Выбрать главу

– Você se vende como o tipo de cara que não tem emoções, mas não se iluda. Não prestar atenção a elas ou reprimi-las não significa que elas não façam parte de você. Na verdade, você nutre certos sentimentos, sim, porque posso vê-los estampados nos seus olhos quando diz determinadas coisas. Você não pode enganar um especialista.

Ele estava me ensinando a ter acesso a todos os sentimentos armazenados em minha mente.

– Todo mundo tem emoções – afirmou. – O segredo da arte de interpretar é conseguir despertá-las da forma mais rápida possível. Por que você acha que alguns atores conseguem chorar quando querem? Não estou falando de um choro puramente mecânico, mas de um choro real, no qual o rosto inteiro se contrai e a boca treme. Isso significa que o ator consegue pensar em algo realmente comovente muito depressa. E é muito importante que o diretor filme isso nas duas primeiras tomadas, porque o ator não consegue repetir muitas vezes o processo sem torná-lo mecânico. Não se pode manipular a mente com tanta frequência assim. Mas no caso de Bob Rafelson isso não me preocupa, porque ele com certeza é o diretor certo. Tem plena consciência disso tudo.

Numa das cenas de Cada um vive como quer Jack Nicholson chora. Eric me contou que Rafelson parou de filmar e passou duas horas conversando com o ator, até ver que ele estava começando a se emocionar. Falavam sobre alguma coisa relacionada à vida de Jack, em voz baixa, para que as outras pessoas do set não escutassem. Então de repente Bob ergueu a voz e disse: “Ótimo, Jack, fique assim.” Os outros atores entraram, a cena foi filmada e Jack chorou.

“Foi Bob quem o guiou”, contou-me Eric. “Às vezes é difícil, outras vezes é fácil, às vezes não acontece e você tem que tentar outro dia. O que estou tentando fazer é lhe dar as ferramentas”, continuou ele. “Você pode não ter chorado quando seu irmão morreu e pode não ter derramado uma lágrima ao saber da morte do seu pai. Mas fica abalado com o fato de eles terem morrido e de agora você e sua mãe estarem sozinhos?” Ele tentou de tudo, mas era como se estivéssemos diante de um muro. Eu não conseguia. Nada funcionou. Decidimos que aprender a chorar ficaria para depois.

Além das sessões particulares, eu também tinha aulas em grupo três vezes por semana, das sete às onze da noite. Éramos 20 alunos fazendo cenas ou exercícios de interpretação. Alguns eram divertidos. Ele escolhia um tema, por exemplo raiva e frustração, e pedia: “Quero que todo mundo fale sobre isso. O que deixa vocês frustrados?” Durante a primeira hora, todos contávamos histórias sobre ocasiões em que tínhamos experimentado esses sentimentos. Então ele continuava: “Muito bem. Vamos gravar essa emoção. Agora quero que alguém me diga algumas frases que mostrem essa frustração.” E nós improvisávamos sobre esse tema. A aula seguinte podia girar em torno da leitura de um roteiro, ou de um teste para um papel, e assim por diante.

Essas noites eram bem menos divertidas quando Morris se lembrava de coisas que eu havia dito durante uma aula particular e contava para a turma inteira. Era assim que ele tentava atingir um ponto fraco meu. Não hesitava em me pressionar ou me constranger. Por exemplo, eu podia estar lendo frases do roteiro de O guarda-costas que tínhamos ensaiado e ele me interrompia para dizer: “Que porra foi essa? Sério, é o melhor que você consegue? Hoje à tarde, quando fizemos essa cena, fiquei todo arrepiado. Agora não senti nada. Estou percebendo que você está tentando fingir, ou tentando usar um recurso de interpretação. Isto que estou vendo não é um recurso de interpretação. É totalmente diferente. Faça de novo.”

Todas as aulas particulares eram, de uma forma ou de outra, centradas no roteiro do filme. Morris me disse: “Nós vamos ler esse roteiro linha por linha e analisar até mesmo as cenas que não tiverem nada a ver com você, porque na verdade você vai ver que elas têm. Temos que descobrir por que você está no Sul do país e o que significa para você conhecer o pessoal do country club, que vive desperdiçando o dinheiro que herdou e passa as noites bebendo. Temos que entender o clima da cidade, a academia de fisiculturismo, os escroques que estão enganando todo mundo.” Então percorríamos o roteiro página a página, linha a linha. Conversávamos sobre cada cena, depois eu começava a decorar as falas e as analisávamos uma segunda vez. Eu dizia meu texto para ele, depois mais uma vez à noite, na frente dos 20 outros alunos. Ele pedia a uma das garotas que lesse as falas de Mary Tate.

Então Morris me levava para ler diante de Bob Rafelson. Eu via a procissão de atores – tanto homens quanto mulheres – que passavam pelo escritório dele fazendo testes para outros papéis. Caso eu ainda tivesse alguma dúvida, isso me lembrou de que esse filme era uma grande oportunidade para mim. Rafelson fez questão de me mostrar os macetes e de me ensinar as lições que iam além da simples interpretação. Passava o tempo inteiro explicando por que fazia as coisas: “Escolhi esse cara porque ele parece um sócio de country club”, ou “Vamos filmar no Alabama porque na Califórnia nunca conseguiríamos aquela paisagem verde luxuriante, nem os bares que servem ostras, nem o cenário que precisamos para tornar a história autêntica”.

Quando ele escolheu Sally Field para interpretar Mary Tate, quis que isso servisse como uma grande lição.

– Viu só? – falou. – Eu testei uma porção de garotas e no fim das contas a melhor foi a Noviça Voadora!

– Noviça Voadora? O que é isso? – perguntei.

Ele me disse que estava se referindo a Sally Field, que todos conheciam como Noviça Voadora por causa da irmã Bertrille, personagem que ela interpretara por muitos anos em uma série na TV. Depois dessa explicação, ele quis demonstrar algo ainda mais importante.

– Todo mundo acha que sabe o que uma garota tem que fazer para conseguir o papeclass="underline" trepar com o diretor – falou. – E várias jovens vieram me oferecer justamente isso. Garotas peitudas, com cabelos lindos e corpos perfeitos. Mas, no final, quem foi contratada foi a Noviça Voadora. Ela não é peituda, não tem o corpo cheio de curvas e não se ofereceu para trepar comigo, mas tem o que eu mais precisava para esse papeclass="underline" talento. É uma atriz séria, e quando veio aqui para fazer o teste eu fiquei maravilhado.

Como esse era o meu primeiro grande trabalho e eu não era ator profissional, Bob achou que também seria bom eu dar uma olhada em como os filmes eram feitos. Então ligou para alguns sets e combinou que eu assistiria às filmagens durante uma hora. Foi uma experiência bacana ver como todos ficam em silêncio quando o diretor diz: “Rodando.” Foi bom aprender que “ação” não quer dizer necessariamente ação – os atores podem ainda estar se ajeitando e perguntando: “Qual é mesmo a minha primeira fala?”

Esse foi o jeito de Bob me ensinar que, sim, haveria 13 tomadas, e sim, isso era normal, mas eu devia me lembrar de que apenas uma seria vista. Ele me disse que eu não precisava me preocupar quando ele falasse pela 13a vez: “Vamos repetir.” Ninguém ia saber. “E também não se preocupe”, continuou ele, “se você tossir no meio de uma cena. Eu corto esse pedaço na montagem e cubro o que falta com cenas filmadas deste ângulo aqui e daquele outro.”

Quanto mais tempo eu passava no set, mais à vontade me sentia.

Depois de escalar Sally Field, Bob ficou especialmente obcecado com a necessidade de eu perder peso. Ela era tão magrinha que ele temia que, se eu não emagrecesse, a fizesse sumir na tela. “Quando chegarmos a Birmingham, se você não estiver pesando 95 quilos, está fora do filme”, ameaçou. Não existia nenhuma aula com Eric Morris em que ele ensinasse uma estrela do fisiculturismo a emagrecer, então tive que me virar sozinho. Primeiro, precisei mudar minha forma de pensar: deixar de lado a imagem de um Mister Olympia de 113 quilos que tinha na cabeça. Em vez disso, comecei a me visualizar como um homem esbelto e atlético. De repente, o que via no espelho não se encaixava nessa imagem. Essa técnica ajudou a acabar com minha vontade de tomar todos aqueles suplementos de proteína e comer as porções extras de carne e frango com as quais estava acostumado. Passei a me ver mais como corredor do que como levantador de pesos e mudei todo o meu regime de treinos para enfatizar a corrida, o ciclismo e a natação em vez da musculação.