A trama gira em torno de um garoto de 11 anos chamado Danny Madigan, o maior fã de filmes de ação de todos os tempos. Sua obsessão o faz saber tudo sobre o gênero. Danny arruma um ingresso mágico que lhe permite entrar no mais novo filme estrelado por Jack Slater, seu herói preferido.
Fiquei feliz em conseguir contratar John McTiernan, que havia dirigido Predador, assim como Duro de matar e Caçada ao Outubro Vermelho. John tem sempre uma visão muito clara, mas, no caso de O último grande herói, esse foi justamente o primeiro indício de problemas. Certa noite, em Nova York, estávamos tomando um drinque depois de filmar até as três da manhã quando ele disse: “Na verdade, estamos fazendo o E.T.” Quando escutei isso, tive a desanimadora sensação de que era um erro classificar o filme como censura 14 anos. Embora fosse coestrelado por um menino, as pessoas talvez não acreditassem na minha atuação em um filme de ação para a família. Isso funcionara para Harrison Ford em Os caçadores da arca perdida, mas não daria certo para mim. Eu até já tinha participado de comédias, mas era diferente, porque em um filme de humor ninguém espera que você mate inimigos. Quando se está vendendo uma obra com a palavra ação no título – em inglês ela se chama The Last Action Hero, “o último herói de ação” –, é isso que o público vai querer ver. Conan II dera errado porque nós o havíamos adaptado para um público a partir de 12 anos. Agora estávamos apostando que conseguiríamos reunir cenas de ação incríveis e energia suficiente para que O último grande herói fizesse jus ao gênero ao qual pertencia.
A ideia de um filme de ação mais suave e fofinho parecia a escolha certa para a época. O governador do Arkansas, Bill Clinton, acabara de derrotar George Bush na eleição presidencial de 1992, e os meios de comunicação vinham divulgando histórias sobre membros da geração do baby boom que estavam substituindo os da geração da Segunda Guerra Mundial e sobre como os Estados Unidos estavam agora seguindo uma direção oposta à da violência. Os jornalistas de entretenimento diziam: “Pergunto-me o que isso significa para os heróis de ação conservadores da pesada como Sylvester Stallone, Bruce Willis e Arnold Schwarzenegger. Será que o público agora quer mais é paz e amor?” Era essa a tendência, e eu queria acompanhá-la. Assim, quando o pessoal da empresa de brinquedos apareceu com seus protótipos para os bonecos Jack Slater, vetei as armas de combate que estavam propondo. “Estamos nos anos 1990, não 1980”, falei. Em vez de empunhar um lança-chamas, o boneco dava um soco e dizia: “Errou feio!” – que era o bordão de Slater contra os inimigos. A caixa do brinquedo dizia: “Seja esperto. Nunca brinque com armas de verdade.”
Investimos pesado em merchandising e promoção. Além dos brinquedos, licenciamos sete tipos de videogame, fizemos uma ação com a rede Burger King que custou 20 milhões de dólares, bolamos um “filme montanha-russa” de 36 milhões para ser exibido em parques de diversões e – minha estratégia predileta – criamos o primeiro anúncio pago a ser veiculado no espaço, pela NASA. Pintamos o título do filme e Arnold Schwarzenegger nas laterais de um foguete e fizemos um concurso nacional cujos vencedores ganhariam o direito de apertar o botão de lançamento. Montamos um boneco inflável de Jack Slater da mesma altura de um prédio de quatro andares em cima de uma jangada perto da praia durante o Festival de Cinema de Cannes, em maio, e lá bati meu recorde pessoal dando 40 entrevistas para a TV e 54 para a imprensa escrita em um período de 24 horas.
Enquanto isso, a produção estava atrasada. Em nossa única exibição teste, no dia 1o de maio, o filme ainda estava tão cru que tinha duas horas e 20 minutos e não dava para se entender quase nenhum diálogo. No final, o público estava entediado. Depois disso, o cronograma ficou tão apertado que não tivemos tempo de fazer novos testes. Fomos forçados a voar às cegas, sem o feedback para realizar os ajustes necessários. Apesar de tudo, ninguém no estúdio quis adiar a estreia, pois isso poderia transmitir a mensagem de que o filme estava com problemas, e eu concordei.
No fim das contas, muita gente gostou de O último grande herói. No cinema, porém, isso não é suficiente. Não basta as pessoas gostarem do seu filme – elas precisam ser arrebatadas. O que torna a produção um sucesso é o boca a boca, porque, embora no primeiro fim de semana você possa desembolsar 25 ou 30 milhões de dólares para promovê-lo, não pode se dar ao luxo de fazer a mesma coisa nos fins de semana seguintes.
Quando estreou, o filme tinha ótimos índices de awareness e expectativa. No primeiro fim de semana, porém, talvez por causa de Jurassic Park, as vendas de ingressos ficaram abaixo do esperado: foram 15 milhões de dólares, em vez dos 20 milhões previstos. Quando notei que as pessoas saíam das salas de cinema com uma boa impressão mas nada além disso, dizendo “Até que foi legal” e coisas do tipo, soube que era o fim. Dito e feito: no segundo fim de semana, nossa bilheteria caiu 42%.
As críticas foram muito além do filme em si. Era o fim da minha carreira. Os jornalistas atacaram tudo o que eu já fizera no cinema, como se dissessem: “O que vocês esperam de um sujeito que trabalha com John Milius e vive falando em esmagar os inimigos? É esse o mundo em que eles querem viver. Nós, por outro lado, queremos viver em um mundo de compaixão.”
A política entrou na dança. Enquanto eu emendava um sucesso no outro, nunca fora atacado por ser republicano, muito embora a maior parte de Hollywood e da imprensa especializada seja liberal. Agora que eu estava amargando um fracasso, todos soltaram o verbo. Reagan e Bush estavam acabados, os republicanos já eram – e o mesmo acontecia com os filmes de ação imbecis e toda aquela baboseira viril. Chegara a hora de Bill Clinton e Tom Hanks, de filmes com conteúdo e significado.
Encarei as críticas de maneira filosófica e tentei minimizar a situação toda. Tinha vários projetos de filmes já alinhavados – como True Lies, Queima de arquivo, Um herói de brinquedo – que bastavam para me dar a segurança de que uma produção malsucedida não teria qualquer impacto na minha carreira, no dinheiro que eu ganhava, nem qualquer outra consequência real. Disse a mim mesmo que aquilo não tinha importância, porque há momentos em que se está em alta e outros em que se está em baixa. Poderia ter acontecido com outro filme. Ou poderia ter ocorrido três, cinco anos depois.
Não importa o que você diz a si mesmo nem o que sabe: na hora em que está passando sufoco, é difícil, sim. É constrangedor fracassar na bilheteria e ver seu filme estrear mal. É constrangedor ver matérias horríveis serem publicadas a seu respeito e ouvir as pessoas começarem a tachar aquele como o ano do seu fracasso. Como sempre, duas vozinhas se digladiavam dentro da minha cabeça. Uma delas dizia: “Que droga! Ai, meu Deus, que horror.” A outra dizia: “Agora é que vamos ver se você tem garra, Arnold. Vamos ver se você tem colhões. Seus nervos são de aço? Sua pele é cascuda? Vamos ver se é capaz de sair por aí no seu conversível e sorrir para todo mundo sabendo que as pessoas acham uma porcaria o filme que você acabou de estrear. Vamos ver se consegue fazer isso.”