Para promover a produção, era importante trabalhar todos os aspectos possíveis. Usamos publicações especializadas para formar um público, criando matérias para revistas de artes marciais, de equitação, de fantasia. Elaboramos matérias também para revistas de fisiculturismo, falando sobre como era necessário ter um ótimo condicionamento físico para ser Conan.
Antes de poder ser lançado, é claro, o filme precisava de uma classificação etária. Fiquei muito irritado com a forma como os poderosos executivos do estúdio cederam às vontades dos membros do comitê de classificação. O órgão era formado por indivíduos nomeados pela Associação de Cinema dos Estados Unidos cujos nomes sequer eram divulgados para o público. A maioria era composta por pessoas de meia-idade com filhos já criados, mas elas reagiram a Conan como um bando de senhorinhas: “Ai, quanto sangue! Tenho que fechar os olhos!” Recebemos a notícia de que tínhamos que cortar um pouco da violência explícita.
Pensei: “Onde é que foram arrumar esses imbecis cheios de frescura? Vamos pedir que pessoas jovens e estilosas classifiquem o filme.” Perguntei a um dos caras do estúdio:
– Quem é o responsável por isso? Tem que haver um responsável. Por que vocês não fazem essa pessoa ser demitida?
– Não, não, não, não – respondeu ele. – Não vale a pena mexer nesse vespeiro.
Ninguém estava disposto a lutar por qualquer coisa que fosse.
Eu não entendia que aquilo era um jogo de interesses. A Universal estava produzindo E.T., de Spielberg, que era sua aposta para o verão de 1982. Não queria fazer nada que irritasse o comitê de classificação. O estúdio queria ser amado, queria que Spielberg fosse amado e que E.T. fosse amado também. Aí apareceram Milius e Schwarzenegger matando aquela gente toda na tela. Milius já era o bad boy de Hollywood: um republicano de direita com fama de só dizer barbaridades. E é claro que a Universal nem piscou antes de dizer “Vamos cortar logo essas cenas de Conan para não sermos crucificados na apresentação de E.T. ao comitê semana que vem”, embora E.T. não tivesse nada de mais.
Fiquei muito bravo, porque, na minha opinião, cada uma das mortes de Conan tinha sido bem filmada e estava extraordinária. E daí se a primeira coisa que se via na tela era Thulsa Doom atacando a aldeia de Conan e a cabeça da mãe dele voando pelos ares? Poderíamos dizer que precisávamos dessa cena para que Thulsa Doom fosse visto como o maior dos vilões e para que fizesse sentido Conan ir atrás dele. Mas a verdade é que você se apaixona pelo próprio trabalho. Hoje, pensando bem, acho que o fato de eles terem nos obrigado a atenuar a violência ajudou a aumentar o público do filme.
Essa foi minha primeira experiência com o marketing de um grande estúdio. Uma turnê de coletivas de imprensa estava sendo planejada para a promoção internacional de Conan. Na primeira reunião de que participei, os marqueteiros disseram:
– Nós vamos à Itália e à França.
– Tuuuudo bem – respondi –, mas, se vocês olharem o globo, vão ver que existem outros lugares além desses dois países.
Por ser europeu, eu tinha plena consciência de que havia um mundo inteiro além dos Estados Unidos. No início dos anos 1980, dois terços da receita gerada pelo cinema provinham do público nacional e um terço, do público estrangeiro, mas já dava para ver essa situação começando a mudar. Se você não fizesse uma promoção internacional, quem saberia quanto dinheiro estaria deixando de ganhar?
– Pessoal, por que não fazemos as coisas de modo mais sistemático? – perguntei. – Passamos dois dias em Paris, dois em Londres, dois em Madri, dois em Roma, e em seguida vamos para o norte. Depois podemos ir, por exemplo, a Copenhague, então a Estocolmo, e depois descer até Berlim. O que há de errado nisso?
– Bem, não é assim que nós costumamos fazer. Como você sabe, o filme é lançado em datas diferentes em cada país, e não queremos dar as entrevistas com muita antecedência.
– Então que tal fazer um acordo com as revistas e os jornais desses países para eles só publicarem as matérias depois do lançamento?
– Teríamos que ver se isso é possível.
Eu sabia que outro motivo de sua relutância em me mandar numa turnê promocional era que muito poucos atores gostam de vender. Já tinha visto a mesma coisa acontecer com autores no mercado editorial. A atitude típica parecia ser: “Eu não quero me prostituir. Eu crio, não quero ser um instrumento de propaganda. Não estou nem aí para a questão do dinheiro.”
Tudo mudou de verdade quando eu falei: “Vamos a todos os lugares possíveis, porque isso não é bom apenas para mim financeiramente, é bom também para o público, que vai poder ver um bom filme!” O estúdio acabou concordando em me deixar promover Conan em cinco ou seis países. Interpretei isso como um grande avanço.
Era a mesma discussão que eu tinha tido com meu editor no lançamento do livro Arnold: The Education of a Bodybuilder. Os Estados Unidos representam apenas 5% da população mundial, então por que ignorar os outros 95%? Ambas as indústrias estavam se autossabotando. Joe Weider me ensinara a pensar sempre no mercado global.
Eu sempre me vi, em primeiro lugar, como um homem de negócios. Muitos atores, escritores e artistas se consideram acima do marketing. No entanto, seja qual for o seu ramo de atuação, vender faz parte do pacote. É impossível fazer filmes sem dinheiro. Mesmo que eu não tivesse nenhuma obrigação contratual relativa à publicidade, era do meu interesse promover o filme e garantir que ele gerasse o máximo de dinheiro possível. Eu queria participar das reuniões. Queria que todos vissem que eu estava trabalhando duro para conseguir retorno para o investimento do estúdio. Sentia que era minha responsabilidade inflar a bilheteria.
A virada de Conan veio em 1982, logo depois do Dia dos Namorados nos Estados Unidos, 14 de fevereiro. A primeira sessão de teste, em Houston, foi um sucesso tão grande que a Universal não conseguiu acreditar nos números: em uma escala de 1 a 100, os espectadores deram ao filme a nota 93, o que quase sempre anuncia um grande sucesso. Nessa noite, o estúdio me ligou e disse: “O negócio está fervendo. Queremos fazer outra sessão em Las Vegas amanhã. Se conseguirmos, você pode ir?” Na tarde seguinte, ao passar de carro em frente ao cinema, vi que aquela não era uma sessão comum. A fila dava a volta no quarteirão – além dos fãs de quadrinhos, que a Universal já esperava, havia fisiculturistas de camisa apertada e músculos saltados, gays, esquisitões de cabelos e óculos estranhos, gente fantasiada de Conan... Havia algumas mulheres, mas o público parecia ser majoritariamente masculino, incluindo um grupo grande de motociclistas, todos com roupas de couro. Alguns pareciam dispostos a se rebelar caso não conseguissem um lugar na plateia. A Universal simplesmente foi abrindo outras salas até todos poderem sentar – foram necessárias três para acomodar todo mundo.
O estúdio estava apostando nos fãs inveterados de Conan nos quadrinhos e nos romances de fantasia para fazer do filme um sucesso. Essas pessoas deveriam constituir a principal fatia do público – gente que, quando gosta de um filme, vai assistir várias vezes e conta para todos os amigos. Só que a Universal não havia previsto o meu pessoaclass="underline" os fisiculturistas. Nessa noite, em Vegas, eles deviam representar um terço dos espectadores, e dá para imaginar as notas que deram a Conan. Sem eles, o filme talvez tivesse alcançado uma nota 88, mas com sua presença chegamos de novo a 93, como em Houston. O estúdio ficou muito animado. E Dino de Laurentiis surtou. Ele veio me procurar e falou que tinha me transformado, ou ia me transformar, em um astro – por causa de seu sotaque, não consegui entender se ele tinha usado o verbo no passado ou no presente, mas dessa vez não fiz nenhuma piada a respeito.