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Tudo isso tinha um custo. Conan era um projeto complicado, de modo que Buzz, Raffaella, o diretor de arte, o produtor de locação e outros membros da equipe tinham que levar em conta diversos outros fatores. De quantos cavalos iríamos precisar, e de quantos dublês de cavaleiros? Eles poderiam ser obtidos na Espanha ou teriam que ser levados da Itália ou de outros lugares? A Espanha tinha o tipo de deserto, montanha e litoral de que precisávamos? Teríamos autorização para filmar nesses lugares? E as ruínas históricas? Naturalmente, Raffaella e Buzz também queriam ficar dentro do orçamento, então viviam à procura de oportunidades interessantes.

Depois de avaliar outros países em um período de tempo espantosamente curto, eles conseguiram apresentar um resumo dos custos ao estúdio. “Na Espanha, a produção inteira sairá por 18 milhões”, disseram. “Na Itália, por 32. Podemos também filmar em Las Vegas e construir os sets no deserto de Nevada, mas vai ser mais caro ainda. E existe a possibilidade de usarmos estúdios de filmagem em Los Angeles, porém será ainda mais dispendioso.”

As opções eram as mesmas de todas as produções modernas: havia países com uma indústria cinematográfica estabelecida e sindicatos, como a Itália, e países empreendedores, sem sindicatos, como a Espanha. Com ou sem sindicatos, porém, Dino tinha fama de conseguir as coisas. Quando queria filmar 16 horas por dia, ele filmava 16 horas por dia. Nesse sentido, era um cara muito poderoso. As pessoas em Hollywood sabiam disso e não o contrariavam. Se um estúdio queria que uma produção fosse feita por determinado preço, era Dino que ele contratava. No caso de Conan, Dino apoiou a escolha da Espanha feita por Raffaella e Buzz. “Vamos ter que construir o set inteiro dentro de um galpão”, informaram eles ao estúdio, “mas mesmo assim vai sair bem mais barato do que usar estúdios de filmagem de verdade, onde a mão de obra pode nos atrasar.” Nós certamente não tivemos nenhum problema de mão de obra em Conan. Todo mundo trabalhou junto. Quando era preciso mudar um cenário depressa, todos ajudavam transportando equipamentos e trocando as coisas de lugar.

Na realidade, a Espanha era um ótimo lugar para se filmar sob todos os aspectos, com uma pequena exceção: os dublês demoravam demais para morrer. Milius não parava de repetir isto para eles: “Quando ele cortar vocês com a espada, caiam no chão.” Em vez disso, eles exageravam na queda, tornavam a se levantar parcialmente, caíam de novo, arquejavam... Era sua chance de aparecer, então eles queriam aproveitá-la ao máximo. Eu já estava ocupado matando o adversário seguinte quando ouvia Milius gritar para o cara atrás de mim: “Você morreu! Fique no chão! Ele cortou você com a espada, não se mexa!” Mas os dublês pareciam zumbis. Por fim, Milius lhes ofereceu um extra no cachê se eles morressem imediatamente e ficassem mortos.

Esse era o tipo de coisa que ninguém ensina, por mais que você passe anos tendo aulas de interpretação. Apesar de todo aquele papo sobre lembranças sensoriais e sobre entrar no personagem, ninguém o prepara para saber o que fazer quando a máquina de vento está soprando neve na sua cara e deixando você congelado. Nem para quando alguém está segurando uma fita métrica em frente ao seu nariz para medir o foco de um plano. Nessas horas, como é que você vai conseguir pensar naquela bobajada toda de lembranças sensoriais? Toda a ideia de estar no momento presente vai por água abaixo.

Enquanto você tenta atuar, toda uma produção está acontecendo à sua volta. Você tem que lidar com o fato de que há 150 pessoas trabalhando e falando no set. O cara da luz instala escadas na sua frente e pede: “Dá para sair da frente? Não quero que uma lâmpada caia em cima de você.” O responsável pelo som mexe no cós da sua roupa para instalar uma bateria e grita para o cara da câmera sair da frente. O produtor de arte diz: “Gente, preciso de mais plantas no fundo.” O diretor tenta coordenar tudo. O produtor grita: “Daqui a cinco minutos vamos ter que parar para almoçar! Se quiserem filmar, vai ter que ser agora!”

Então o diretor diz: “Arnold, encare seu adversário nos olhos. Com a cabeça bem erguida. Domine essa cena.” Legaclass="underline" nós trabalhamos isso nas aulas de interpretação. Mas e se ele mandou você montar um cavalo que não para quieto e o bicho fica rodando e empinando? Como fazer cara de dominador quando está com medo de o animal enlouquecer e derrubá-lo no chão? Então você tem que parar e ensaiar com o cavalo. Em circunstâncias assim, como fazer para ser verossímil?

Eu nunca tinha feito uma cena de sexo diante das câmeras e achei isso bastante estranho. Um set fechado significa que ninguém de fora pode entrar, mas mesmo assim há várias pessoas presentes: o supervisor de roteiro, técnicos de iluminação, assistentes de câmera... E você está nu. Nas aulas de interpretação, ninguém fala sobre o que fazer em uma cena de nudez quando você fica excitado. Na vida real, uma coisa conduz naturalmente a outra. No set isso pode ser muito constrangedor. Dizem que você deve continuar no personagem, mas acredite, não é isso que eles realmente querem. Tudo o que lhe resta é tentar pensar em outra coisa.

Embora o set estivesse supostamente fechado, as cenas de sexo pareciam ter o efeito de um ímã. Depois de escapar dos lobos, Conan é seduzido por uma bruxa que o põe no encalço de Thulsa Doom. A atriz que interpretava a bruxa se chamava Cassandra Gava, e nós estávamos rolando pelo chão, nus, em frente ao fogo alto da lareira em seu casebre de pedra. Com o canto do olho, reparei que as paredes do casebre se moveram. Uma frestinha se abriu no canto, e pude ver um par de olhos cintilando à luz do fogo.

– Corta! – gritou Millius. – Arnold, para onde você estava olhando?

– Bom, aconteceu uma coisa engraçada – respondi. – Eu vi aquele canto da parede se abrir, e acho que tinha um par de olhos espiando pelo buraco.

Um cara correu para trás do set e ouvimos vozes. Então Raffaella apareceu, toda envergonhada.

– Desculpe, mas não pude resistir! – disse ela.

O verdadeiro amor de Conan no filme é Valeria. Sandahl Bergman também nunca tinha feito uma cena de amor e ficou tão constrangida quanto eu. Não se sabe como, eu devia ser uma estranha mistura de bárbaro e cavalheiro, sem exagerar em nenhum dos dois. Era difícil entrar no clima, porque você nunca tinha a oportunidade de praticar com sua companheira de cena; precisava começar de forma mecânica e fria. Para completar, Sandahl e o coordenador de dublês Terry Leonard haviam se apaixonado, e eu tinha plena consciência de que ele estava assistindo a tudo, certamente pronto para arrancar minha cabeça. Enquanto isso, Milius se esforçava ao máximo para se livrar da censura, dizendo coisas do tipo: “Arnold, pode posicionar sua bunda até ela ficar naquela sombra ali? E não se esqueça de esconder os seios dela com o braço, porque não podemos ter mamilos nesse plano.”

As cenas de ação também tinham os seus riscos. Conan vive em um ambiente de perigos constantes. No mundo da fantasia, nunca sabemos o que vai nos atacar. Um dia pode ser uma cobra, no outro uma bruxa-lobo. Quando gravava essas cenas, eu tinha que ficar sempre alerta.