Pensei nas pessoas que tinham ido para Hollywood e davam duro para pagar as contas, trabalhando como garçons e garçonetes enquanto faziam testes para papéis. Eu conhecera algumas delas nas aulas de interpretação e as ouvira dizer coisas como: “Fui reprovado de novo, não sei mais o que fazer.” As rejeições em Hollywood costumam ser frequentes, e o custo psicológico pode ser muito alto. Você vai para casa envergonhado depois de não ser escolhido mais uma vez. É por isso que tantos atores e atrizes recorrem às drogas. Eu conseguira evitar esse tipo de desespero e agora estava tendo uma chance. Fora escolhido. É claro que precisava fazer jus à oportunidade, mas não estava preocupado com isso. Faria o que fosse preciso para alcançar meu objetivo. Não compartilhei essa sensação de orgulho com mais ninguém. Meu estilo era seguir em frente e não pensar muito. Mas a sensação era incrível.
De longe, o instrutor mais excêntrico que Milius me arranjou era um fanático por Conan que morava no meio do mato, nas montanhas. Gostava tanto das histórias do herói que queria viver como ele e se tornara especialista em dormir na neve, subir em árvores e sobreviver do que conseguia obter na natureza. Chegava a chamar a si mesmo de Conan. A sujeira e o frio intenso não pareciam incomodá-lo: fui esquiar com ele em Aspen, no Colorado, e ele foi de short. Fiquei imaginando se ele tinha ficado chateado por eu ter sido escolhido para interpretar o personagem mítico em seu lugar, mas pelo contrário: ele adorou. A notícia que se espalhara entre os fãs era que eu estava treinando pesado e que iria montar a cavalo e lutar com espadas sem dublê. Portanto, os admiradores inveterados do personagem concluíram que eu era uma ótima escolha, principalmente porque meu corpo se parecia muito com o do Conan das revistas em quadrinhos. Fiquei feliz por ser aceito, e isso foi um sinal promissor para a produção, porque o público que veria e reveria o filme, e que o recomendaria para todos os amigos, supostamente era formado por caras como aqueles. Como recompensa pelo tempo que passou me ajudando, levamos o instrutor para participar das filmagens na Europa. Ele fez o papel de um guerreiro inimigo em uma cena de luta na qual foi esquartejado – por mim.
CAPÍTULO 13
Maria e eu
EMBORA MARIA E EU ESTIVÉSSEMOS EM campos opostos neste assunto, foi a política que nos aproximou geograficamente, quando ela se mudou para a Califórnia a fim de trabalhar na campanha presidencial de Teddy Kennedy, em 1980. Na política americana, praticamente não se tinha notícia de um presidente em exercício que fosse candidato à reeleição e tivesse que enfrentar um opositor de seu próprio partido. Mas o primeiro mandato de Jimmy Carter fora muito decepcionante, e o país estava em tamanha recessão que Teddy resolvera se candidatar. Naturalmente, quando um Kennedy se candidatava, todos os parentes o ajudavam. Se você fosse da família, esperava-se que pusesse a própria vida de lado para trabalhar na campanha.
A primeira coisa que Maria e sua amiga Bonnie Reiss fizeram foi cobrir meu jipe com cartazes e adesivos da campanha Kennedy 1980. Eu tinha um Cherokee Chief marrom do qual me orgulhava muito. Em comparação com os carros comuns, ele era imenso – foi o primeiro utilitário esportivo a ser fabricado –, e eu fora até o Oregon para buscá-lo e, assim, economizar mil dólares. Mandara instalar um alto-falante e uma sirene para me exibir ou assustar os outros motoristas e fazê-los sair da frente. Agora, porém, quando dirigia pela cidade, eu me afundava no banco, torcendo para ninguém me ver. Era estranho parar o jipe em frente à academia todos os dias: assim como a maioria dos frequentadores, eu era conhecido por ser republicano, e agora tinha um carro coberto de adesivos de Teddy.
Pessoalmente, estava torcendo para Ronald Reagan ser eleito, mas ninguém pedia minha opinião; era Maria que todos queriam ver. Hollywood, como se sabe, é uma grande cidade liberal, e a rede de contatos da família dela era enorme. Seu avô, Joe Kennedy, fora muito envolvido com a indústria do cinema, comandando três estúdios na década de 1920, e a família era conhecida por incluir figuras do entretenimento em suas campanhas políticas. Então todos os Kennedy acompanhavam tudo o que acontecia em Hollywood e buscavam apoio financeiro junto a atores, diretores e executivos da indústria. Peter Lawford, tio de Maria, era um grande astro, amigo de Frank Sinatra e Dean Martin. Ela crescera ouvindo falar nos integrantes daquele grupo de atores conhecido como “Rat Pack”, já os vira na propriedade de seus pais e frequentara a casa deles em Palm Springs. Assim que chegou a Los Angeles, em 1980, conheceu suas esposas.
O quartel-general da campanha dos Kennedy entrava em contato com estúdios e agências de talentos e marcava entrevistas a serem feitas por Maria com figurões e celebridades. A frase-padrão era “Maria gostaria de ir visitá-lo para conversar sobre um evento que estamos organizando”. A reação quase sempre era “Aimeudeus, uma Kennedy vai vir aqui!”, e as portas se escancaravam. Em geral, Maria era acompanhada por outros integrantes do comitê de campanha, mas às vezes eu ia junto, ou até mesmo a levava de carro. A candidatura de Teddy era tão controversa que não foi fácil obter apoio. Muitas vezes vi gente como o produtor Norman Lear explicar a ela por que não apoiaria Teddy e declarar que daria seu apoio ao candidato independente, o deputado de Illinois John Anderson, ou então votaria em Carter.
Maria não tinha nem 25 anos, mas já era uma personalidade e tanto. Isso ficara claro para mim desde o início. Em 1978, uns seis meses depois que nos conhecemos, eu ia posar para um ensaio fotográfico na revista Playgirl. Ara Gallant, meu estiloso amigo fotógrafo nova-iorquino, foi quem realizou o ensaio, e sugeri que simulássemos o cenário de uma cervejaria. Seria uma daquelas tradicionais, mas, em vez de alemãs grandonas servindo canecas de cerveja e vários tipos de linguiça, haveria garotas jovens e sensuais com os seios descobertos. Era uma daquelas ideias malucas que eu costumava ter, e Ara adorou. No entanto, quando comentei com Maria e contei que estávamos montando o esboço do ensaio, ela me disse na hora que aquilo seria um erro. “Pensei que você quisesse entrar para o cinema”, falou. “Se posar com essas garotas de peito de fora, os produtores vão falar ‘Ei, peraí! Eu quero esse cara estrelando meu filme’? Duvido. O que você pretende com isso?”
Admito que não tive resposta. Eu estava apenas sendo bobo e tinha dito para Ara: “Vamos fazer alguma coisa engraçada.” Não estava tentando obter nada com aquilo.
“Bom, já que o ensaio não tem objetivo e não vai levar você a lugar nenhum, não faça. Você não precisa disso. Já se divertiu, agora parta para outra.” Ela não sossegou enquanto não me convenceu e foi tão persuasiva que acabei fazendo a Playgirl desistir do ensaio e ressarcir a revista dos 7 mil dólares pagos pelas fotos.
Por causa do mundo em que fora criada, Maria tinha muita experiência em matéria de percepção do público. Ela foi a primeira namorada que tive que não tratou minhas ambições como um estorvo, algum tipo de maluquice que interferia na sua visão de futuro: casamento, filhos e uma casinha aconchegante em algum lugar – o estereótipo da vida americana. O mundo de Maria não era pequeno assim. Com os feitos de seu avô, seu pai, sua mãe e seus tios, o universo dela era gigantesco. Finalmente tinha conhecido uma garota cujas ambições eram grandes como as minhas. Eu havia alcançado alguns de meus objetivos, mas grande parte das minhas metas ainda era um sonho. E, quando eu falava sobre objetivos ainda maiores, ela jamais dizia: “Ah, deixe isso para lá, você nunca vai conseguir.”