Выбрать главу

Quantas crianças de bairros pobres contam com esses recursos? Quantas aprenderam a ter disciplina e determinação? Quantas receberam incentivos que lhes permitissem vislumbrar o próprio valor?

Pelo contrário: essas crianças tinham crescido escutando que estavam encurraladas. E elas podiam ver que a maioria dos adultos à sua volta estava na mesma situação. As escolas tinham poucos recursos, os professores viviam exaustos e nem sempre eram os melhores e havia poucos mentores. As famílias eram pobres e as gangues estavam por toda parte.

Queria que aquelas crianças sentissem a própria determinação, a própria ambição e esperança, e conseguissem chegar à mesma linha de largada. Nunca foi difícil trabalhar por essas crianças, nem pensar na coisa certa a dizer. “Nós amamos você”, eu dizia. “Vamos cuidar de você. Você é incrível. Vai conseguir. Acreditamos em você, porém o mais importante é você acreditar em si mesmo. Há milhares de oportunidades à sua espera: você só precisa tomar as decisões certas e ter um sonho. Você pode ser tudo o que quiser: professor, policial, médico – nada é impossível. Pode ser uma estrela do basquete, ator. Pode ser até presidente. Tudo é possível, mas você tem que fazer a sua parte. E nós, adultos, temos que fazer a nossa.”

CAPÍTULO 21

Questões do coração

GANHAR DINHEIRO NUNCA FOI MEU único objetivo. Apesar disso, sempre considerei minha capacidade de faturamento um indicador de sucesso, e o dinheiro abria portas para investimentos interessantes. Tanto True Lies quanto Júnior foram sucessos em 1994, e com eles minha carreira cinematográfica tornou a entrar nos eixos. Trabalhei bastante e os resultados apareceram: durante o restante da década de 1990, ganhei quase 100 milhões de dólares só com os cachês das produções de que participei. A cada ano, faturava outros milhões de dólares em vídeos, distribuição em TV a cabo e reapresentação de filmes antigos. Até meu primeiro trabalho no cinema, Hércules em Nova York, estava dando lucro como filme cult, embora eu não recebesse nada por isso. Os imóveis, a cadeia Planet Hollywood, os livros e meus outros negócios rendiam mais dezenas de milhões.

Assim como muitos astros de Hollywood, eu também ganhava dinheiro fazendo comerciais na Ásia e na Europa. Nos Estados Unidos isso teria prejudicado a imagem e a marca Arnold, mas comerciais estrelados por celebridades americanas tinham prestígio no exterior, sobretudo no Extremo Oriente. Fabricantes de produtos como macarrão instantâneo, café, cerveja e Vffuy, uma bebida vitaminada japonesa, dispunham-se a me pagar até 5 milhões de dólares por anúncio. E o comercial geralmente era gravado em um dia só. O acordo sempre incluía uma “cláusula de confidencialidade” segundo a qual o anunciante não podia deixar a peça de publicidade chegar ao Ocidente. Hoje essa possibilidade não existe mais – basta gravar um comercial para ele aparecer no YouTube –, mas em meados da década de 1990 a internet não passava de uma ideia nova e esquisita.

À medida que meus interesses profissionais se diversificavam, comecei a perceber que acabaria chegando um momento em que eu não teria mais tempo de cuidar de todos eles e Ronda ficaria sobrecarregada. É bem verdade que ela estava tendo aulas de administração, mas no fundo era uma artista. Foi exatamente isso que aconteceu em 1996. Ela me procurou e disse: “É tanto dinheiro agora que não consigo dar conta. Não me sinto mais à vontade.” Eu adorava Ronda e estava decidido a jamais lhe dar a impressão de que ela estivesse sendo substituída. Prometi-lhe que ela poderia manter uma quantidade de trabalho com a qual se sentisse confortável e que, enquanto isso, eu iria arranjar alguém para me ajudar com os projetos maiores, nos quais houvesse mais dinheiro em jogo.

Sempre achei que o mais importante não é a quantidade de dinheiro que você ganha, mas quanto investe e quanto poupa. Nunca quis entrar para a longa relação de personalidades do entretenimento e do esporte que torraram toda a sua fortuna. Essa lista, assustadoramente comprida, inclui nomes como Willie Nelson, Billy Joel, Zsa Zsa Gabor, Bjorn Borg, Dorothy Hamill, Michael Vick e Mike Tyson. Todos eles tinham pessoas que cuidavam de seus negócios. Lembro-me de Burt Reynolds e seu administrador chegando a Palm Springs, cada qual ao volante de um Rolls-Royce – depois, o dinheiro acabou. Faça o que fizer na vida, você precisa ter uma mentalidade empresarial e se educar em relação ao dinheiro. Não pode simplesmente delegar tudo a alguém e dizer: “Metade tem que ficar aplicada, para podermos pagar os impostos, e a outra metade fica para mim.” Meu objetivo era ficar rico e manter minha fortuna. Não queria, de jeito algum, receber um telefonema do administrador dizendo: “Alguma coisa deu errado com a aplicação. Não vamos poder pagar seus impostos.” Eu fazia questão de conhecer cada detalhe dos negócios.

Meus interesses eram tão diversos que eu poderia ter acabado cercado por uma coleção de especialistas para me aconselhar. Em vez disso, contratei um investidor extremamente inteligente chamado Paul Wachter, meu conhecido havia muitos anos, e acompanhava o trabalho dele de perto. Paul era amigo de longa data de meu cunhado Bobby Shriver – os dois tinham ficado mais íntimos quando trabalharam como assistentes de juízes em Los Angeles, depois da faculdade de direito, que cursaram nos anos 1970 – e tínhamos nos tornado bem próximos. Não seria de imaginar que eu fosse ter grandes coisas em comum com um banqueiro e advogado judeu do Upper East Side de Manhattan, que jamais, em toda a sua vida, pusera o pé em uma sala de musculação ou em um set de filmagem. Os outros achavam estranho que nos déssemos tão bem. Só que Paul tinha uma herança austríaca forte: seu pai era um vienense que sobrevivera ao Holocausto e sua mãe vinha de uma região da Romênia na qual se falava alemão, e esse fora o principal idioma de Paul quando criança. Além disso, ao contrário de muitos imigrantes que chegaram aos Estados Unidos após a Segunda Guerra, o pai dele mantivera fortes laços com o Velho Mundo. Na realidade, ele importava e exportava presunto e outros derivados de carne entre os Estados Unidos e lugares como Polônia e Bavária. Na infância, Paul costumava passar os verões na Europa, e já mais velho tinha trabalhado como instrutor de esqui nos Alpes austríacos.

Em comparação com a maioria dos americanos, ele pensava de forma bem parecida com a minha. Ambos tínhamos o cenário alpino correndo nas veias: paisagens cheias de neve, florestas de pinheiros, imensas lareiras e chalés. Quando eu disse a Paul que sonhava construir para minha família um grande chalé com vista para Los Angeles, por exemplo, ele entendeu. Éramos, os dois, extremamente competitivos, e eu costumava desafiá-lo no tênis e no esqui. Graças a seu pai, de quem eu também gostava muito, Paul entendia a mentalidade de um imigrante que chegava aos Estados Unidos, começava um negócio e alcançava o sucesso.

Portanto, Paul era um cara em quem eu confiava e que também era engraçado e atlético – alguém com quem eu podia conversar, praticar esqui, tênis e golfe, viajar e fazer compras. Essas coisas são importantes para mim. Nunca gostei de relações de negócios que se limitassem a trabalho. Nisso, Maria e eu somos muito diferentes. Ela foi criada em um mundo no qual uma linha clara separava os amigos dos empregados. No meu caso, esse limite praticamente não existe. Acho ótimo trabalhar com pessoas das quais também posso ser amigo, com quem posso fazer rafting, visitar a Áustria e subir trilhas em montanhas. Além disso, pareço uma criança: adoro me exibir e compartilhar experiências. Se eu for até o alto da Torre Eiffel e tiver um almoço extraordinário lá, e se depois da refeição aparecer alguém com um carrinho contendo 5 mil charutos e eu gostar do modo como o charuto for apresentado e aceso, quero que todos os meus amigos vivam a mesma experiência. Então, em minha visita seguinte ao exterior para promover um filme, dou um jeito de levar alguns deles ao mesmo lugar. Quero que visitem a Ópera de Sydney, que conheçam Roma. Quero que assistam a um jogo da Copa do Mundo de futebol.