Выбрать главу

O mundo via nosso relacionamento de uma forma superficial demais, como uma mera história de sucesso sensacionalista. “Não é incrível ele ganhar o Mister Olympia e todos aqueles outros campeonatos de fisiculturismo, depois conseguir um grande contrato no cinema e ainda começar a namorar uma Kennedy?” Segundo esse raciocínio, Maria era apenas mais um item da minha coleção de troféus.

Mas a realidade é que ela não era um troféu. E o sobrenome dela pouco importava para mim. Se não tivéssemos a ver um com o outro, nunca teríamos ficado juntos. Sua personalidade, sua aparência física, sua inteligência, sua sagacidade, toda a contribuição que ela trazia à minha vida e sua capacidade de agir sem perder tempo: eram essas coisas que eu julgava importantes. Maria se encaixava perfeitamente em tudo o que eu era, no que eu representava e no que estava fazendo. Esse foi um dos motivos que me levaram a pensar que ela talvez fosse a mulher da minha vida. Fiquei viciado em Maria. Quando cheguei à Espanha, foi difícil ficar longe dela.

Eu compreendia o que ela queria realizar. Seu desejo era se tornar uma nova Barbara Walters. O meu era me tornar o maior astro do cinema, portanto estávamos os dois muito decididos. Eu entendia o mundo para o qual ela queria entrar, e ela entendia aquele que eu estava tentando explorar e ao qual eu queria chegar, então podíamos fazer parte da jornada um do outro.

Eu também sabia o que a atraía em mim. Maria tinha uma personalidade tão forte que simplesmente passava como um trator por cima dos rapazes. Eles se tornavam seus escravos na mesma hora. Mas eu era impossível de domar. Era um cara seguro, que realizara coisas, que era alguém. Ela admirava o fato de eu ser um imigrante que chegara aos Estados Unidos e conseguira construir a própria vida. Podia ver, pela minha personalidade, que eu seria capaz de compreender sua família e me sentir à vontade na sua companhia.

Maria queria se afastar de casa tanto quanto eu quisera – e que melhor forma de fazer isso do que se apaixonar por um ambicioso fisiculturista austríaco que almeja uma carreira de ator? Ela gostava de viver longe de Washington, dos advogados e políticos, das conversas da capital. Queria ser única, diferente.

Se havia um casal na sua família com o qual Maria pudesse nos comparar, era o formado por seus avós. Joe, assim como eu, vencera na vida começando do nada. Quando se tratava de ganhar dinheiro, era muito agressivo, também como eu. Rose o escolhera porque tinha fé absoluta na capacidade de sucesso de Joe. Na época ele ainda não tinha um centavo e John Francis Fitzgerald, o “Honey Fitz”, pai de Rose, já era prefeito de Boston. Eu era incansável, disciplinado, ativo e inteligente o suficiente para chegar lá também. Era isso que fazia Maria querer ficar comigo.

O que eu representava fisicamente também contava. Ela gostava de rapazes atléticos e fortes. Maria me contou que, quando era pequena e John Kennedy estava na presidência, ela convivia com os agentes do serviço secreto em Hyannis. À noite, quando eles estavam de plantão tentando se manter acordados, às vezes liam revistas de malhação – comigo na capa! Ela era jovem demais para prestar atenção a isso, mas reparou que todos aqueles guarda-costas malhavam. Isso ficou tão marcado na sua cabeça que, quando o livro Pumping Iron foi publicado, ela comprou um exemplar de presente para Bobby, seu irmão mais velho.

Antes de eu partir, em dezembro, para começar a pré-produção de Conan, começamos a decorar nossa casa. Maria apreciava cortinas florais e um visual conservador, e eu compartilhava seu gosto. O estilo lembrava muito a Costa Leste, e um pouco a Europa também. Ela tinha herdado essa preferência de sua família. Todos os Kennedy tinham sido criados em casas adornadas com estampas florais e um determinado tipo de sofá e cadeira com encosto de madeira ou estofado. Todas as residências da família tinham um piano na sala, dezenas de porta-retratos de parentes sobre todos os aparadores e superfícies, e coisas assim.

O meu estilo era mais rústico, então, quando precisamos de um conjunto de móveis de jantar, fui a uma feira de antiguidades no centro de Los Angeles e comprei uma pesada mesa de carvalho com cadeiras no mesmo feitio. Maria se encarregou da sala de estar. Encomendou sofás enormes e mandou forrá-los com os tais tecidos florais. Depois comprou poltronas de cores lisas para complementá-los. Eunice tinha uma amiga que era ótima decoradora e ajudou com sugestões.

Maria e eu também tínhamos em comum a ideia de que nossa casa tinha que ser confortável. Nenhum de nós queria uma decoração tão exagerada a ponto de não se poder pôr os pés para cima e relaxar. Como vi que ela tinha bom gosto, dei carta branca para ela fazer o que quisesse. Era ótimo estar com uma pessoa que tinha opiniões firmes como eu, mas ainda assim poder trabalhar em parceria com ela, em vez de acabar tendo que fazer tudo sozinho e viver me perguntando: “Será que ela gosta disso? Será que gosta daquilo? Será que esta casa só tem a minha cara?” Maria tinha uma grande base de conhecimento e era uma ótima parceira, então ambos pudemos evoluir.

Ela adorou quando a levei à feira de antiguidades para olharmos móveis antigos. Meu gosto havia se apurado com os anos – em parte por ver os objetos que Joe Weider colecionava –, mas ainda não era refinado, e eu não comprava nada acima de determinado valor. A compra sempre dependia de quanto dinheiro eu tivesse e de quanto quisesse gastar. Jamais mandara fazer um móvel sob medida – simplesmente comprava o que houvesse na loja ou procurava alguma promoção. Agora que tinha engrenado as filmagens de Conan, porém, tinha a sensação de que podia abrir um pouco mais o bolso e mandar forrar as peças com os tecidos de que Maria gostava.

Todo esse processo transcorreu sem aborrecimentos. Ficou claro que éramos bons companheiros e podíamos morar juntos, algo que desejávamos tentar. Eu me interessava por arte, em parte também graças à influência de Joe Weider. Para apurar meu gosto, eu frequentava muitos museus, leilões e galerias, e Maria e eu gostávamos de ir a esses lugares juntos. Comecei a colecionar peças. No início, só podia comprar obras mais baratas, como litografias de Marc Chagall, Joan Miró e Salvador Dalí, mas logo passei para pinturas e esculturas.

A ideia de nos casarmos surgiu pouco antes da data marcada para minha viagem à Espanha. Eu queria que Maria estivesse lá comigo e fizesse parte da minha carreira. Era óbvio que ela era a mulher ideal para mim, ainda mais depois de tudo o que havíamos passado juntos durante aquele verão e aquele outono.

Convidei-a para ir ficar comigo no set, ou pelo menos ir me visitar e passar algum tempo lá. Ela disse que não podia, porque a mãe e o pai não iriam aprovar. Ficariam incomodados ao saber que ela estava comigo na locação e que estávamos dormindo juntos, pois não éramos casados.

– Bom, então por que não nos casamos? – perguntei.

Mas isso foi ainda pior. Ela praticamente surtou ao pensar em como a mãe iria reagir.

– Não, não, não – falou, balançando a cabeça. – Eu nunca poderia fazer uma pergunta dessas a ela.

Eunice havia se casado já mais velha – tanto que isso fazia parte do folclore da família. Antes disso, quisera fazer muitas outras coisas. Depois que se formou em sociologia na Universidade de Stanford durante a Segunda Guerra Mundial, ela havia trabalhado no Departamento de Estado, ajudando ex-prisioneiros de guerra que retornavam aos Estados Unidos a se readaptarem à vida civil. Depois da guerra, trabalhara como assistente social no Departamento de Justiça, atendendo delinquentes juvenis em um presídio federal feminino na Virgínia Ocidental e em um abrigo para mulheres em Chicago. Sarge, que parecia um astro de cinema e administrava o tradicional centro atacadista Chicago Merchandise Mart para Joe Kennedy, apaixonara-se por ela em 1946 e passara sete anos lhe fazendo a corte. Já havia praticamente perdido as esperanças quando um belo dia ela o levou até uma capela lateral depois da missa matinal e disse: “Sarge, acho que gostaria de me casar com você.”