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– Eu já organizei esse tipo de competição. Nós às vezes esquecemos as coisas mais simples.

– O quê, por exemplo?

Comecei a suar pensando no que poderia ser. Eu estava tão concentrado em vender ingressos que talvez tivesse negligenciado alguns detalhes importantes.

– Vocês já têm as cadeiras para os jurados na mesa principal, por exemplo? Quem vai arrumar essas cadeiras?

Virei-me para Franco.

– Já providenciou as cadeiras?

– Você é mesmo um idiota – retrucou Franco. – Como é que eu ia saber que precisava cuidar disso?

– Está bem, vamos colocar isso no papel – falei.

Então fiz uma anotação: na próxima vez que fôssemos ao teatro, tínhamos que ver onde arranjaríamos a tal mesa para pôr em frente ao palco e onde conseguiríamos nove cadeiras.

– Também vão precisar de uma bela toalha para forrar a mesa... Verde, de preferência, para dar um aspecto oficial – continuou George. – Outra coisa: já pensaram em quem vai comprar os bloquinhos de anotações para os juízes?

– Não.

– E comprem lápis com borracha, também – emendou ele.

– Ah, que merda.

George foi fazendo um passo a passo da produção do evento. Tínhamos que planejar como ficaria o palco, organizar a área dos bastidores, deixar pesos disponíveis para os atletas se aquecerem, saber onde conseguiríamos esses pesos e como fazê-los entrar pelos fundos do teatro.

– Já pensaram nisso? – perguntou George. – Esse teatro com certeza é regido pelos sindicatos, então vocês precisam saber o que vão poder transportar por conta própria e o que terá de ser levado pelos caras do sindicato.

É claro que Franco e eu não gostamos da ideia de ter que obedecer ao regulamento de sindicatos profissionais. No entanto, lembramos que tudo era muito mais fácil de fazer ali nos Estados Unidos do que teria sido na Europa. Conseguir as autorizações e pagar as taxas foi bem mais simples do que tínhamos imaginado, além de as taxas serem mais baratas. O pessoal que administrava o teatro também se mostrou bastante entusiasmado.

No final das contas, o evento lotou. Franco e eu fomos pessoalmente buscar cada um dos competidores no aeroporto e os tratamos como gostaríamos de ser tratados se estivéssemos no lugar deles. Os melhores atletas compareceram. O júri foi competente e demonstrou ter bastante experiência. Na noite anterior ao evento, convidamos jurados, patrocinadores e atletas para uma recepção bancada por mim e por Franco. Todos os nossos esforços publicitários encheram o teatro, então acabamos tendo que deixar cerca de 200 espectadores de fora. Porém o mais importante foi que os lugares foram ocupados por pessoas de todas as áreas, não apenas fisiculturistas.

A repercussão do meu sucesso no The Merv Griffin Show perdurou até o outono. Shelley agendou mais duas participações em programas de entrevistas para mim. Era sempre a mesma coisa. Como a expectativa era nula, eu me mostrava espontâneo e o apresentador reagia dizendo: “Isso é fascinante!” Logo percebi que, em uma entrevista de entretenimento, eu podia simplesmente inventar o que quisesse! Eu dizia coisas do tipo: “Em 1968, a Playboy fez uma pesquisa e 80% das mulheres odiavam fisiculturistas. Mas agora a situação se inverteu e 87% delas adoram caras musculosos.” Eles adoravam.

Participar do programa de Merv Griffin teve outra consequência inesperada. No dia seguinte à entrevista, recebi na academia um telefonema de Gary Morton, marido e sócio de Lucille Ball. “Vimos você ontem na TV”, disse ele. “Achamos muito engraçado. Ela tem um emprego para você.” Na época, Lucille Ball era a mulher mais poderosa da televisão. Tinha ficado famosa no mundo inteiro por causa das séries I Love Lucy, The Lucy Show e Here’s Lucy, e era a primeira mulher na TV a se afastar dos grandes estúdios e administrar uma produtora própria, graças à qual havia ficado rica. Morton me explicou que ela estava preparando um especial de TV com Art Carney, mais conhecido como o Ed Norton de The Honeymooners (Os recém-casados), uma série dos anos 1950. Ela queria que eu fizesse o papel de um massagista. Será que eu poderia passar na produtora naquela tarde para dar uma lida no roteiro? De repente, Lucy pegou o telefone e disse: “Você estava incrível! Sensacional! Nos vemos mais tarde, certo? Dê uma passada aqui, nós adoramos você.”

Fui até a produtora e alguém me deu o roteiro para ler. O programa se chamava Happy Anniversary and Goodbye (Feliz aniversário de casamento e adeus). À medida que lia, minha animação crescia. Lucille Ball e Art Carney fazem um casal de meia-idade, Norma e Malcolm. Suas bodas de prata estão chegando, mas, em vez de comemorar, Malcolm declara que se cansou da mulher e diz que quer se divorciar dela. Como Norma também está farta do marido, os dois concordam em dar um tempo e ele sai de casa. Só que volta ao apartamento para pegar alguma coisa que esqueceu e encontra Norma, seminua, deitada em cima de uma mesa, recebendo uma massagem. Ela exagera na situação para deixá-lo enciumado, acarretando uma briga hilária na qual o massagista, que se chama Rico, acaba envolvido.

Eu faria o massagista. Era um papel de sete minutos em um programa de uma hora, e pensei: “Essa exposição é ótima. Vou aparecer na televisão junto com Lucille Ball e Art Carney!” Como Hércules em Nova York não tinha chegado a ser lançado, aquela seria minha estreia na tela, para um público de milhões de pessoas.

Estava sonhando acordado com isso quando me ligaram para fazer uma leitura do roteiro. Lucille, Gary Morton e o diretor estavam presentes, e ela me recebeu muito bem.

– Você estava engraçado mesmo ontem à noite! – comentou ela. – Tome, vamos ler.

Era tudo tão novo para mim que eu não fazia a menor ideia de que, ao ler um roteiro, eu devia representar o papel. Sentei-me à mesa com eles e disse minhas falas todas literalmente, palavra por palavra, como se estivesse mostrando a um professor que sabia ler.

– “Oi meu nome é Rico e eu sou italiano e lá na Itália eu era caminhoneiro mas aqui sou massagista.”

Então ela disse:

Tuuudo bem.

Reparei que o diretor estava olhando para mim. Em circunstâncias normais, eles teriam dito: “Muito obrigado por ter vindo. Vamos ligar para o seu agente.” No meu caso, não podiam fazer isso, porque eu não tinha agente. Mas aquilo não era um teste de verdade, porque Lucille queria mesmo que eu fizesse o papel e não havia nenhum outro candidato. Eu só estava ali para ajudá-la a convencer Gary e o diretor.

Ela logo interveio para me salvar.

– Ótimo! – falou. – Mas me diga uma coisa: você entende o que está acontecendo nessa cena? – Quando eu respondi que sim, ela pediu: – Então me explique, em poucas palavras.

– Bem, me parece que eu fui à sua casa porque você me pediu para ir lhe fazer uma massagem, e você está se divorciando ou se separando, algo assim, e eu sou muito musculoso porque era caminhoneiro na Itália – respondi. – Mas agora moro nos Estados Unidos e ganho dinheiro não como caminhoneiro, mas como massagista.

Exatamente. Você consegue me dizer isso de novo na hora certa, quando eu perguntar?

Dessa vez nós fizemos a cena: eu toquei a campainha, entrei com a mesa de massagem e montei tudo. Ela olhou, boquiaberta, para meus músculos e perguntou:

– Como você conseguiu ficar assim?

– Ah, eu na verdade sou italiano. Era motorista de caminhão lá, depois virei massagista, e estou muito feliz por estar aqui hoje e poder fazer uma massagem na senhora... – Ela quase enlouqueceu quando me ouviu dizer isso. – Depois tenho mais uma massagem, em outro lugar. Ganho um dinheirinho fazendo isso, além de ser bom para os músculos.

– Agora vamos improvisar – disse ela.