Выбрать главу

Apesar da diferença de opiniões, a política nunca tinha sido uma questão no nosso casamento. A meu ver, eu não estava sendo antitrabalhista, mas apenas arrumando a bagunça da Califórnia. Na campanha de Teddy Kennedy para seu sétimo mandato de senador, em 2000, Maria e eu ajudáramos dando uma festa para 500 pessoas em nossa casa. Todos os líderes sindicais importantes do país foram lá apoiá-lo e fazer lobby com ele para obter acordos, e depois mandaram cartões de agradecimento muito educados para mim e Maria. Eu me lembro de andar pelo gramado cumprimentando as pessoas e de pensar: “Me sinto bastante à vontade recebendo esses líderes trabalhistas na minha casa.” Havia muitos sindicatos – de bombeiros hidráulicos, açougueiros, especialistas em encanamento, carpinteiros, pedreiros, cimenteiros –, e eu sempre tivera um bom relacionamento com todos. Eram os excessos dos sindicatos de funcionários públicos que eu considerava intoleráveis.

No início do verão, cumpri a ameaça de que, caso os democratas e seus partidários não se sentassem à mesa de negociações, deixaríamos que os eleitores decidissem. Exerci meu direito de governador e convoquei para novembro um pleito especial sobre minhas propostas de reforma. Com isso, Maria passou a ser ainda mais pressionada. Ela começou a receber telefonemas e cartas de líderes trabalhistas do país inteiro dizendo: “Se eu fosse você, conversaria com Arnold sobre isso.” Ela sempre me informava sobre esses contatos, mas nunca defendeu o ponto de vista de meus adversários.

Minha mulher também teve que me defender junto aos pais. Eunice e Sarge passaram a fazer perguntas do tipo: “Arnold precisa mesmo atacar os sindicalistas dessa forma? Tem que ser tão duro assim? Por que ele não tenta ser igualmente rígido com as empresas?”

“Arnold está tentando lidar com um déficit de 15 bilhões de dólares, e os sindicalistas querem mais dinheiro”, explicava Maria. “Além do mais, ele prometeu reformas na campanha e agora está tentando cumprir. É claro que os sindicalistas não estão gostando nada disso! Entendo a posição de vocês, mas também compreendo as preocupações dele.” Estar no meio desse fogo cruzado foi difícil e esquisito para ela.

E meu telefone não parava de tocar. Líderes empresariais e conservadores me diziam: “Sei que aqueles Kennedy estão tentando convencê-lo a recuar, mas lembre-se: precisamos continuar essa batalha.” A ideia de eu morar e dormir com o inimigo sempre os deixara malucos. Era quase possível escutar os mais radicais pensando: “Puta merda, é agora que Teddy Kennedy vai assumir as rédeas da Califórnia.”

Nos bastidores, as negociações avançavam aos trancos e barrancos. A resistência dos sindicatos não era meu único obstáculo: muitos membros de meu próprio gabinete também discordavam de mim. Pat Clarey e outros veteranos republicanos viam com ceticismo nossas chances de algum dia conseguir que os sindicatos negociassem de boa-fé e assumiam uma postura rígida. Eles pareciam ainda mais ávidos que eu por uma grande briga política.

Em vez de discutir com esses opositores, tentei contorná-los lançando mão de meu próprio poder de persuasão. Sem alarde, me reuni com o sindicato dos professores, que tinha sido meu aliado durante a campanha em prol dos programas extracurriculares, embora isso parecesse pertencer a um passado remoto. Procurei líderes dos sindicatos de policiais e bombeiros com quem já tinha trabalhado bem. E pedi a meu amigo Bob Hertzberg, o “Huggy”, ex-presidente democrata da Assembleia, que agendasse reuniões secretas com o presidente em exercício, Fabián Núñez.

Essas conversas me permitiram avançar, sobretudo as que tive com Núñez, que ocorreram não na sede do governo, mas na varanda da minha casa. Meu objetivo era estabelecer acordos que pudessem substituir as votações populares. Caso isso acontecesse, eu poderia retirar cada uma das propostas de votação e trabalhar com o legislativo para implementar as reformas, ou então substituí-las por versões intermediárias aprovadas por ambos os lados.

O secretário de Estado Bruce McPherson, um republicano, nos informou que o prazo para rever as propostas de votação popular era meados de agosto. Quando a data foi se aproximando, Fabián e eu estávamos quase chegando a um acordo. Duas coisas, porém, ainda não tinham sido resolvidas. Alguns dos sindicatos continuavam a resistir, muito embora eu estivesse disposto a ceder mais da metade do terreno para agradá-los. Tenho certeza de que seus consultores políticos estavam apontando para as pesquisas de opinião pública e perguntando: “Por que fazer um acordo agora, se vocês podem arrasá-lo no pleito especial?” Eles estavam preparados para gastar 160 milhões de dólares em uma campanha contra mim e já podiam sentir gosto de sangue. De repente, os leões viram que podiam devorar o domador. O chicote já não os assustava.

O segundo problema era o fato de minha própria equipe ainda não estar convencida de que os sindicatos um dia fossem aceitar negociar. Eles também consideravam minha lista de objetivos ambiciosa demais para ser cumprida no prazo disponível. Eu não parava de ouvir que era assim mesmo que o governo funcionava e que os membros do legislativo simplesmente não eram tão ágeis quanto eu gostaria. Fabián e eu corremos contra o relógio para concluir o acordo a tempo de cancelar o pleito especial. Após negociações que vararam noites, conseguimos chegar a um denominador comum – mas então o secretário de Estado nos disse que era tarde demais para cancelar, que não havia tempo hábil para redigir e aprovar as novas propostas no legislativo antes da data-limite para a postagem dos votos dos residentes no exterior. O pleito especial foi mantido – não havia como voltar atrás.

 

O PLEITO ESPECIAL SE TRANSFORMOU EM uma causa célebre para os sindicatos de funcionários públicos de todo o país. Quando dei por mim, o New York Times, o Washington Post e o Wall Street Journal estavam publicando matérias a respeito e o assunto ganhara repercussão até mesmo na imprensa internacional. Era a notícia política mais importante da Califórnia desde a eleição revogatória de Gray Davis, só que agora o que estava em xeque era o meu governo. Eu não previra um combate tão acirrado, mas de certa forma fiquei contente. Estávamos informando ao povo americano até onde os sindicalistas estavam dispostos a ir para proteger os próprios interesses, mesmo quando a situação era injusta.

Alguns dias depois, quando fui passar uns dias com Maria e as crianças em Hyannis Port, encontrei Teddy Kennedy.

– Se você quiser que eu converse com os líderes sindicais nacionais ou que entre na roda, é só dizer – ofereceu ele.

– Então diga a eles que eu sei que estão mandando dinheiro para a Califórnia para derrotar a mim e minhas propostas – falei. – Tente acalmá-los e explicar que um ajuste é inevitável. Não só na Califórnia, mas em todos os estados. Não podemos nos dar ao luxo de continuar honrando esses contratos caros agora que temos menos dinheiro em caixa.

Fiz a melhor campanha que pude pelas propostas, mas fomos ofuscados pela campanha publicitária. A Associação de Docentes da Califórnia hipotecou sua sede no subúrbio de Burlingame, na região da baía de São Francisco, e levantou mais dezenas de milhares de dólares para nos atacar. As ondas de rádio foram tomadas de assalto por comerciais reclamando que a Califórnia estava pior que antes e transformando o pleito especial em um referendo sobre mim: Arnold não está cumprindo o que prometeu. Arnold está abandonando as crianças. Arnold está abandonando os idosos. Arnold está abandonando os pobres. A associação espalhou outdoors pelo estado com os dizeres “Arnold Schwarzenegger não é quem pensamos que fosse”. Chegaram até a contratar astros como Warren Beatty, sua mulher, Annette Bening, e o diretor Rob Reiner para fazer campanha contra mim.