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O fato é que ela só havia se casado com 30 e poucos anos, depois de ter feito muita coisa na vida. Por isso Maria não via o menor problema em não se casar agora, aos 25 anos, e preferia esperar até completar pelo menos 30. Havia muitas coisas que queria conquistar antes.

Fiquei contente ao saber que o problema não era comigo, mas sim o fato de o casamento não estar em seus planos por ora. Casar também não era necessariamente um desejo meu àquela altura, embora eu quisesse tanto estar com ela que tinha mudado de ideia. Sabia que sentiria uma saudade imensa de Maria no set. Por outro lado, a situação na verdade era perfeita. Agora podíamos continuar namorando por muitos anos sem eu ter que ouvir: “Qual é o futuro desta relação? Já namoramos há anos e você continua incapaz de se decidir...” Ou então: “Eu não sou boa o suficiente? Você está procurando outra pessoa?” Em vez disso, o assunto simplesmente morreu.

Eu poderia passar horas falando sobre o que me atrai em Maria e mesmo assim não conseguir explicar a magia por completo. Ronald Reagan era famoso por escrever longas cartas de amor para a mulher, Nancy, enquanto ela estava sentada bem do outro lado da sala. Eu costumava pensar: “Por que ele simplesmente não fala com ela?” Mas então percebi que escrever algo é diferente de falar – e também que as histórias de amor se baseiam nas idiossincrasias de cada um.

CAPÍTULO 14

O que não nos mata nos fortalece

CONAN, O BÁRBARO É AMBIENTADO EM UMA Europa primitiva durante a fictícia Era Hiboriana, após o naufrágio de Atlantis, mas milhares de anos antes do alvorecer da história documentada. Cheguei à Madri contemporânea no início de dezembro, quando o projeto estava ganhando forma. John Milius dizia às pessoas que nós queríamos fazer um filme que proporcionasse “uma boa diversão pagã, que fosse em primeiro lugar uma história de amor, uma aventura, um filme em que algo grande acontece” – e também cheio de ação e sangue. “Vai ser bárbaro”, prometeu ele. “Não vou poupar esforços.”

Para levar esse sonho às telas, ele havia recrutado um time de primeira categoria: mestres como Terry Leonard, o diretor de dublês que acabara de trabalhar em Os caçadores da arca perdida; Ron Cobb, diretor de arte responsável por Alien; e Colin Arthur, ex-funcionário do museu de cera Madame Tussaud, para supervisionar a fabricação de manequins e partes de corpos humanos. Quando cheguei, o filme já tinha movimentado uma pequena indústria. A maioria dos atores e os principais membros da equipe estavam hospedados em um elegante hotel na área central de Madri, mas a ação de verdade acontecia em locações espalhadas por toda a Espanha. Duzentos operários trabalhavam na montagem dos sets em um enorme galpão a 11 quilômetros da cidade. As sequências externas seriam filmadas nas montanhas próximas a Segóvia, e também nas espetaculares dunas e nos pântanos de água salgada da Almería, província espanhola localizada no litoral mediterrâneo. Um empório marroquino da capital de Almería seria transformado em cidade hiboriana, e iríamos filmar em uma antiga fortaleza vizinha e outros sítios históricos.

O orçamento da produção, 20 milhões de dólares, era generoso: equivaleria a 100 milhões de dólares hoje em dia. Milius usou o dinheiro para reunir um impressionante arsenal de pessoas e efeitos especiais. Além das dezenas de espanhóis que trabalhavam no filme, ele contratou artesãos, instrutores e coordenadores de dublês da Itália, da Inglaterra e dos Estados Unidos. O roteiro demandava cavalos, camelos, cabras, abutres, cobras, cachorros, um falcão e um leopardo. Mais de 1.500 figurantes foram contratados. A trilha sonora seria executada por uma orquestra de 90 instrumentos e um coro de 24 integrantes, que cantaria em uma língua latina inventada.

Milius fez questão de que cada peça de roupa e cada equipamento estivessem de acordo com o universo fantasioso dos quadrinhos. Todos os objetos de couro ou tecido tinham sido arrastados pelo chão por carros até ficarem sujos e com aparência envelhecida. Selas tinham que ser escondidas debaixo de cobertores e peles, pois, segundo John, na época em que o filme se passava não havia seleiros que costurassem couro. As armas exigiram enorme atenção. As duas espadas de Conan foram forjadas sob medida a partir dos desenhos de Ron Cobb e gravadas com palavras em uma língua inventada. Foram feitos quatro exemplares de cada uma, por 80 mil dólares no total. Naturalmente, John insistiu que essas espadas e todas as outras armas tivessem um aspecto usado, não reluzente. Segundo ele, elas deviam matar, não brilhar. Matar era o mais importante.

Passei o mês de dezembro ocupado decorando as falas, ajudando a planejar as cenas de ação e conhecendo os outros integrantes da equipe.

Milius teve uma abordagem pouco ortodoxa em relação à escolha do elenco: para os outros papéis importantes, selecionou atletas em vez de atores. Para viver meu comparsa, o arqueiro Subotai, ele contratou Gerry Lopez, campeão de surfe havaiano que já interpretara a si mesmo no filme anterior de Milius, Amargo reencontro. Para viver o amor de Conan, a ladra e guerreira Valeria, o diretor escolheu Sandahl Bergman, bailarina profissional recomendada pelo diretor e coreógrafo Bob Fosse. John acreditava que os rigores da musculação e da dança, ou de passar sete horas por dia surfando ondas capazes de matar, forjavam o caráter das pessoas, e estava certo de que isso iria transparecer na tela. “É só olhar para o rosto de quem passou por provações terríveis, gente da Iugoslávia ou da Rússia, por exemplo”, dizia. “Observem as rugas, a personalidade que esses rostos têm. É algo impossível de fingir. Essas pessoas têm princípios em nome dos quais se dispõem a viver ou morrer. Elas são duronas por causa de tudo o que tiveram que enfrentar.”

No entanto, até mesmo um fanático feito John entendia que nossa falta de experiência diante das câmeras talvez fosse constituir um problema. Para nos inspirar e ajudar a neutralizar o risco, contratou também alguns veteranos. James Earl Jones estava acabando de encerrar uma temporada na Broadway como protagonista de A Lesson from Aloes (Uma lição dos aloés), de Athol Fugard, e entrou no projeto para interpretar Thulsa Doom, o malvado feiticeiro e rei que mata os pais de Conan e transforma o jovem herói em escravo. Max von Sydow, astro de muitos filmes de Ingmar Bergman, faria o papel do rei que deseja recuperar a filha que fugiu de casa para se juntar ao culto à serpente de Thulsa Doom.

Uma das preocupações de Milius era encontrar caras maiores do que eu que interpretassem os inimigos de Conan, para não ficar parecendo que seria fácil para o guerreiro derrotar todo mundo. Disto o diretor fazia questão: os atores tinham que ser mais altos e mais musculosos que eu. No circuito do fisiculturismo, eu conhecera um dinamarquês chamado Sven-Ole Thorsen, que media 1,96 metro e pesava mais de 136 quilos. Thorsen era faixa preta de caratê. Entrei em contato com ele a pedido de Milius e o encarreguei de encontrar outros caras grandes. No início de dezembro, apareceram todos em Madri – meia dúzia de dinamarqueses imensos, com um ar realmente ameaçador: praticantes de levantamento de peso, lançamento de martelo e arremesso de peso, além de especialistas em artes marciais. Ao seu lado, eu me sentia um cara pequeno, sensação que jamais tivera na vida. Passamos a nos preparar juntos, treinando técnicas de combate com machados e espadas e praticando montaria. Eu já estava bem adiantado em relação a eles, claro, mas quando as filmagens começaram, em janeiro, os dinamarqueses tinham se aperfeiçoado bastante e contribuíram muito para as cenas de batalha.

Adorei ver tudo isso acontecer à minha volta. Exatamente como previra meu instrutor de dublê em Los Angeles, a máquina do cinema estava girando a meu favor. Eu era Conan, e milhões de dólares estavam sendo gastos para me fazer brilhar. É claro que o filme tinha outros personagens importantes, mas no fim das contas tudo aquilo estava sendo feito para me fazer parecer um guerreiro de verdade. Os sets também tinham sido construídos com esse intuito. Pela primeira vez, eu estava me sentindo um astro.