– Esse livro vai ser um sucesso – falou. – Vai vender tanto quanto Pumping Iron.
– Não se mantivermos a mesma estratégia de publicidade – falei.
A proposta que ele estava me apresentando só previa visitas a meia dúzia das maiores cidades do país.
– As pessoas só vão comprar o livro se souberem que ele existe – comentei. – Se não mostrarmos isso a elas, como vão saber? Se quiser que o livro venda, não me mande só para seis cidades. Temos que ir a 30 cidades, e temos que fazer isso em 30 dias.
– Trinta cidades em 30 dias?! Que loucura!
– Você devia ficar feliz – continuei. – Nós vamos visitar cidades às quais as celebridades nunca vão e assim poderemos conseguir mais espaço nos noticiários matinais.
– É, isso é verdade – concordou ele.
Lembrei-lhe que Pumping Iron fora bem-sucedido porque na época tínhamos feito uma promoção mais abrangente que o habitual e vendido em lugares não convencionais, como lojas de artigos esportivos.
As turnês promocionais de livros sobre esportes em geral não passavam por Washington. Mas eu havia promovido Pumping Iron na capital, de modo que fazia sentido voltar lá e falar com os mesmos jornalistas. Como Maria morava na cidade, pareceu-me natural entrar em contato com ela. Liguei antes de ir e ela se ofereceu para me mostrar a cidade, toda animada. Só cheguei bem tarde, às oito ou nove horas da noite do Dia das Bruxas. Maria foi me buscar fantasiada de cigana e me levou para conhecer os bares e restaurantes em que havia trabalhado quando estava na faculdade – ela acabara de se formar na Universidade de Georgetown. A fantasia estava perfeita: vestido colorido, várias pulseiras, brincos enormes e aquela linda e farta cabeleira negra. Nós nos divertimos bastante até mais ou menos uma da madrugada, quando ela voltou para casa. Na manhã seguinte, tive meus encontros com a imprensa e segui viagem.
Uma semana depois, mandei-lhe flores no seu aniversário, 6 de novembro, coisa que nunca tinha feito antes com nenhuma garota. Eu tinha uma queda por Maria e descobrira recentemente que era possível encomendar flores pelo telefone – era uma nova forma de mostrar interesse, assim como o costume americano de mandar cartões de agradecimento. Ela adorou.
Então viajei para a Europa e, ao retornar, continuei a turnê do livro. Tive que ir a Detroit fazer uma apresentação em um shopping. Liguei para Maria e disse: “Se quiser ir me encontrar, tenho uns amigos ótimos em Detroit, e podemos sair todos juntos.” Meus amigos, os Zurkowski, eram sócios da Health & Tennis Corporation, maior rede de academias dos Estados Unidos, com mais de 100 estabelecimentos espalhados pelo país. Ela concordou em ir me ver, e reunimos todo mundo. Para mim, foi uma indicação clara de que ela estava interessada em começar um relacionamento. Na época, Maria namorava um cara da faculdade, mas a relação parecia estar esfriando e pensei que ela estivesse pronta para passar para outra.
Quanto a mim, não sei o que me passou pela cabeça quando liguei para ela. Tínhamos nos divertido tanto no Dia das Bruxas que quis vê-la de novo. Ela morava na Costa Leste, e pensei que Detroit ficava perto de lá. Eu não queria um namoro sério, principalmente com alguém daquela parte distante do país, já que eu morava na Costa Oeste. Maria estava falando em fazer um curso de produção de TV em Filadélfia e imaginei: “Nem pensar. Filadélfia–Los Angeles seria dureza.”
No entanto, foi exatamente isso que aconteceu: um namoro que nos fazia cruzar o país. Não conversamos para definir se era um relacionamento firme ou se poderíamos sair com outras pessoas. Foi mais uma coisa do tipo “Vamos nos ver quando der”. Mas eu gostava do fato de ela ser ambiciosa e querer se tornar uma figura importante do jornalismo televisivo. Também lhe falei sobre as minhas metas: “Um dia vão me pagar um milhão de dólares para fazer um filme.” Eu disse isso porque era essa quantia que ganhavam os atores mais bem remunerados de Hollywood, como Charles Bronson, Warren Beatty e Marlon Brando. Eu tinha que ser um deles. Contei a ela que meu objetivo era ser protagonista e obter tanto sucesso no cinema quanto no fisiculturismo.
Depois de O guarda-costas, O homem dos músculos de aço e The Streets of San Francisco, a comunidade de Hollywood estava bastante consciente da minha existência. Apesar disso, ninguém sabia o que fazer comigo. Os executivos dos estúdios vivem soterrados de projetos, e nenhum deles iria dizer: “Puxa, e este cara aqui? Ele tem o corpo e o visual certos. Tem personalidade. Sabe atuar. Só que ele não cabe em nenhum papel comum. Então o que podemos fazer?”
Eu precisava conhecer algum produtor independente. Por sorte, fui procurado por um: Ed Pressman, que fizera Terra de ninguém com o roteirista e diretor Terrence Malick e estava trabalhando em A taberna do inferno com Stallone. Ele era um nova-iorquino baixinho, de ar professoral, elegante e muito bem-vestido, cujo pai havia fundado uma fábrica de brinquedos e que havia se formado em filosofia pela Universidade de Stanford. O projeto dos sonhos de Ed era levar às telas um guerreiro bárbaro da pulp fiction dos anos 1930 chamado Conan. Ele e o sócio passaram uns dois anos negociando os direitos de filmagem e tinham acabado de fechar o negócio quando viram um copião de O homem dos músculos de aço. Na mesma hora decidiram que eu seria perfeito para o papel principal.
Ed não tinha sequer um roteiro. Enquanto eu não me decidia, deu-me uma pilha de revistas em quadrinhos para ler. Eu nunca ouvira falar em Conan, mas descobri que ele era cultuado por vários jovens. Desde os anos 1960, vinha havendo um grande revival seu, com a publicação de livros de bolso, e a Marvel Comics também tinha se interessado pelo personagem. Para mim, isso significava que haveria uma grande quantidade de fãs já prontos se Conan um dia fosse parar nas telas de cinema.
O que Ed tinha em mente não era apenas um filme, mas toda uma franquia de Conan, nos moldes de Tarzã ou James Bond, com um novo filme a cada dois anos. Não me lembro exatamente de como Ed formulou a questão, pois ele era bastante reservado, mas foi muito convincente. Para obter o apoio de algum estúdio, explicou, precisava que eu dissesse sim. Eu não poderia aceitar mais nenhum papel de fortão – como, por exemplo, outro Hércules – e tinha que me comprometer a estar disponível para as continuações. Bastou-me ver os livros de bolso para saber que aceitaria o papel. As capas traziam ilustrações fantásticas de Frank Frazetta: Conan triunfante, com o machado de batalha erguido no ar, parado sobre uma pilha de inimigos mortos com uma linda princesa a seus pés, ou então montado em um cavalo de guerra e avançando para cima de um exército de inimigos aterrorizados. No outono de 1977, acertamos que eu estrelaria Conan, o bárbaro e mais quatro sequências. Os valores foram todos estipulados: 250 mil dólares pelo primeiro filme, 1 milhão pelo segundo, 2 milhões pelo terceiro e assim por diante, além de 5% dos lucros. Os cinco filmes me renderiam um total de 10 milhões de dólares ao longo de 10 anos. Pensei: “Sensacional! Isso vai muito além do meu objetivo.”
A novidade do acordo se espalhou depressa por Hollywood. A imprensa especializada deu a notícia, então quando eu passava a pé pela Rodeo Drive os donos das lojas começavam a sair à rua e me convidar para entrar. Embora ainda houvesse vários detalhes por acertar, assinar esse contrato me deu a segurança de que eu agora fazia parte do time de 1 milhão de dólares no cinema. Assim, quando disse a Maria que esse era meu sonho, sabia que se tornaria realidade.