Выбрать главу

O restaurante Guido’s, no Santa Monica Boulevard, era outro ótimo lugar para fazer contatos e absorver ideias. Da mesma forma, se você quisesse conviver com atores, havia a lanchonete no número 72 da Market Street, em Venice, ou a Rock Store, em Malibu Canyon, se quisesse encontrar motociclistas. Levei Maria ao Regency várias vezes, mas, embora ela gostasse da decoração de Gabrielle, os frequentadores conservadores e o caráter exclusivo do lugar lhe desagradavam. Eu também não gostava muito daquela formalidade toda, mas era preciso ter disciplina e abraçá-la. Eu achava que não havia motivo para não conseguir jogar nos dois times: manter minha personalidade atrevida, usar botas de motociclista e roupas de couro, e ter um lado conservador, com ternos e gravatas elegantes e sapatos wingtip de fabricação britânica. Queria me sentir à vontade nos dois mundos.

Maria e eu também frequentávamos os círculos liberais. Na verdade, foi graças a um convite de Jane Fonda que tive meu primeiro contato com o Simon Wiesenthal Center, em um evento beneficente ao qual ela aceitara comparecer como celebridade e levar convidados. Maria e eu éramos conhecidos dela e do marido, o ativista e membro da Assembleia Estadual da Califórnia Tom Hayden. Eles tinham nos convidado várias vezes para ir à sua casa conhecer líderes políticos ou religiosos, como por exemplo o bispo Desmond Tutu. Na noite do evento beneficente, Jane me apresentou a Marvin Hier, rabino nova-iorquino que se mudara para Los Angeles e fundara o Simon Wiesenthal Center em 1978. Seu objetivo era combater o antissemitismo e promover a tolerância racial e religiosa. Seria de se imaginar que em Hollywood, uma cidade com tantos judeus poderosos, isso seria uma tarefa fácil. Mas o rabino me contou que estava tendo dificuldades.

– Se esse tipo de coisa lhe interessar, sua ajuda seria muito útil – disse-me ele. – Você é um astro em ascensão. No futuro, as pessoas vão prestar atenção em tudo o que fizer. Temos tido dificuldade em conseguir que as pessoas de Hollywood se envolvam mais do que comprando um ingresso ou uma mesa em um evento beneficente. É importante que elas integrem nosso conselho e doem 1 milhão de dólares, ou 3, e promovam eventos para arrecadar fundos. É aí que se consegue dinheiro de verdade, e precisamos dessas doações porque estamos tentando construir um Museu da Tolerância que vai custar 57 milhões de dólares.

– Não estou nesse nível – avisei.

No entanto, a ideia de construir um museu fazia sentido para mim. Se você quiser promover a boa forma e combater a obesidade, precisa de academias; se quiser alimentar as pessoas, precisa de mercados. Portanto, se quiser combater o preconceito, precisa de centros de tolerância por toda parte, lugares que as crianças possam frequentar para aprender, com a história, o que acontece quando as pessoas são preconceituosas e odeiam umas às outras.

Quanto mais eu me informava sobre a missão do rabino, mais sentia que tinha a responsabilidade de aderir a ela. Não sou uma pessoa religiosa, mas pensei: “Isso só pode ser obra de Deus.” Os judeus tiveram um papel crucial na minha vida: Fredi Gerstl, Artie Zeller, Joe e Ben Weider, Joe Gold, meu novo agente de cinema Lou Pitt. Apesar disso, eu não tinha sequer certeza de ser totalmente desprovido de preconceitos. Já fizera comentários preconceituosos, já dissera coisas idiotas. Era quase como se Deus estivesse me dizendo: “Se é assim que você quer ser, então vou colocá-lo nesse lugar onde começa o diálogo da tolerância e você vai arrecadar fundos para eles, vai lutar por eles e vai combater esse lado seu cuja existência ou não só depende de você.” Depois disso, passei a fazer doações regulares para o centro e participei de muitos eventos de arrecadação. O museu, situado em um magnífico prédio, abriu as portas em 1993.

Embora eu não escondesse meu apoio a Reagan e doasse o que podia para candidatos e causas republicanas, mantinha-me afastado do cenário político. Meu foco era a carreira de ator. Quando você promove um filme, quer conquistar todo mundo, e, digam o que disserem, quem faz discursos políticos está fadado a desagradar determinada parcela de espectadores. Por que fazer isso?

Além do mais, eu não era tão famoso assim para que tantas pessoas se interessassem por minhas opiniões, ou para políticos buscarem meu apoio. Não era sequer cidadão americano! Tinha meu green card, pagava impostos e considerava os Estados Unidos meu lar permanente, mas não podia votar. Colava adesivos de candidatos que apoiava no meu carro, mas não fazia discursos.

Quando visitava a Áustria, eu também me mantinha discreto em relação à política. A imprensa de lá me idolatrava como um filho que havia alcançado o sucesso e eu não queria ser rotulado como um cara sabichão que volta para ficar dizendo às pessoas o que fazer. Uma ou duas vezes por ano, durante minha estadia, encontrava meus amigos para saber as últimas novidades dos debates e desdobramentos políticos. Fredi Gerstl, meu mentor político, era agora membro do Conselho Municipal de Graz e tinha uma voz cada vez mais influente em âmbito nacional no conservador Partido Popular. Eu achava esclarecedor conversar com ele sobre como os sistemas americano e austríaco podiam ser comparados: propriedade privada versus propriedade pública das indústrias; democracia representativa versus parlamentarismo; financiamento privado versus finanças públicas. Fredi me permitia ver como funcionavam de fato, na Áustria, as manobras políticas relacionadas a questões importantes, como a pressão para privatizar os sistemas de transporte, as indústrias de tabaco, aço e seguros, e a luta contra o ressurgimento da extrema direita.

Fredi também me apresentou a Josef Krainer Jr., eleito governador da região da Estíria em 1980. Ele era um pouco mais jovem que Fredi e dedicara a vida inteira à política. Seu pai fora governador da Estíria durante toda a minha infância – uma importante figura nacional que ganhara a eleição depois de passar a Segunda Guerra Mundial inteira encarcerado por ser contrário ao Anschluss, a ocupação e anexação da Áustria pela Alemanha nazista em 1938. Josef Jr. havia estudado na Itália e nos Estados Unidos, e suas opiniões eram uma interessante mistura de conservadorismo econômico e defesa do meio ambiente que eu considerava muito atraente. Outro bom amigo meu era Thomas Klestil, diplomata de carreira meteórica que era cônsul-geral em Los Angeles quando eu chegara lá. Ele agora era embaixador da Áustria nos Estados Unidos e, alguns anos mais tarde, seria eleito presidente da Áustria, em sucessão a Kurt Waldheim.

Relações como essas me fizeram relutar em abrir mão da cidadania austríaca em 1979, ano a partir do qual poderia solicitar a naturalização nos Estados Unidos. (Eu já ultrapassara o período mínimo de posse do green card, cinco anos.) Não gosto de cortar coisas da minha vida – eu apenas somo. Assim, o ideal seria a dupla cidadania. No entanto, embora os Estados Unidos permitissem isso, a lei austríaca me obrigava a optar – eu não podia ter as duas nacionalidades. As raras exceções em geral se aplicavam a diplomatas de carreira excepcional, e a decisão cabia ao governador de alguma das regiões austríacas. Perguntei a Fredi o que deveria fazer. Ele me disse que, com Josef Krainer Jr. prestes a se candidatar a governador, o mais sensato seria simplesmente esperar. Três anos depois, fiquei profundamente honrado quando Josef me concedeu a exceção. Comemorei levando Maria para jantar no número 72 da Market Street e solicitei imediatamente a cidadania americana.