Enquanto isso, as vendas dos meus livros iam de vento em popa: eu era publicado por uma grande editora e um agente literário cuidava dos títulos. Estávamos dando os retoques finais na Encyclopedia of Modern Bodybuilding (Enciplopédia do fisiculturismo moderno), projeto enorme no qual eu vinha trabalhando havia três anos com o fotógrafo Bill Dobbins. Para aproveitar o frenesi de ginástica proporcionado pelos vídeos de exercícios de Jane Fonda, também gravei minha própria edição, Shape Up with Arnold Schwarzenegger (Fique em forma com Arnold Schwarzenegger), e lancei edições atualizadas dos meus livros Arnold’s Bodyshaping for Women e Arnold’s Bodybuilding for Men (Método de fisiculturismo de Arnold para homens). Tudo isso me obrigou a fazer mais turnês promocionais, algo com que não me importei nem um pouco.
A toda hora surgiam coisas novas das quais tínhamos que cuidar. Por exemplo, Lynn podia dizer:
– Estamos recebendo uma enorme quantidade de correspondência de gente querendo um cinto com pesos igual ao que você usou em O homem dos músculos de aço.
– Então vamos incluir isso – dizia eu.
E todos nós nos reuníamos para criar o produto. Não podíamos comprar os cintos prontos, pois nesse caso não haveria lucro. Então onde poderíamos conseguir o couro? Tínhamos que contratar um fabricante. E a fivela? Como poderíamos dar ao cinto um aspecto usado e respingado de suor, para que parecesse autêntico? Começávamos a ligar para nossos contatos e para empresas até encontrar todos os elementos. Em poucos dias, já tínhamos tudo organizado. Então a próxima pergunta era: como embalar os cintos? Como entregá-los depressa e a um custo baixo?
Eu vivia pressionando todo mundo, e do ponto de vista de Ronda, Anita e Lynn o trabalho podia ser enlouquecedor. Tínhamos que conciliar projetos de cinema, imóveis e fisiculturismo. Eu vivia correndo de um lado para outro, falando com pessoas de todas as áreas. Não parava nunca. Mas as três não eram funcionárias comuns, que batiam o ponto para ir embora depois de oito horas de trabalho. Elas se tornaram praticamente membros da minha família. Protegiam umas às outras e me viam como um desafio. Ajustavam seu ritmo ao meu – quando eu acelerava, elas aceleravam também.
Criar essa atmosfera não exigiu nenhum esforço extraordinário ou genialidade gerencial. Para começar, as três eram pessoas calorosas, incríveis. Eu lhes pagava um salário justo e recorria à minha criação austríaca para ser um bom patrão. Um plano de aposentadoria e um ótimo plano de saúde eram benefícios automáticos – ninguém precisava pedir. E eu pagava 14 salários ao ano, em vez de 12 – o décimo terceiro era relativo às férias de verão e o décimo quarto era um bônus de Natal, para que elas pudessem presentear suas famílias no fim do ano. Era essa a tradição na Áustria e, como não faltava dinheiro no meu escritório, eu podia arcar com isso.
Minha outra técnica era fazê-las se sentir incluídas. Assim como eu, as três estavam aprendendo enquanto faziam. Quando eu estava no escritório, analisávamos coletivamente tudo o que estava acontecendo comigo. Elas se sentavam juntas e cada uma dava sua opinião. Ainda que eu não concordasse, levava o que elas diziam em consideração. O mais engraçado é que as três eram democratas liberais. Mesmo quando contratamos mais gente, era raro encontrar outro republicano naquele escritório que não eu.
Para mim, o trabalho não parecia nada puxado – era apenas normal. Você faz um filme ou escreve um livro, promove-o até não poder mais, viaja pelo mundo, porque o mundo é o seu mercado, e, enquanto isso, malha, cuida dos negócios e explora ainda mais oportunidades. Era tudo uma diversão, e foi por isso que nunca pensei: “Ai, meu Deus, olhe só quanto trabalho. Que pressão!”
Quando tinha que trabalhar à noite, às vezes era para ir a uma reunião a fim de falar sobre filmes. E isso por acaso era uma coisa ruim? Eu estava falando sobre filmes! Ou então algum grande homem de negócios pedia que eu pegasse um avião até Washington, o que também era ótimo – muitas risadas e charutos. Eu ia assistir a um discurso de Reagan e à meia-noite seguíamos todos para alguma sex shop para conferir as últimas novidades. Era bem engraçado ver o outro lado daqueles conservadores caretas.
Para mim, portanto, trabalho significava apenas descobertas e diversão. Se ouvisse alguém reclamar dizendo “Ah, eu trabalho muito, fico no escritório 10, 12 horas por dia”, eu crucificava a pessoa. “Que papo é esse, porra, se o dia tem 24 horas? O que mais você faz?”
Adorava a variedade que havia na minha vida. Um dia era uma reunião sobre a construção de um prédio comercial ou de um shopping para tentar maximizar espaço. O que seria necessário para conseguir os alvarás? Quais eram as questões políticas relacionadas ao projeto?
No dia seguinte, ia conversar com o editor de meu último livro sobre as fotos que precisavam entrar no projeto. Depois trabalhava com Joe Weider em uma reportagem de capa. Em seguida ia a uma reunião sobre algum filme. Ou então estava na Áustria, discutindo política com Fredi Gerstl e seus amigos.
Tudo o que eu fazia poderia ter sido um hobby. E, de certa forma, era isso mesmo. Eu tinha paixão por todas as minhas atividades. Minha definição de vida é estar sempre empolgado – é essa a diferença entre viver e existir. Mais tarde, quando fiquei sabendo sobre o Exterminador, adorei a ideia de ele ser uma máquina que nunca precisava dormir. Pensei: “Imagine que vantagem seria ter essas seis horas a mais todos os dias para fazer outra coisa. Daria para aprender uma nova profissão. Daria para aprender a tocar um instrumento.” Seria inacreditável, pois para mim a questão sempre tinha sido como conseguir encaixar no meu dia todas as coisas que queria fazer.
Assim, eu quase nunca considerava minha vida agitada. Esse pensamento raramente me passava pela cabeça. Foi só mais tarde, quando Maria e eu passamos de namorados a noivos e em seguida nos casamos, que comecei a ter o cuidado de equilibrar o trabalho e a vida pessoal.
QUANDO QUIS APRENDER MAIS SOBRE negócios e política, usei a mesma abordagem de quando decidira aprender a atuar: tentei conhecer o maior número possível de pessoas que fossem realmente boas naquilo. Um dos lugares para encontrá-las era o Regency Club, refúgio recém-inaugurado para a elite empresarial de Los Angeles. O clube ocupava o último andar e a cobertura de um novo arranha-céu no Wilshire Boulevard, com uma ampla vista de toda a área da cidade. Tanto o prédio quanto o clube pertenciam a David Murdock, um dos homens mais ricos de lá. A vida dele era mais uma daquelas incríveis histórias americanas de ascensão da miséria à riqueza. Nativo de Ohio, David abandonara a escola e, depois de servir na Segunda Guerra Mundial, transformara um empréstimo de 1.200 dólares em imóveis no Arizona e na Califórnia. Chegara a dono de boa parte da mineradora International Mining e da petroleira Occidental Petroleum, bem como de imóveis e hotéis, e colecionava animais, orquídeas, móveis raros e lustres. Sua mulher, Gabrielle, designer de interiores nascida e criada em Munique, havia decorado o novo clube ao estilo do Velho Mundo, sóbrio e elegante. Isso reforçava a atmosfera do lugar: muito refinado, muito exclusivo. Ninguém entrava lá sem gravata.
Pete Wilson, que conquistara sua vaga no Senado federal americano durante os meses que passei promovendo Conan, o bárbaro, mais tarde começou a frequentar o clube com sua equipe. O mesmo aconteceu com George Deukmejian, que se tornara governador ao derrotar o democrata Tom Bradley na mesma eleição de 1982. Membros importantes do governo Reagan de passagem pela cidade iam jantar e relaxar no Regency. Vários empresários conservadores eram frequentadores assíduos, bem como alguns agentes de Hollywood e executivos do show business liberais. Comecei a ir ao clube para participar de eventos pró-Wilson, a fim de apoiar sua bem-sucedida tentativa de substituir Deukmejian em 1990. Aos poucos, fui expandindo meu círculo de amizades.