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– Que tal fazermos uma demonstração pública de atividades físicas no gramado da Casa Branca nesta primavera? – sugeri.

Esbocei como essa ideia iria funcionar: montaríamos estações de golfe, tênis, ginástica aeróbica, musculação, beisebol, escalada em corda e outros exercícios que uma pessoa normal pudesse fazer. Convidaríamos instrutores, atletas, pais, avós e crianças, além da imprensa nacional, sobretudo os programas matinais.

– Vamos fazer todo mundo participar – falei. – Então Barbara e o senhor podem aparecer para dar o exemplo e experimentar algumas atividades. Vai ser uma celebração, como o 4 de Julho, para mostrar quanto é divertido fazer exercícios.

O presidente ficou muito animado.

– Na segunda-feira, quando voltarmos para Washington, quero que você faça uma reunião com a equipe da Casa Branca para começar a organizar tudo.

Também propus revitalizar o programa de premiação presidenciaclass="underline" os certificados e as medalhas de boa forma que JFK costumava entregar.

– As pessoas tinham muito orgulho dessas condecorações – falei. – Elas geravam campeonatos nas escolas, e é assim que vamos conseguir a participação das crianças no movimento. – Essa ideia também lhe agradou.

Expliquei que minha missão seria viajar pelo país promovendo a causa. Depois de pesquisar sobre a situação real dos cuidados com o corpo nos Estados Unidos, eu percebera que teria que agir tanto no âmbito estadual quanto no local. Alguns estados tinham um conselho de boa forma, outros não. Alguns tinham programas de abrangência estadual, enquanto outros deixavam o assunto a cargo dos governos locais e das escolas. Só havia um estado que exigia a prática diária de atividade física nas escolas, do jardim de infância até o final do ensino médio. Eu tinha plena convicção de que precisava transmitir a todos os 50 estados a mensagem de que a boa forma era uma prioridade nacional.

– Você vai visitar todos os 50 estados? – indagou o presidente.

– O senhor vai ver só – respondi. – Adoro viajar, conhecer gente e vender. É o que eu sei fazer melhor.

Cerca de 15 representantes do governo participaram da primeira reunião de planejamento do Great American Workout, uma feira de ginástica, na Casa Branca. Nenhum deles concordou com a proposta. O cara do departamento que cuida dos parques disse não porque um número muito grande de pessoas iria estragar o gramado. O responsável pela segurança do público falou: “Faz muito calor em Washington em maio. As pessoas vão desmaiar, vão precisar de água e comida, e nosso orçamento não comporta isso.” O sujeito do Serviço Secreto falou: “Não podemos nos responsabilizar por tanta gente assim se o presidente for passar de estande em estande. É arriscado demais.”

Depois da reunião, comentei com Jim Pinkerton, o consultor de políticas públicas da Casa Branca com quem vinha trabalhando, que aquela tinha sido a pior reunião da minha vida. “Vou falar isso para o presidente, e o senhor deveria fazer o mesmo”, sugeriu ele.

Alguns dias depois, encontrei Bush e lhe contei a reação dos funcionários. “Ah, isso é típico do governo”, disse ele, rindo. “Sempre começa assim. Mas não desanime. Deixe comigo, vou falar com eles.”

Na reunião de planejamento seguinte, todos disseram: “É uma ótima ideia. Encontramos um jeito de contornar os problemas. Vai ser bem complicado, mas o presidente faz questão.”

Então, no dia 1o de maio de 1990, uma terça-feira, precisamente às 7h19, o presidente e a primeira-dama passaram pelas portas da Casa Branca para participar do primeiro Great American Workout anual. Dois mil visitantes já ocupavam o Gramado Sul, entretidos com as atividades que havíamos montado: dança aeróbica, aparelhos de musculação, lançamento de ferradura, cestas de basquete, futebol e brincadeiras com bola. As câmeras acompanhavam o casal Bush de atividade em atividade. Tínhamos criado um espetáculo que deixaria até mesmo JFK impressionado e que conseguia deixar claros ao mesmo tempo a importância e o prazer da prática de exercícios físicos.

Na véspera, tínhamos feito um ensaio geral. Não pensei muito a respeito na ocasião, mas assistir aos preparativos me fez aprender coisas que viria a usar mais tarde em minhas próprias campanhas. Pude observar em primeira mão o planejamento e a montagem de um evento para a imprensa: do que se quer que os jornalistas participem, do que não se quer que participem, quando e como eles devem ser convidados etc. O Great American Workout durou oficialmente das sete às nove da manhã. Aprendi que o presidente apareceu às 7h19 justamente por ser esse o horário de pico de audiência dos programas Today e Good Morning America. Até então, eu já tinha feito dezenas de participações em programas matinais na TV sem jamais prestar atenção ao horário previsto para minha entrada no ar. Daí em diante, porém, sempre insisti em aparecer em algum momento por volta das 7h30.

POUCO DEPOIS DO GREAT WORKOUT, tirei uma folga do papel de tsar da boa forma para ir a Cannes. Minha principal missão era promover O vingador do futuro, cujo lançamento estava marcado para aquele mês de junho. Durante a viagem, porém, a bordo do jatinho da Carolco Pictures, a produtora do filme, o único assunto das conversas era O exterminador do futuro 2. Jim Cameron acabara de concluir o trabalho com seu corroteirista e prometera levar o roteiro pronto para que todos pudessem ler. Ele distribuiu as cópias logo depois da decolagem. Quando o avião pousou, já tínhamos terminado e estávamos animadíssimos com o potencial e a sofisticação tecnológica da história. Eu sabia que O exterminador do futuro 2 não seria uma continuação qualquer: Cameron acredita muito em surpreender o público, e eu tinha certeza de que o novo filme seria tão incrível e inesperado quanto o original. Mas aquele roteiro me deixou de queixo caído. Fiz várias perguntas sobre o T-1000, vilão multiforme que meu personagem teria que enfrentar – eu não conseguia sequer imaginar uma máquina feita de liga de metal líquido. Foi então que entendi que os conhecimentos científicos de Cameron e sua familiaridade com o mundo futurista eram fora de série. Quando chegamos a Cannes, os distribuidores estrangeiros ficaram loucos pelo roteiro e mal puderam esperar para assinar os contratos. Ninguém deu a menor bola para o fato de que a produção do filme iria custar 70 milhões de dólares – mais de 10 vezes o orçamento do primeiro. Todos sabiam que seria um enorme sucesso.

Desde o início, O exterminador do futuro 2 estava programado para ser bem mais ambicioso que o original. Além de seu orçamento gigantesco, ele levou oito meses para ser filmado, em vez de seis semanas. Foi uma corrida contra o tempo: para cumprir os compromissos financeiros, o filme precisava estar pronto para o verão de 1991. A pré-produção foi tão complicada que as filmagens só puderam começar em outubro de 1990, e quando a produção terminou, em maio de 1991, a película já havia se tornado o projeto cinematográfico mais caro da história: 94 milhões de dólares.

“Sempre que começo um filme, tenho a fantasia de que vai ser uma grande família, de que vamos todos nos divertir e compartilhar vários momentos maravilhosos e criativos”, disse Cameron a um jornalista. “Mas fazer um filme não é isso. É uma luta.” Dessa vez, o que tornava meu papel um desafio de interpretação era que, conforme a trama avançava, o Exterminador começava a adotar padrões de comportamento humanos. Fazer o personagem de uma máquina evoluir era um exemplo típico da genialidade de Cameron. O menino diz ao Exterminador: “Prometa para mim que não vai mais matar”, e o manda falar menos como um pateta e mais como uma pessoa. Então o papel exige que eu deixe de ser uma máquina de matar e me torne algo que tenta ser humano, mas nem sempre consegue. Na primeira vez que o garoto faz o meu personagem dizer “Hasta la vista, baby”, ele não soa muito convincente. O Exterminador vai se humanizando aos poucos, mas só até certo ponto. Continua muito perigoso e com grande poder de destruição. No entanto, em comparação com o T-1000, não há dúvida de que o bonzinho é ele.