A diferença entre os que se adaptavam e os que não se adaptavam à carreira política, segundo Gorton, era a disposição para o comprometimento total. Os outros consultores disseram que eu teria que aguentar críticas jamais imaginadas da imprensa, que precisaria me tornar especialista em assuntos politicamente controversos e que necessitaria obter contribuições para a campanha. O orgulho que eu sentia de minha independência financeira era tamanho que eles perceberam quanto esse último obstáculo seria difícil para mim.
O que mais me deixou surpreso, porém, foi o nível de entusiasmo na sala. Pensei que todos fossem me dizer que aquele não era um bom caminho para mim e que talvez eu devesse tentar ser embaixador ou algo do tipo. Tinha sido assim que as pessoas na Áustria haviam reagido quando eu afirmara que queria ser campeão de fisiculturismo. “Na Áustria, as pessoas viram campeãs de esqui”, disseram. E os agentes de Hollywood tinham tido a mesma reação quando eu dissera que pretendia me tornar ator. “Por que você não abre uma academia?”, perguntaram. Mas eu podia ver que aqueles especialistas em política não estavam simplesmente me dando falsas esperanças. Eles me conheciam graças à campanha que eu fizera por Wilson. Sabiam que eu era engraçado. Sabiam que era bom orador. Eles me viam como uma possibilidade concreta.
AO LONGO DAS SEMANAS SEGUINTES, passei bastante tempo viajando: fui a Las Vegas para participar dos Inner-City Games – uma iniciativa para afastar os jovens das gangues de rua, das drogas e da violência –, depois a um evento de divulgação do Hummer em Nova York, em seguida visitei Guam, a colônia americana na Micronésia, participei de uma estreia de filme em Osaka, no Japão, e passei a Páscoa com Maria e as crianças em Maui, no Havaí. Nos intervalos, porém, comecei a sondar alguns amigos. Fredi Gerstl, meu mentor na Áustria, manifestou total apoio. Na sua opinião, não havia nada mais difícil que ser um bom líder político – eram vários interesses envolvidos, muitos eleitores, diversos obstáculos inerentes. Era como ser capitão do Titanic em comparação com pilotar uma lancha. “Se você gosta de desafios, esse é o maior que existe”, declarou ele. “Vá em frente.”
Paul Wachter, meu consultor financeiro, disse que não havia ficado surpreso – já sentira, no último ano, que eu estava ficando inquieto –, mas se sentiu obrigado a me lembrar do dinheiro do qual eu teria que desistir caso mudasse de carreira. Ele gostava muito de ver os cachês de 25 milhões de dólares do cinema entrando. Observou que, caso eu fosse eleito, teria que abrir mão de dois filmes por ano, que me pagariam no mínimo 20 milhões cada um, e além disso gastar milhões de dólares da minha própria fortuna em despesas pessoais que não seriam dedutíveis dos impostos. Não era exagero dizer que o custo total para o meu próprio bolso, em dois mandatos, poderia ultrapassar os 200 milhões de dólares.
Outro amigo próximo com quem eu queria conversar era Andy Vajna. Junto com seu sócio, Mario Kassar, ele havia produzido O vingador do futuro e O exterminador do futuro 2, e detinha os direitos para fazer O exterminador do futuro 3. Andy é húngaro-americano, imigrante como eu, e além de ser bem-sucedido em Hollywood tem cassinos na Hungria e outros negócios nos Estados Unidos. Afora isso, já havia trabalhado no governo de seu país natal e era próximo de Victor Orbán, que se tornara primeiro-ministro. Para mim, Andy e Mario faziam parte do meu gabinete informal em Hollywood para debater ideias. Portanto, eu queria sondá-los em relação à possibilidade de me candidatar a governador e, caso eles se mostrassem animados, pretendia lhes pedir uma boa quantia para a campanha, depois fazê-los sair por aí solicitando contribuições de outros produtores.
Em abril de 2001, quando fui a seu escritório falar sobre isso, não esperava que eles fossem mencionar O exterminador do futuro 3. Eu havia assinado uma espécie de “pré-acordo” para estrelar o filme caso ele um dia viesse a ser feito, mas o projeto passara muitos anos no limbo. Em determinado momento, Andy e Mario chegaram a perder os direitos e tiveram que comprá-los de volta no tribunal de falências. Jim Cameron começara a tocar outros projetos e, até onde eu sabia, eles ainda não tinham diretor nem roteiro. Mesmo assim, quando comecei meu discurso sobre política, peguei-os olhando para mim como quem diz: “Como assim? Candidato a governador?”
Na realidade, O exterminador do futuro 3 estava bem mais adiantado do que eu pensava. Havia um roteiro quase pronto, e não era só isso: eles já tinham fechado acordos de merchandising e distribuição internacional no valor de dezenas de milhares de dólares. O plano era começar a produção dali a um ano. Andy se mostrou ponderado e simpático, mas firme.
– Se você pular fora, vou ser processado, pois nós vendemos os direitos com a condição de ter você no papel principal – explicou. – Você é a última pessoa que eu quero processar, mas, se eu for acionado na justiça, vou ter que fazer isso, porque não tenho dinheiro para pagar toda essa gente. E as indenizações? Vai ser uma quantia estratosférica.
– Está bem, entendi – falei.
Tenho orgulho de sempre conseguir equilibrar várias tarefas, mas até eu podia ver que me candidatar a governador e fazer o filme ao mesmo tempo seria impossível. As pessoas iriam pensar que eu era um idiota completo.
E agora? Eu continuava querendo fazer algo na política. Na verdade, estava louco por isso. Assim, quando voltei a reunir minha equipe de consultores e lhes contei que não poderia me candidatar, disse-lhes para não pararem. Falei que, em vez da candidatura, faríamos uma proposta de votação popular. Eles se mostraram céticos – era difícil imaginar como alguém poderia dar conta de um filme e de uma campanha de votação popular ao mesmo tempo. Para mim, não era nada diferente do que eu passara a vida inteira fazendo: havia cursado a faculdade enquanto era campeão de fisiculturismo; casara-me com Maria no meio das filmagens de Predador; rodara Um tira no jardim de infância e O exterminador do futuro 2 e lançara a cadeia Planet Hollywood enquanto era o tsar presidencial da boa forma. Para completar, tinha uma visão clara da questão que desejava defender.
Ter trabalhado no President’s Council on Physical Fitness and Sports me tornara consciente do problema de milhões de crianças que, depois da escola, ficavam sem ter o que fazer. A maior parte dos crimes cometidos por jovens ocorre entre as três e as seis horas da tarde. É nesse período que as crianças ficam propensas a fazer besteira, se prostituir, entrar para gangues e experimentar drogas. Os especialistas afirmavam que estávamos perdendo nossas crianças não porque elas fossem más por natureza, e sim porque lhes faltava supervisão. Havia muito tempo que policiais e educadores faziam campanha em prol de programas extracurriculares que proporcionassem uma alternativa às gangues e um lugar para ajudar as crianças com os deveres de casa, mas os legisladores do estado nunca lhes deram ouvidos. Assim, policiais e educadores se tornaram meus primeiros aliados.
Como parte da expansão dos Inner-City Games, eu havia criado uma fundação para transformar a competição em um movimento de âmbito nacional. Para comandá-la, recrutara uma grande amiga minha e de Maria, Bonnie Reiss. Bonnie é uma nova-iorquina poderosa, de cabelos negros encaracolados, engraçada, de fala rápida, e quase tão obcecada por conduzir iniciativas quanto Eunice. Ela e Maria se conheceram quando minha mulher estava na faculdade e Bonnie estudava direito e trabalhava como estagiária para Teddy Kennedy. As duas se mudaram juntas para Los Angeles a fim de trabalhar na campanha presidencial de Teddy em 1980. Mais tarde, Bonnie fundou uma influente organização sem fins lucrativos chamada Earth Communications Office, focada em arrecadar dinheiro para questões ambientais, tornando-se basicamente a principal figura de Hollywood na área ambiental. Bonnie também era grande fã dos Inner-City Games e agarrou a chance de divulgar essa iniciativa.