de Consultores Econômicos, os conselhos de saúde, de drogas, de geração de empregos, etc. Na maior parte das vezes, para uma nomeação como a minha, a assessoria de imprensa da Casa Branca simplesmente daria uma declaração do tipo: “O presidente Bush anunciou hoje a escolha de Arnold Schwarzenegger como chefe do President’s Council on Physical Fitness and Sports.” Em seguida viria uma árdua batalha para conquistar qualquer atenção. Mas, se a imprensa o vir sair do Salão Oval ao lado do presidente, você conquista respeito.
Bush revelou-se um defensor convicto da nossa causa – mandou sua equipe organizar o anúncio da nomeação para me fazer parecer importante. Foi tudo bastante parecido com o que Eunice havia imaginado. Fui até a frente da Casa Branca, onde os jornalistas estavam reunidos. Falei sobre ter sido escolhido, sobre o encontro no Salão Oval, sobre meu entusiasmo e minha visão, e sobre qual seria minha missão no cargo.
O desafio de ser o tsar da boa forma realmente me deixou animado. Algumas semanas depois, quando tornei a encontrar o presidente em Camp David, Maryland, já tinha feito meu dever de casa. Queria revitalizar e ampliar todos os eventos de esporte e boa forma física promovidos por JFK. Perguntara a Sarge e Eunice o que eles achavam que eu poderia fazer no cargo. Meus sogros tinham acompanhado de perto o governo JFK – qual era a visão dele? Por que ele promovia eventos em prol da boa forma no gramado em frente à Casa Branca? Anotei tudo o que eles disseram. Tive reuniões com o Departamento de Saúde e Serviços Humanos, com o Departamento de Agricultura e com representantes da Casa Branca. Foi assim que comecei a estabelecer meus objetivos. Também falei com especialistas como John Cates, da Universidade da Califórnia em San Diego, responsável pela implementação dos primeiros acampamentos de boa forma para jovens do país. Assim, consegui preparar uma proposta de trabalho detalhada.
– O conselho pensa pequeno – falei para o presidente Bush. – Precisamos mudar isso.
Descrevi como iria agitar as coisas na capital para fazer os departamentos responsáveis por saúde, educação e nutrição agirem em conjunto em uma campanha nacional em defesa da boa forma. Também tornaríamos a questão muito mais visível na Casa Branca.