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Durante muitos meses, parecia que minhas únicas investidas que davam certo em Los Angeles eram as que eu fazia no setor imobiliário. Em parte por causa da inflação e em parte por causa do crescimento econômico, os valores dos imóveis em Santa Monica estavam disparando. Embora meu prédio sequer estivesse no mercado, mais ou menos na mesma época da estreia de O homem dos músculos de aço um comprador me ofereceu por ele uma quantia muito maior que a que eu pagara em 1974. Lucrei 150 mil dólares com meu investimento de 37 mil – em três anos, eu havia quadruplicado o valor. Investi tudo em um prédio duas vezes maior, com 12 apartamentos em vez de seis – graças à ajuda de minha amiga Olga, que, como sempre, soubera encontrar o imóvel certo para comprar.

Ronda Columb, a secretária que vinha administrando minha empresa de vendas por correspondência e organizando minha agenda maluca havia muitos anos, ficou animada ao me ver virar um minimagnata das propriedades imobiliárias. Nova-iorquina, ela já se divorciara quatro vezes e era uns 10 ou 12 anos mais velha que eu. Seu primeiro marido fora campeão de fisiculturismo nos anos 1950. Eu conhecera Ronda por intermédio da Gold’s. Ela era como uma irmã mais velha para mim. Seu namorado mais recente era um empreendedor do setor de imóveis chamado Al Ehringer.

Um dia, do nada, ela me disse:

– Al adora você, sabia?

– É claro que ele me adora: eu o deixo levar minha secretária para casa! – brinquei.

Ronda riu.

– Não, sério, ele o adora de verdade e quer fazer negócios com você. Você aceitaria fazer negócios com ele?

– Bom, descubra o que ele tem em mente, porque tem um prédio à venda na Main Street, e se ele quiser participar...

Al tinha reputação de ser um empreendedor astuto, com talento para escolher as áreas com potencial. Tivera um papel importante na recuperação do centro histórico da cidade californiana de Pasadena, com lojas e lofts. Eu achava que Santa Monica talvez estivesse pronta para o mesmo tipo de revitalização. A Main Street, uma rua paralela ao mar a alguns quarteirões da praia, estava abandonada e cheia de bêbados e sem-teto, e havia muitos imóveis à venda. Eu queria investir 70 mil dólares, que economizara graças a O homem dos músculos de aço e outros trabalhos.

Al já conhecia o prédio no qual eu estava interessado. “Aquele imóvel e mais outros três estão à venda”, disse ele. “Escolha o que preferir e eu assino embaixo.” Então nós dois compramos o prédio e começamos a dar uma cara nova à Main Street.

Nosso prédio começou a se pagar quase imediatamente. Havia três casinhas nos fundos, que vendemos por uma quantia suficiente para reembolsar toda a entrada que tínhamos dado. Isso facilitou a obtenção de um empréstimo grande, para uma reforma total. Além disso, como o imóvel tinha mais de 50 anos, era considerado um bem histórico e tinha isenção fiscal. Mais um motivo para se amar os Estados Unidos: na Áustria, se você quisesse que um imóvel fosse declarado bem histórico e ele tivesse menos de 500 anos de idade, o governo riria da sua cara.

Ganhar dinheiro assim me deixou bem mais confiante. Ajustei meu plano de vida: ainda queria ser dono de uma rede de academias um dia, mas, em vez de faturar com filmes, como Reg Park e Steve Reeves, eu ganharia com imóveis.

 

RONDA SEMPRE ORGANIZAVA OS PEDIDOS DE aparições públicas em uma pilha para minha avaliação. Naquela primavera, o que chamou minha atenção foi um convite da organização Special Olympics assinado por Jackie Kennedy Onassis. O convite pedia que eu fosse à Universidade do Wisconsin a fim de ajudar com pesquisas que tentavam descobrir se a musculação era uma atividade benéfica para crianças deficientes mentais.

Eu disse a Ronda que aceitaria. Eu já estava dando seminários sobre musculação e sobre como ser um vencedor e pensei que prestar consultoria para uma universidade poderia ser uma boa credencial para promover o fisiculturismo como esporte, ainda que não houvesse cachê. Eu não sabia se a musculação podia ajudar crianças deficientes mentais, mas fiquei fascinado pelo fato de elas quererem tentar, e isso iria me introduzir em um mundo totalmente novo.

Quando cheguei a Wisconsin, em abril, ainda havia neve no solo: o evento estava acontecendo no campus norte da universidade, localizado em Superior, perto de Duluth. As duas mulheres que foram me buscar no aeroporto eram pesquisadoras com doutorado. Ao chegarmos ao local, elas me levaram junto com Jackie até a sala de musculação do ginásio, onde as crianças iriam treinar na manhã seguinte.

– Que exercícios podemos orientar que façam? – perguntou Jackie.

– Não sei qual é o nível de deficiência dessas crianças – comecei –, mas um dos exercícios seguros que elas podem fazer é o supino com barra. Outro é o levantamento terra, a rosca bíceps também, e uma coisa que pode ser segura é...

– Certo – disse Jackie. – Para o primeiro dia, vamos parar por aí.

Montamos os equipamentos e a câmera, certificando-nos de que haveria luz suficiente para filmar, e preparamos um plano para o dia seguinte. Nessa noite, fiquei deitado na cama pensando em como iria lidar com as crianças. Em vez de me preocupar, decidi simplesmente improvisar.

Havia uns 10 meninos no início da adolescência e, assim que pisei na sala, ficou claro o que tinha que fazer. Eles me rodearam e pediram para tocar nos meus músculos. Quando os flexionei, ficaram exclamando: “Caramba! Caramba!” Percebi que aqueles garotos eram como barro nas minhas mãos. Para eles, autoridade era uma coisa muito mais visual do que intelectual – eles me ouviam não porque eu tinha estudado fisioterapia ou algo assim, mas por causa dos meus bíceps.

Comecei com o supino, apenas a barra com uma anilha de 4,5 quilos de cada lado, e fiz os meninos se revezarem para executar 10 repetições cada um. Fiquei por perto para posicionar a barra e baixá-la até o peito deles. Os dois primeiros se saíram bem, mas o terceiro entrou em pânico ao sentir o peso da carga e começou a gritar, porque achou que a barra fosse esmagá-lo. Tirei-a de cima de seu peito e ele se levantou com um pulo.

“Tudo bem”, falei para ele. “Não se preocupe. Respire, relaxe, fique aqui e observe seus amigos.”

Ele então ficou vendo os outros se revezarem no aparelho para erguer o peso 10 vezes cada um. Depois de algum tempo, vi que tornou a se interessar. “Quer tentar de novo?”, sugeri, e ele concordou. Estava um pouco mais confiante quando pus a barra sem carga sobre seu peito, e fez 10 repetições. “Segure firme”, falei. “Você é bem forte, acho que consegue fazer com carga agora.” Coloquei as anilhas na barra, 9 quilos no total, e ele não só fez mais 10 repetições com facilidade como pediu que eu aumentasse o peso. Entendi que estava assistindo a uma ocorrência rara. Vinte minutos antes, aquele menino estava completamente intimidado e agora se mostrava ultraconfiante. Nos dias seguintes, fiz sessões de levantamento de peso com outros grupos de crianças, testando exercícios diferentes, até as pesquisadoras coletarem todos os dados de que precisavam. Uma das observações que elas fizeram foi que a musculação era melhor para gerar autoconfiaça do que, por exemplo, o futebol. No futebol, às vezes você consegue dar um bom chute e outras vezes não, mas na musculação, quando você levanta quatro anilhas, sabe que na próxima vez vai conseguir levantar de novo quatro anilhas. Essa previsibilidade ajudava as crianças a ganhar autoconfiança rapidamente.

Esse trabalho deu origem aos eventos de levantamento de peso da Special Olympics, que hoje atraem mais competidores que qualquer outra modalidade do evento. Procuramos movimentos que fossem seguros – às vezes, por exemplo, por causa da deficiência, as crianças não se equilibram muito bem, então deixamos de fora os agachamentos. Acabamos incluindo apenas o levantamento terra, no qual nada pode dar errado porque você simplesmente levanta a barra até ficar totalmente ereto, e o supino, em que há ajudantes ao seu lado para firmar a barra se for preciso.