Não podia culpá-lo por ter revidado. Na verdade, ele havia intensificado a rixa vazando secretamente para a mídia informações negativas sobre mim. Durante algum tempo, Sly chegou a pagar as contas do advogado de um jornalista britânico que eu havia processado por difamação. Mas o tempo havia passado, eu tinha me tornado muito mais confiante em relação à minha posição de estrela do cinema e queria me entender com ele. Falei para Jake: “Diga que vai ser um prazer tê-lo conosco, e que essa é a minha forma de deixar todas as nossas diferenças para trás e fazer as pazes.”
Assim, Sly, Bruce e eu nos tornamos uma equipe. Íamos de avião às inaugurações dos restaurantes, cumprimentávamos as celebridades locais, acenávamos para as câmeras, falávamos com a imprensa e fazíamos o possível para recompensar a lealdade dos fãs. No avião, Sly e eu fumávamos charutos e contávamos piadas. Nunca mencionamos a briga. Adotamos a atitude masculina típica: negamos os fatos como se nunca tivesse havido problema nenhum e nada jamais houvesse ocorrido. Foi assim que seguimos em frente.
Mesmo com tudo isso acontecendo, eu podia sentir que estava começando a ficar inquieto. A sensação me lembrou a ansiedade que sentira depois que venci o Mister Olympia pela terceira ou quarta vez. De repente, ter o corpo mais musculoso do mundo não significava tanta coisa assim. Fora uma fase pela qual eu tivera que passar, um meio necessário para alcançar um fim: o fisiculturismo me levara aos Estados Unidos e me permitira entrar para o cinema. Mas eu havia superado essa fase da mesma forma que deixara de brincar com trenzinhos de madeira quando criança. É claro que continuava querendo promover a boa forma física e o fisiculturismo como esporte. Mas ser o homem mais musculoso do mundo não significava mais nada para mim.
O desafio seguinte tinha sido me tornar o maior dos astros de filmes de ação. Depois de algum tempo, também conseguira alcançar esse objetivo. Então me dedicara à etapa seguinte: comédias. Mas sempre soubera que isso também iria passar.
Nos sete anos de intervalo entre as duas partes de O exterminador do futuro, meus sentimentos em relação à indústria do cinema tinham mudado. Ao longo dos anos 1980, eu emendava um filme no outro com entusiasmo. Estava mirando bem lá no topo, tentando dobrar meu cachê a cada projeto, emplacar o campeão de bilheteria e ser o maior de todos os astros. Eu literalmente odiava ter que dormir. Quando fiz O exterminador do futuro, sonhava em ser capaz de viver sem precisar descansar, como uma máquina. Assim poderia trabalhar a noite inteira no set com Jim Cameron e de manhã simplesmente trocar de roupa e ir fazer outro filme com um diretor diferente. “Não seria genial?”, pensava. “Eu poderia fazer quatro filmes por ano!”
Agora, porém, depois de O julgamento final, eu via as coisas de forma totalmente diferente. Minha família estava crescendo. Eu queria ter uma vida boa. Queria passar mais tempo com minha mulher e minhas filhas, ver Katherine e Christina crescerem, poder frequentar eventos com elas, fazer viagens nas férias... Queria estar em casa quando elas chegassem da escola.
Assim, tentei bolar um jeito de equilibrar meu tempo. Pensei que fazer um filme por ano talvez fosse o ideal. As pessoas agora já aceitavam o fato de que eu era um dos astros mais importantes da indústria, de modo que eu não precisava provar mais nada. No entanto, elas esperavam mais filmes, então eu precisava ter o cuidado de estrelar as produções certas. Se ouvisse uma ideia ou lesse um roteiro excelente, que despertasse alguma coisa em mim, queria estar disponível para embarcar nesse projeto. Mas o mundo também me oferecia outras oportunidades, e atuar já não era mais suficiente.
Pensei que talvez o jeito de me manter motivado fosse fazer como Clint Eastwood: incrementar a carreira de ator com a ocasional direção e produção de um filme – às vezes atuando ao mesmo tempo. Novos desafios me atraíam, assim como novos riscos. Clint era uma das poucas personalidades hollywoodianas que tinham a cabeça no lugar. Era bom nos negócios, nunca perdia dinheiro e era sensato em seus investimentos. Vivia se envolvendo em projetos nos quais acreditava com fervor, como seu restaurante e seus campos de golfe no norte da Califórnia. Eu o idolatrava desde que chegara aos Estados Unidos. Não sabia se tinha esse tipo de talento, mas talvez pudesse tentar ser como ele quando atuar passasse definitivamente a não ser mais o bastante para mim e eu estivesse à procura de um novo desafio.
Havia um caminho radicalmente diferente que eu podia me ver seguindo. Clint tinha sido eleito prefeito de sua cidade natal, Carmel, na Califórnia. A carreira política também me atraía, embora na época eu ainda não soubesse qual cargo poderia vir a tentar ocupar. Mesmo assim, não havia como não ser influenciado pela convivência com as famílias Shriver e Kennedy, apesar de estarmos em lados politicamente opostos.
Em novembro de 1991, Richard Nixon deu um empurrãozinho surpresa para que eu me candidatasse a um cargo político. Ele me convidou para passar em seu escritório antes de um evento beneficente em sua biblioteca presidencial, marcado para algumas horas depois da inauguração da Biblioteca Reagan. Eu sabia que Nixon era odiado por muita gente e estava a par do escândalo de Watergate e das dificuldades que ele obrigara o país a atravessar. Tirando isso da equação, porém, tinha admiração por Nixon e o considerava um presidente fantástico. Acho que sabia que eu era seu fã, pois eu tecera elogios a ele para a imprensa mesmo no auge de sua impopularidade. Adorava especialmente falar sobre ele, pois tenho um lado que gosta de ser rebelde e chocar os outros.
Quando me convidou para o evento por telefone, ele falou: “Quero que você se divirta, Arnold.”
Na verdade, sem me avisar, ele estava armando o cenário para que eu fizesse um discurso. Sem desconfiar de nada, aceitei e levei meu sobrinho Patrick, filho de meu falecido irmão e de sua noiva, Erika Knapp. Agora um rapaz de 20 e poucos anos, Patrick havia se formado pela Faculdade de Direito da Universidade do Sul da Califórnia e fora contratado por meu advogado, Jake Bloom, especializado na área de entretenimento. Eu adorava acompanhá-lo e lhe ensinar os macetes do ofício. Assim, fomos juntos cumprimentar o ex-presidente no evento beneficente, que atraiu cerca de 1.300 convidados.
Nixon era muito atento às pessoas. Sabia ler os pensamentos alheios, e isso me deixava impressionado.
– Arnold, quero que você venha à minha sala – disse ele.
– Meu sobrinho pode ir também?
– Claro.
Logo que entramos em sua sala, ele fechou a porta e me extraiu informações sobre todo tipo de coisa: o que eu andava fazendo, como estava minha carreira no cinema, por que eu era republicano, por que me envolvera com política. Depois de responder, eu lhe disse o que realmente pensava:
– Vim para os Estados Unidos porque aqui é o lugar mais incrível do mundo, e vou tentar fazer tudo o que puder para mantê-lo assim. Para isso acontecer, não podemos ter imbecis se candidatando à presidência e frequentando a Casa Branca. Precisamos de bons líderes e temos que implementar os objetivos e fazer com que eles sejam os mesmos nos estados e nas cidades. Então eu quero sempre ter a certeza de que estou votando na pessoa certa e fazendo campanha pela pessoa certa. Preciso saber que ideais elas defendem, em quem votaram no passado, de que maneira representam seu estado, se foram grandes líderes, esse tipo de coisa.