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Isso tudo me deixou chocado. Era incrível estar na primeira fila e ver as coisas se desenrolarem diante dos meus olhos.

Teddy perdeu as primárias cruciais de Iowa e New Hampshire e, por causa disso, parte de seu financiamento foi cortado – o que obrigou a campanha a encolher antes mesmo das primárias nos estados maiores. Depois disso, porém, ele se esforçou para reverter o jogo e venceu em vários estados importantes, entre eles Nova York em março, Pensilvânia em abril e – em parte graças aos esforços de Maria – Califórnia em junho. No entanto, perdeu em dezenas de outros estados e nunca conseguiu alcançar outra vez o presidente Carter nas pesquisas nacionais de opinião. Teddy acabou ganhando apenas 10 das 34 primárias. No primeiro dia da Convenção Nacional Democrata, em agosto, ficou claro que Jimmy Carter tinha delegados suficientes para garantir sua candidatura, e Teddy foi forçado a desistir.

De repente, após meses de esforço intenso, estava tudo terminado. Maria ficou triste e deprimida. A família já passara por muitas tragédias em pouco tempo: primeiro o assassinato do presidente John F. Kennedy, quando Maria tinha 8 anos; depois, o de Bobby Kennedy, quando ela estava com 12; em seguida, o incidente em Chappaquiddick, no verão seguinte. Além disso, ela vira o pai perder de lavada como candidato à vice-presidência de George McGovern em 1972 e ser derrotado novamente ao tentar obter a indicação presidencial do Partido Democrata em 1976. Agora Teddy tentara se candidatar e a família fracassara mais uma vez.

Maria havia se dedicado de corpo e alma à campanha. Vi como a política pode dominar inteiramente a sua vida e como pode fugir inteiramente ao controle. Quando você se candidata à presidência, sente a pressão pública todos os dias. A imprensa nacional e regional acompanha tudo o que você diz e faz, e as pessoas o analisam o tempo inteiro. Ver o tio passar por isso e perder foi muito, muito difícil. Fiquei feliz em poder apoiá-la nesse momento difícil. “Você fez um trabalho maravilhoso”, falei. “O jeito como lidou com a mídia, o modo como batalhou por Teddy...” A experiência só reforçou a imagem negativa que Maria tinha em relação à política como opção de carreira.

Usei todas as minhas habilidades para tentar animá-la. Levei-a para passar as férias na Europa, e nos divertimos muito em Londres, Paris e passeando pela França. Ela logo parou de se sentir fracassada e recuperou o entusiasmo e o senso de humor.

Antes de ir embora da Costa Leste, Maria deu uma guinada ousada na profissão. Tinha iniciado a carreira na televisão com o objetivo de ser produtora, a pessoa que controla os bastidores. Depois, no entanto, decidira passar para a frente das câmeras e competir por um dos raros cargos de âncora de noticiário em rede nacional. Eu sempre havia progredido com uma visão clara do que queria fazer, trabalhando o mais duro possível para alcançar minhas metas, e pude ver a mesma determinação começar a se desenvolver em Maria. Achei isso ótimo.

Nenhum integrante da família Kennedy jamais trabalhara como apresentador de telejornal. Era algo totalmente novo, e isso ocorrera graças aos esforços dela. Eu já vira alguns de seus primos conquistarem o próprio lugar ao sol, mas isso quase sempre significava se especializar em alguma causa ou questão que fizesse parte do sistema de crenças da família. O fato de Maria ir para a frente das câmeras foi uma verdadeira declaração de independência.

Assim que voltamos a Santa Monica, ela pôs mãos à obra para estabelecer contatos e passar pelo treinamento necessário, da mesma forma que eu fizera com a carreira de ator. O que era preciso para ser bem-sucedido diante das câmeras? Era o que ela precisava descobrir. O que tinha que mudar no visual, na voz e no estilo? O que deveria manter como estava? Seus consultores diziam: “Seus cabelos são muito compridos, precisamos cortar. Ou quem sabe prender? Vamos tentar isso. Seus olhos são fortes demais. Vamos suavizá-los, talvez.” Foi preciso transformá-la, moldá-la. Ela teve que aprender o que torna uma pessoa agradável de se ver e ouvir diariamente na televisão e a não exagerar na dramaticidade a ponto de tirar a atenção da notícia em si, que deveria ser sempre o foco principal.

No inverno seguinte, durante as filmagens de Conan em Madri, tivemos que passar cinco meses sem nos ver. Ela me mandava fotos mostrando que havia perdido 4,5 quilos, cortado os cabelos e feito um leve permanente. Enquanto isso, Conan já fora agendado e adiado várias vezes. Deveríamos ter começado a rodar em locações na Iugoslávia no verão de 1980, mas a morte do ditador marechal Tito, em maio, levou instabilidade ao país. Os produtores decidiram que seria mais barato e mais simples transferir a produção para a Espanha no outono. Então, quando Maria e eu chegamos da Europa, fiquei sabendo que o projeto tinha sido adiado outra vez, para depois do ano-novo.

ISSO ABRIU CAMINHO PARA UM PLANO maluco que até então eu não vinha levando muito a sério: voltar de surpresa e reconquistar o campeonato mundial de fisiculturismo e o título de Mister Olympia. Nos quatro anos desde o lançamento de O homem dos músculos de aço, o esporte tivera um crescimento espantoso. Academias se multiplicavam por todo o país, e a musculação era uma parte essencial das atividades oferecidas. Joe Gold vendeu sua academia original para uma franquia e abriu uma nova chamada World Gym, grande e perto da praia, que aceitava homens e mulheres.

O Mister Olympia ia de vento em popa. Em um dos esforços de Joe Weider para expandi-lo mundialmente, a Federação Internacional de Fisiculturismo (IFBB, na sigla em inglês) realizaria a disputa daquele ano em Sydney, na Austrália. Na verdade, eu estava escalado para participar do evento como comentarista da rede de televisão CBS. O cachê era ótimo, mas fui ficando cada vez menos atraído pela ideia à medida que me animava a voltar a competir. Ao tomar forma em minha mente, essa visão se tornou irresistível. Reconquistar o lugar de honra do esporte seria a preparação perfeita para Conan. Eu iria mostrar a todo mundo quem era o verdadeiro rei – e o verdadeiro bárbaro. Frank Zane detinha o título havia três anos, e pelo menos uma dezena de competidores tentaria derrotá-lo, incluindo caras com quem eu cruzava na academia todos os dias. Um deles era Mike Mentzer, um nativo da Pensilvânia de 1,73 metro que terminara em segundo lugar no ano anterior por uma diferença mínima. Ele estava se promovendo como o mais novo guru da musculação e porta-voz do esporte e vivia citando a filosofia objetivista da escritora Ayn Rand. Volta e meia circulavam boatos de que eu voltaria a competir e eu sabia que, se os negasse e esperasse até a última hora para anunciar minha participação, a incerteza iria atormentar pessoas como ele.

Maria achava tudo isso uma insensatez. “Você agora administra as competições”, assinalou ela. “Você deixou o fisiculturismo como um campeão, e essa manobra poderia fazer as pessoas se voltarem contra você. Além do mais, você pode não vencer.” Eu sabia que ela estava certa, mas o desejo de competir não me abandonava. “Se você está com tanta energia extra assim, por que não aprende espanhol antes de ir filmar na Espanha?” Depois de ver Teddy perder a indicação do Partido Democrata à corrida presidencial, Maria não queria mais nenhum risco em sua vida. Na noite anterior, tivera um ataque quando Muhammad Ali, que largara a aposentadoria para tentar se tornar campeão do mundo de pesos pesados pela quarta vez, fora aniquilado pelo então detentor do título, Larry Holmes. Era como se isso fosse um aviso.