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Para mim o momento mais perigoso foi o do cavalo. No filme, Harry Tasker está perseguindo o terrorista que foge numa moto. Ele atravessa um parque de Washington, entra em um hotel de luxo, passa por um salão de baile, um chafariz, e vai parar dentro de um elevador cheio de pessoas de smoking e vestidos de gala, antes de finalmente encurralar o bandido no telhado. No entanto, de forma inacreditável, o terrorista acelera a moto, dá um salto espetacular e pula do prédio para dentro da piscina da cobertura de um prédio vizinho. No auge da perseguição, Harry finca as esporas no cavalo e pula do telhado para tentar ir atrás do terrorista. Na última hora, porém, o cavalo dá para trás e para derrapando – tão de repente que Harry é projetado da sela, passa por cima do pescoço do animal e acaba pendurado pelas rédeas acima da rua, a muitos andares do chão. Sua vida passa a depender do cavalo, que ele tenta convencer a se afastar da beira do edifício. Na verdade, o telhado era um set construído em estúdio, a quase 30 metros do chão. A equipe de filmagem estava com medo de o cavalo não parar a tempo e de nós dois cairmos, de modo que havia montado uma plataforma de segurança que se estendia a partir da beira do telhado, como uma sólida passarela. Isso nos impediria de cair caso o cavalo desse um ou dois passos a mais. A imagem da plataforma seria removida na versão final do filme.

Para rodar uma cena dessas é preciso um cavalo bem agitado, pois são necessárias várias tomadas. Um cavalo comum vai perceber que na verdade você não vai deixá-lo saltar. Então, depois das primeiras tentativas, ele não vai mais correr até a beirada. Em vez disso, vai desacelerar no meio do caminho e parar tranquilamente. Mas um cavalo agitado gosta tanto de saltar que vai passar o dia inteiro correndo até a beirada na esperança de que você o deixe pular. Por isso o cavalo que usamos era bastante agitado – bem treinado, mas muito agressivo. Adorei o fato de conseguir conduzir esse animal graças ao treinamento que tinha feito para o papel de Conan.

Antes de começarmos, era preciso verificar os ângulos da câmera e medir o foco. Então eu tinha que fazer o cavalo andar até a beirada do telhado e pela plataforma erguida acima do estúdio. De repente, houve um acidente: uma das câmeras suspensas caiu bem em cima da cara do cavalo. Chegou a bater no animal, não com muita força, mas o suficiente para assustá-lo. O cavalo tentou recuar, mas seus cascos começaram a escorregar na plataforma. Desmontei o mais depressa que pude, mas não tive para onde ir: estava em cima da plataforma, 30 metros acima do chão, debaixo do cavalo. Tudo o que consegui pensar foi: “Fique vivo, não caia da plataforma e tome cuidado com os cascos.” O cavalo sapateava de um lado para outro; caso pisasse em mim ou tornasse a escorregar, nós dois cairíamos. Eu sabia que pessoas haviam sobrevivido a quedas bem mais altas que aquela, mas sabia também que, nesse caso, o cavalo e eu iríamos aterrissar no chão de cimento e estaria tudo acabado.

Ninguém jamais imaginou que o simples fato de medir o foco fosse ser perigoso. Mas nosso diretor de cenas de ação, Joel Kramer, sabia que uma cena como aquela jamais fora tentada e estava atento. Eu o vi pular para cima da plataforma, segurar o cavalo e começar a acalmá-lo, fazendo-o recuar lentamente até eu conseguir sair de lá.

Meu cérebro reagiu como sempre reage quando fico a um triz do perigo: na mesma hora reprimi o ocorrido como se nada tivesse acontecido. Quando o cavalo se acalmou, voltamos a filmar a cena conforme o planejado. Mesmo assim, dei uma caixa de charutos Montecristo de presente para Joel. Todo mundo sabia que, se ele não estivesse prestando atenção em nós, o cavalo e eu provavelmente estaríamos mortos.

MARIA TINHA UM TEMPERAMENTO FORTE demais para passar muito tempo desempenhando apenas o papel de mãe. Quando chegamos à Flórida, ela já havia recomeçado a trabalhar e a pensar em futuras matérias. Quando as filmagens foram interrompidas a fim de que a produção seguisse para Rhode Island, ela e eu tiramos um dia para ir a Cuba. Americanos ainda não podiam entrar no país, mas Maria era jornalista e recebeu autorização. Ela já tinha feito umas duas entrevistas com o presidente Fidel Castro, e em uma delas lhe perguntara, sem rodeios, se ele tivera algo a ver com o assassinato de JFK. Agora estava preparando outra entrevista, e eu a acompanhei.

Para mim, o ponto alto da viagem foram os charutos. Enquanto Maria estava ocupada em reuniões, fui visitar a fábrica da Partagas, de onde saem marcas lendárias como Cohiba, Punch e Montecristo. Amo fábricas, então, sempre que um produto me conquista, sinto vontade de ver como ele é feito. Adoro observar a produção de carros, a criação de sapatos, o processo de fabricação de vidro. Adorei ir à fábrica de relógios Audemars Piguet, na Suíça, e ver os técnicos trabalhando com seus jalecos brancos, luvas, óculos e capacetes que impedem que qualquer fragmento de poeira entre no mecanismo. Também gosto dos ateliês de marcenaria da Floresta Negra, na Alemanha, onde são esculpidas estatuetas religiosas e máscaras. A fábrica cubana de charutos era um paraíso. Imagine uma sala de aula bem grande, com capacidade para 100 alunos, mobiliada com bancos e mesas de madeira como os de antigamente. Era assim, sem tirar nem pôr. Homens e mulheres sentados diante dessas mesas enrolavam os charutos, e no meio do recinto havia um tablado igualzinho ao da minha escola quando eu era menino, no qual o professor ficava sempre um pouco acima da turma. Nesse tablado, um cara sentado lia notícias em voz alta. Meu espanhol não era bom o suficiente para que eu entendesse tudo, mas as notícias estavam entremeadas de propaganda política. Para ficar sentado ali lendo-as daquele jeito era preciso ter imaginação e ser praticamente um artista do entretenimento, como Robin Williams no papel do radialista de Bom dia, Vietnã. Aquele sujeito era do mesmo tipo: falava e soltava exclamações a uma velocidade espantosa, sempre gesticulando. Tenho certeza de que isso fazia o tempo passar mais rápido para os tabaqueiros.

Fiquei pasmo ao testemunhar como os cubanos tratavam seu tabaco de altíssima qualidade como se fosse ouro. Eu já tinha visto medidas de segurança como aquelas nas minas de diamante e ouro da África do Sul, mas nunca em outro lugar. Quando os trabalhadores chegavam, entravam em fila indiana em uma sala imensa, com a umidade perfeitamente controlada, cheia de folhas penduradas – folhas compridas e largas, adequadamente tratadas e curadas. Cada tabaqueiro recebia então determinada quantidade de folhas, além de três charutos para si. Estes não eram de qualidade tão boa quanto as folhas, porém, e a regra era: “Nunca enrole um charuto para si mesmo.” No final do expediente, os trabalhadores eram revistados para verificar se todo o tabaco tinha sido corretamente utilizado.

É esse o nível de preciosidade do tabaco. A planta precisa ser cultivada e tratada de determinada maneira. Tem que ser cuidadosamente seca até adquirir uma tonalidade marrom e ficar pronta para ser enrolada. Tudo precisa ser perfeito, e os cubanos são mestres nesse ofício. Além de ter o melhor clima e o melhor solo, eles também têm tradição: várias gerações de apaixonados pela arte de “torcer” charutos, sempre em busca de novas formas de torná-los ainda mais perfeitos.