Выбрать главу

Só testemunhei assuntos sérios em Camp David uma única vez. Evidentemente, a sala de reuniões que em geral servia como centro de comando para o presidente ficava fora da área permitida aos hóspedes. Em uma tarde de fevereiro de 1991, porém, durante uma de minhas visitas, estava sentado em meu quarto lendo um roteiro quando o presidente me chamou: “Venha conhecer o pessoal.”

Eles estavam descansando em volta da grande mesa, no meio de uma pausa para o lanche. Bush me apresentou e disse: “Estamos aqui tomando importantes decisões sobre a guerra no Oriente Médio.” A fase de ataques aéreos da Operação Escudo do Deserto já havia começado, e fazia muitos meses que os Estados Unidos e seus parceiros da coalizão estavam reunindo suas forças blindadas. “Olhe só essas imagens”, continuou o presidente, mostrando-me fotos de reconhecimento aéreo. Então exibiu o vídeo feito por uma câmera presa ao capacete do tripulante de um tanque, indicando como estavam próximos da fronteira. As divisões blindadas faziam manobras, fingiam atacar a fronteira e depois recuavam, e ele explicou que algum dia, em breve, elas iriam simplesmente continuar avançando até entrar no Kuwait e no Iraque. “Eles vão ser pegos de surpresa, e ao mesmo tempo vão ser atacados por...”, e me mostrou as posições no Golfo Pérsico dos navios dos quais a marinha estava pronta para lançar mísseis de cruzeiro, além de um desembarque anfíbio de fuzileiros navais. “Vai ser um ataque tão poderoso que eles não vão nem acreditar”, comentou.

O planejamento da guerra, então, recomeçou do ponto em que havia parado, de modo informal, em volta daquela mesa. A intensidade e o foco da conversa me lembraram os de uma sala de cirurgia. Sim, aqueles homens estavam lidando com a vida e a morte, mas já tinham tomado decisões iguais àquela antes e sabiam o que tinham que fazer. Ninguém estava em pânico. O tom informal era apenas um reflexo de Camp David – a atmosfera era menos tensa que na Casa Branca, e era por isso que eles preferiam se reunir ali.

Quando todos terminaram de comer, o presidente falou: “Vou mostrar a Arnold o cavalo dele e volto daqui a 20 minutos.”

Fui embora no dia seguinte sabendo que a guerra em terra iria começar dali a 48 horas. Era uma quinta-feira, e o ataque seria em 23 de fevereiro. Passei esse tempo todo pensando: “Eu sei uma coisa que ninguém mais sabe – nem a imprensa –, a não ser as pessoas que estavam naquela sala.” O fato de o presidente Bush ter depositado essa confiança em mim teve um efeito poderoso. Senti que nunca, jamais haveria uma ocasião, fosse ela qual fosse, em que eu violaria essa confiança ou decepcionaria aquele homem.

O RESTO DE 1991 FOI PERFEITO PARA MIM: em casa, no conselho e no cinema. O exterminador do futuro 2 – O julgamento final estreou nos cinemas no fim de semana do 4 de Julho e logo se tornou o maior sucesso de bilheteria da minha carreira. Apenas três semanas depois, Christina veio ao mundo. Também me tornei o orgulhoso proprietário do primeiro Hummer civil, cujo equivalente militar, o HMMWV, ou Humvee, tivera uma participação decisiva na Guerra do Golfo. Eu havia conhecido o Humvee no verão anterior, no Oregon, durante as filmagens de Um tira no jardim de infância. Vi passar um comboio desses veículos do exército e me apaixonei. Era o utilitário mais bonito e mais robusto que eu já vira. Tinha itens de fábrica que as pessoas gastavam milhares e milhares de dólares para acrescentar como opcionais em seus jipes ou Blazers da Chevrolet: rodas e espelhos extragrandes, carroceria elevada, faróis suplementares incluindo infravermelhos, protetor frontal e um guincho para poder sair de enrascadas. O Humvee já tinha um aspecto poderoso sem que se precisasse acrescentar nada!

Eu não apenas queria um carro daqueles para uso pessoal como tive certeza de que, se conseguisse convencer o fabricante a fazer uma versão para o grande público, haveria um mercado prontinho para ele. Foi esse o meu discurso quando me reuni em Lafayette, Indiana, com o presidente executivo e outros diretores da AM General, empresa que fabricava o Humvee para as Forças Armadas. Consegui autorização para comprar um modelo da versão militar, então entreguei o veículo a outra empresa com a instrução de adequá-lo às normas de trânsito e tornar o interior mais urbano. Depois disso, devolvi o carro à AM General e falei: “Agora copiem isto aqui.” A empresa seguiu minhas instruções, e foi por causa disso que o Hummer, quando chegou ao mercado, foi identificado tão fortemente com minha imagem.

Também tive uma aventura empresarial interessante nesse mesmo ano. Em outubro, juntei-me a Sylvester Stallone e Bruce Willis para a inauguração oficial de uma nova e reluzente máquina de fazer dinheiro: uma cadeia de restaurantes e merchandising de celebridades chamada Planet Hollywood. Todas os famosos que se podia imaginar apareceram. Não foi apenas um evento, mas o início de um império.

A ideia era abrir filiais do Planet Hollywood no mundo inteiro e transformá-las em um ímã para os apaixonados por astros do cinema americano. Os restaurantes seriam decorados com itens e objetos de cena cinematográficos – como por exemplo o macacão de aviador de Tom Cruise em Top Gun – Ases indomáveis, o maiô de Jayne Mansfield em Sabes o que quero e uma motocicleta de O exterminador do futuro. Os restaurantes promoveriam estreias, receberiam a visita de atores e atrizes e venderiam jaquetas, camisetas e outros suvenires exclusivos. A ideia fora de Keith Barish, produtor de cinema, e Robert Earl, responsável pela criação da cadeia mundial de restaurantes temáticos de música Hard Rock Café. Keith convencera Robert de que restaurantes com o tema Hollywood poderiam fazer ainda mais sucesso que os de música – sobretudo agora que a Cortina de Ferro caíra e que o mundo inteiro estava aberto à influência da cultura americana. Os dois me falaram sobre a ideia. “Gostaríamos que você fosse nosso sócio”, disseram. “Não queremos uma celebridade maluca que não entenda nada do assunto. Você tem tino para negócios e é o astro número um de Hollywood. Se entrar nessa, outros virão atrás.”

Achei o plano bacana, e a notícia logo se espalhou. Em pouco tempo, meu advogado, Jake Bloom, que também representava Sly e Bruce, disse que os dois estavam querendo entrar no negócio.

– Você se importa? – perguntou.

– É claro que não – respondi.

Fiquei particularmente feliz pelo interesse de Sly. Jake sabia que Stallone e eu tínhamos uma rixa de anos que remontava à época de Rocky e Rambo, quando ele era o mais importante herói de ação e eu vivia tentando me igualar a ele. Quando fiz Conan, o destruidor, lembro que comentei com Maria: “Finalmente vou ganhar 1 milhão de dólares por um filme, mas agora Stallone está ganhando 3. Tenho a impressão de que não evoluí nada.” Para me motivar, passara a visualizar Stallone como meu arqui-inimigo, da mesma forma que havia demonizado Sergio Oliva quando estava tentando conquistar o título de Mister Olympia. Passei a detestá-lo de tal forma que comecei a criticá-lo em público, falando mal de seu corpo e de seu jeito de se vestir, e minhas declarações saíram na imprensa.