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O que não pensei foi que ainda levaria muitos anos, mas eu não estava com pressa. Agora, depois de conseguir os direitos e o ator principal, Ed precisava achar um diretor e o dinheiro para fazer o primeiro filme. John Milius queria dirigir o projeto, pois adorava a mistura de virilidade e mitologia dos livros de Conan. No entanto, ele estava ocupado rodando Amargo reencontro, um filme com Gary Busey sobre a passagem para a idade adulta de um surfista. Então Ed continuou procurando um diretor. Teve mais sorte com o financiamento. A Paramount Pictures concordou em adiantar 2,5 milhões de dólares para o desenvolvimento inicial, contanto que Ed conseguisse vincular um roteirista renomado ao projeto.

Foi assim que meu caminho cruzou o de Oliver Stone. Na época, ele era conhecido como uma estrela em ascensão e acabara de escrever o roteiro de Expresso da meia-noite, baseado na história real de um jovem americano que foi detido ao tentar sair da Turquia com haxixe e condenado à prisão perpétua em um presídio turco brutal. O roteiro renderia a Oliver seu primeiro Oscar. Conan o interessou por ser um filme épico, mítico, e por ter um potencial para originar várias continuações – e também porque a Paramount estava disposta a bancá-lo.

Ao longo do ano seguinte, quando Oliver ia a Los Angeles, muitas vezes nos encontrávamos. Ele era um cara louco, muito inteligente e divertido. Considerava-se um grande escritor, e me agradava o fato de ser tão confiante, como eu. Nós saíamos juntos e nos respeitávamos, embora na esfera política ele fosse de esquerda e eu, de direita. Ele havia se alistado no exército e lutado no Vietnã e agora era um forte opositor do establishment, sempre vociferando contra o governo, Hollywood e a guerra.

Oliver me fez ler várias revistas em quadrinhos e romances de fantasia em voz alta, para ter uma noção de como eu me saía com os diálogos e do que soava bem ou não na minha voz. Sentado no sofá, ele fechava os olhos para me ouvir dizer trechos como “E eis que surge então Conan, o cimério, de cabelos negros, olhar duro e espada na mão, ladrão, saqueador, assassino, dono de imensa tristeza e imensa alegria, para pisotear com suas sandálias os tronos cravejados de joias da Terra”.

Ed havia incentivado Oliver a pensar grande – estava prevendo um orçamento de até 15 milhões de dólares para o filme, quase o dobro do custo habitual de um filme – e ele obedeceu, transformando a história no que Milius mais tarde descreveria como “o sonho febril de uma viagem de ácido”. Oliver trocou a ambientação do passado remoto para um futuro posterior à derrocada da civilização. Imaginou uma saga com quatro horas de duração na qual as forças da escuridão ameaçam a Terra e Conan tem que reunir um exército para reerguer o reino de uma princesa em uma batalha épica contra 10 mil mutantes. Criou imagens extraordinárias como as da Árvore Maldita, planta predatória que captura os companheiros de Conan durante a luta e os aprisiona em um mundo inferior – o inferno da árvore. O roteiro também pedia um cão de várias cabeças, uma harpia, pequenas criaturas parecidas com morcegos e muito mais.

No verão seguinte, porém, quando o roteiro começou a circular, ainda não estava claro se o projeto poderia deslanchar. O mundo imaginado por Oliver custaria uma fortuna para ser filmado: não 15 milhões, mas 70 milhões. Embora Guerra nas estrelas, de 1977, batesse recordes de bilheteria e os estúdios estivessem à procura de épicos, era uma quantia exorbitante, e a Paramount recuou. Fazia quatro anos que Ed estava desenvolvendo Conan, e agora ele e o sócio estavam endividados.

Decidi adotar uma atitude zen. Eu tinha o meu contrato e sabia que grandes produções podem levar muito tempo para se desenvolver. Disse a mim mesmo que não estava com pressa. Aqueles atrasos eram o destino. Só queria me certificar de que usaria meu tempo de forma sensata, para estar pronto quando as filmagens começassem.

Enquanto isso, Ed foi arrumando projetos para me dar mais experiência em frente às câmeras. Fiz um papel de coadjuvante em Cactus Jack, o vilão, faroeste estrelado por Kirk Douglas e Ann-Margret. Meu personagem se chamava Belo Forasteiro, e o resto do filme era igualmente ruim. Quando estreou, em 1979, foi um fracasso de bilheteria, e a melhor coisa que posso dizer é que, graças a ele, aprendi a montar melhor a cavalo. Também coestrelei com Loni Anderson The Jayne Mansfield Story (A história de Jayne Mansfield), filme feito para a televisão, no qual interpretava o segundo marido da personagem principal, o campeão de fisiculturismo dos anos 1950 Mickey Hargitay. Não eram papéis de protagonista nem envolviam muita pressão, mas ajudaram a me preparar para o verdadeiro desafio: Conan, a grande produção internacional que seria promovida mundialmente e teria um orçamento de 20 milhões de dólares.

Ao mesmo tempo, eu cuidava dos meus negócios. Continuava administrando as empresas de fisiculturismo e coproduzindo o campeonato Mister Olympia em Columbus, Ohio. Ano após ano, Jim Lorimer e eu conseguíamos arrecadar o prêmio em dinheiro, e o evento foi ficando mais popular e prestigioso. Enquanto isso, surgiam oportunidades imobiliárias boas demais para deixar passar. No sul da Califórnia, os imóveis se valorizavam a uma taxa que era quase o dobro da inflação. Você podia dar uma entrada de 100 mil dólares em um imóvel de 1 milhão que no ano seguinte ele valeria 1,2 milhão, fazendo seu investimento render 200%. Uma loucura. Al Ehringer e eu vendemos nosso prédio da Main Street e compramos um quarteirão inteiro para revitalizar em Santa Monica e outro em Denver. Troquei meu prédio de 12 apartamentos por outro de 30. Em 1981, quando Ronald Reagan assumiu a presidência e a economia desacelerou, eu já havia conquistado mais um pedaço do sonho de qualquer imigrante: conseguira ganhar meu primeiro milhão.

CONAN, O BÁRBARO, PODERIA ESTAR ATÉ HOJE confinado às páginas dos quadrinhos se John Milius não tivesse tornado a embarcar no projeto em 1979. Ele pegou o roteiro de Oliver Stone, cortou-o pela metade e o reescreveu para reduzir drasticamente os custos. Mesmo assim, a produção continuaria custando 17 milhões. Melhor ainda para Ed Pressman, Milius tinha um caminho que conduzia ao dinheiro. Ele tinha um contrato para produzir seu próximo filme com Dino de Laurentiis, que adorava histórias de fantasia. No final do outono desse ano, Dino e Ed firmaram um acordo no qual Dino, para todos os efeitos, comprava o projeto de Ed. Os contatos de Dino garantiram uma distribuição de primeira categoria, uma vez que a Universal Pictures aceitou distribuir o filme nos Estados Unidos.

De repente – pimba! – o projeto começou de fato a avançar.

O que era bom para o guerreiro Conan, contudo, não era necessariamente bom para mim. Por causa de nosso primeiro encontro, De Laurentiis me detestava. Embora eu ainda estivesse sob contrato, ele quis se livrar de mim.

– Não gosto de Schwarzenegger – comentou com Milius. – Ele é um nazista.

Por sorte, John já tinha decidido que eu era a escolha perfeita para o papel.

– Não, Dino – respondeu ele. – Nesta equipe só tem um nazista, e sou eu. Eu sou o nazista!

É claro que Milius não era nazista, só adorava chocar Dino e falar barbaridades. Passou o resto da produção frequentando antiquários estranhos para comprar pequenos bonequinhos de chumbo de Mussolini, Hitler, Stalin e Franco, que punha em cima da mesa de Dino.

A cartada seguinte de Dino foi mandar o advogado de sua empresa renegociar comigo. O nome do cara era Sidewater, e meu agente Larry o apelidou de Sidewinder, algo como “soco de lado”. O advogado anunciou:

– Dino não quer lhe dar os 5% do contrato. Não quer lhe pagar porcentagem nenhuma.

– Podem ficar com a porcentagem – falei. – Não estou em condições de negociar.