Filmamos as cenas fora de ordem, de modo que sempre tínhamos que avaliar o grau certo de humanidade que o Exterminador deveria demonstrar naquele estágio da trama. Passei as primeiras semanas perguntando sem parar a Jim: “Está humano de mais ou de menos?”
No quesito efeitos especiais, O exterminador do futuro 2 trouxe possibilidades inteiramente novas. O T-1000 é de metal líquido e tem a capacidade de se metamorfosear bem diante dos seus olhos e assumir a forma de qualquer pessoa ou objeto que toque. Foi a equipe de computação gráfica que teve que enfrentar esse desafio, mas o filme também exigiu um trabalho hercúleo dos atores e dublês. Cameron pressionava o irmão, Mike, responsável pela criação de adereços e pelas cenas de ação, que por sua vez tentava se superar e repassava a pressão para nós.
Começamos a ensaiar as cenas de ação meses antes de filmar. Na espetacular sequência de perseguição nos canais de drenagem de Los Angeles, o Exterminador tem que atirar com uma só mão usando uma espingarda calibre 10 de cano serrado ao mesmo tempo que pilota uma Harley. Ele precisa sacar a arma, mirar, disparar, girá-la para recarregar, atirar outra vez e assim por diante. No roteiro, tudo parecia incrível e executável – era apenas uma questão de ensaiar sem parar. Mas a preparação foi um calvário de dor e desconforto. Eu não podia usar uma luva, porque ela ficaria presa no mecanismo da espingarda, e feri a pele da mão e dos dedos ao longo das 100 vezes que treinei até aprender o movimento. Depois tive que aprender a executar o movimento ao mesmo tempo que pilotava a Harley. A seguir precisei fazer as duas coisas enquanto interpretava o personagem. Quando se está pilotando uma moto, é difícil olhar para a frente e para onde o diretor quer que você olhe. Em uma das cenas, eu tinha que empinar a roda dianteira da moto em movimento até quase tocar a lente da câmera, que estava montada em um caminhão à minha frente. Simultaneamente, precisava atirar e não olhar para baixo. Se meu olhar começasse a se desviar para qualquer lado, estragaria a tomada.
Eu também tinha que chegar de moto a um portão fechado por uma corrente e explodir o cadeado com um tiro antes de passar derrubando tudo. Levei semanas treinando para essa cena, primeiro só com a espingarda, depois com a moto, e finalmente para conseguir fazer tudo isso com tranquilidade. Fiz a decolagem de um salto espetacular com a moto para dentro do leito seco do canal. Os dois outros protagonistas adultos – Linda Hamilton no papel de Sarah Connor e Robert Patrick como T-1000 – também tiveram que dar duro. Para parecer convincente na pele de uma guerreira sobrevivente, Linda passou por uma preparação física de muitos meses, três vezes ao dia. As cenas de ação eram tão grandiosas que exigiram que suássemos a camisa bem mais que no primeiro filme da série.
De tantas em tantas semanas, nos intervalos das filmagens, eu me metamorfoseava de Exterminador em tsar da boa forma do presidente Bush. O cargo e minha amizade com o presidente logo passaram a ocupar uma grande parte da minha vida. O cachê que recebi pela participação no filme incluiu um jatinho Gulfstream III, perfeito para percorrer o país. Meu plano era ir a todos os 50 estados americanos durante o primeiro mandato de Bush. Tinha três anos para fazer isso. Peguei um mapa e verifiquei quais estados ficavam próximos uns dos outros. Minha ideia era agrupá-los e, sempre que tivesse alguns dias livres de filmagens e outros compromissos, visitar de quatro a seis por vez – deixando uma margem para improvisações, é claro, pois os governadores nem sempre estavam disponíveis ao mesmo tempo que eu. Muitas vezes, quando tinha outros assuntos para resolver – algum seminário, um campeonato em Columbus ou férias no Havaí –, eu organizava uma visita aos estados próximos.
Nos encontros com os governadores, eu sempre lhes garantia que aquilo não era uma questão política, mas apenas algo ligado à boa forma física e aos esportes. Muitos deles achavam difícil entender isso. “O Exterminador veio da Casa Branca republicana para me denunciar como alguém que não dá atenção suficiente às crianças”, pensavam, com medo de que eu chegasse como um rolo compressor e criasse uma situação constrangedora para eles. No entanto, sempre deixei bem claro, desde o início, que a intenção não era essa. Eu não estava pregando uma filosofia republicana, mas uma filosofia da boa forma. A notícia se espalhou e de repente os governadores começaram a ficar mais à vontade. Passei a ser bem recebido e todos embarcaram na cruzada em prol da boa forma.
Ver de perto como funcionam os governos estaduais e locais foi um aprendizado imenso, inestimável. Nunca tinha testemunhado tantos defensores da boa forma surgirem da noite para o dia. Percebi que podíamos visitar dois estados por vez. Em geral, eu tomava o café da manhã com o governador ou governadora e então conversava com ele ou ela sobre estratégias para melhorar a forma física da população do estado. Como cada lugar tinha suas particularidades, precisei estudar. Então íamos a uma escola e fazíamos uma aula de educação física junto com os alunos. Depois dávamos uma coletiva de imprensa. Em alguns estados, essas coletivas foram enormes: um ginásio inteiro lotado de pais e alunos nos acolhia ao som da banda da escola. Eu sempre dava de presente ao governador do estado um casaco esportivo feito sob medida por Tony Nowak com o logo do President’s Council, ajudava-o a vesti-lo e ele então tirava uma foto rodeado de crianças.
O último passo era sempre uma “cúpula da boa forma”, para a qual convidávamos representantes do Departamento de Educação e do Departamento de Saúde e Serviços Humanos, a equipe do governador, funcionários de escolas, donos de academias, representantes da Associação Cristã de Moços, da American Alliance for Health, Physical Education, Recreation and Dance (Aliança Americana para a Saúde, Educação Física, Recreação e Dança) e assim por diante. Em geral lotávamos uma sala de reuniões com 50 a 100 pessoas. Falávamos sobre como era importante que as crianças estivessem em forma e sobre os riscos que a falta de exercícios acarretava à saúde. Os convidados da cúpula, então, faziam sugestões sobre como poderíamos trabalhar juntos e, finalmente, tornávamos a embarcar no avião, seguíamos para outro estado e repetíamos exatamente a mesma rotina depois do almoço.
Mais tarde, percebi que esse processo era bem semelhante a uma viagem de campanha política. A agenda é apertada: você tem que chegar pontualmente, fazer o discurso, animar todo mundo. A banda escolar o recebe, os políticos do estado aparecem para angariar apoio. Depois de ser tsar da boa forma, candidatar-me a governador da Califórnia me pareceu um déjà-vu.
Um detalhe interessante foi que ninguém jamais questionou o fato de eu usar meu próprio avião. Se alguém perguntasse “Quem está pagando por isso, o governo?”, seria bom poder responder: “Não, quem está pagando por tudo sou eu. Inclusive o material impresso. Não estou fazendo isso por dinheiro, mas para retribuir de alguma forma o bem que eu recebo. Meu talento é a boa forma física, então essa é uma área em que posso ser útil.” A sensação de estar repetindo as palavras de Sarge era incrível.
Essas cúpulas da boa forma funcionaram para mim como um curso intensivo de política. Na Califórnia, quando estimulei os participantes da reunião a dar mais ênfase à educação física nas escolas, eles pularam no meu pescoço.
– Bom, então diga a nosso governador para investir mais na educação, aí vamos poder contratar professores de educação física.
– Mas nós estamos em recessão e, até onde sei, nosso estado está arrecadando menos, ou seja, o governador não tem dinheiro para isso.