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James Cameron, o diretor, um cara magrelo e agitado, foi quem teve a ideia dessa história esquisita. Nesse dia, durante o almoço, nossos santos bateram. Assim como muitos artistas que moravam em Venice, Cameron me pareceu muito mais real do que meus conhecidos que moravam, digamos, em Hollywood Hills. Ele só tinha feito um filme, um longa de terror italiano chamado Piranhas II: Assassinas voadoras do qual eu nunca ouvira falar, mas isso me agradou. Ele me contou como aprendera a fazer filmes com Roger Corman, o gênio da produção e da direção de baixo orçamento. Só pelo vocabulário de Cameron, já pude ver que ele entendia do negócio. Parecia saber tudo sobre câmeras e lentes, sobre a forma de se montar um plano, sobre luzes e iluminação, sobre direção de arte. E conhecia também os atalhos para poupar dinheiro que permitem fazer um filme por 4 milhões de dólares em vez de 20. E esse era o orçamento previsto para O exterminador do futuro: 4 milhões.

Toda vez que eu falava no filme, percebia que estava mais interessado no personagem do Exterminador que no de Reese, o herói. Eu conseguia visualizar o Exterminador muito claramente.

– Uma das coisas que me preocupam é que o ator que for interpretar o Exterminador, seja ele O. J. Simpson ou outro qualquer, precisa se preparar da maneira adequada. Isso é muito importante. Porque, pense bem, se o cara for mesmo uma máquina, não vai sequer piscar o olho antes de atirar. Quando carregar um novo pente na arma, não vai precisar nem olhar, pois quem vai estar fazendo isso é uma máquina, um computador. Quando matar, não haverá absolutamente nenhuma expressão no seu rosto, nem alegria, nem vitória, nada. – Nenhum pensamento, nenhum piscar de olhos, apenas ação.

Eu disse a Cameron como achava que o ator deveria se preparar para isso. No exército, aprendíamos a desmontar e remontar as armas apenas pelo tato. Éramos vendados e tínhamos que desmontar uma metralhadora toda suja de lama, limpá-la e montá-la outra vez.

– É esse o tipo de preparação que ele deveria fazer – falei. – Não é muito diferente do que eu fiz em Conan.

Contei-lhe como passara horas treinando para aprender a manejar uma espada e a decapitar pessoas como se já tivesse nascido sabendo fazer isso.

Quando pedimos o cafezinho, Cameron de repente perguntou:

– Por que você não faz o Exterminador?

– Não, não, não quero que pareça que estou retrocedendo.

O Exterminador tinha ainda menos falas que Conan (acabou ficando com 18), e eu receava passar a impressão de que estava evitando papéis com falas ou, pior ainda, de que boa parte do meu diálogo fora cortado na edição porque não estava bom.

– Acho que você daria um ótimo Exterminador – insistiu ele. – Basta ouvir você falar... sério, poderia começar o papel amanhã! Não precisaríamos nem conversar outra vez. Você entende o personagem melhor que ninguém. – E ele ainda completou: – Você não fez comentário nenhum sobre Kyle Reese.

Cameron pegou pesado tentando me convencer.

– Muito poucos atores conseguiram transmitir a ideia de uma máquina. – Um dos poucos a ser bem-sucedido, segundo ele, fora Yul Brynner, que interpretara um robô assassino no thriller de ficção científica Westworld: Onde ninguém tem alma. – É algo muito difícil, muito desafiador do ponto de vista da interpretação. E, Arnold, é o papel-título! O Exterminador é você. Imagine só o cartaz: Exterminador: Schwarzenegger.

Respondi que fazer o papel de um vilão não iria ajudar minha carreira. Era algo que eu poderia fazer depois, mas naquele momento eu precisava continuar interpretando heróis, para o público se acostumar comigo na pele desse tipo de personagem e não ficar confuso. Cameron discordou. Pegou um lápis e um papel e começou a desenhar.

– O que vai fazer com o personagem depende de você – argumentou. – O Exterminador é uma máquina. Ele não é bom nem mau. Se o interpretar de forma interessante, pode transformá-lo em uma figura heroica, que as pessoas vão admirar pelo que é capaz de fazer. E tudo depende também do modo como vamos filmar e editar o filme.

Ele então mostrou o desenho que tinha feito de mim como Exterminador. A imagem transmitia com exatidão toda a frieza do personagem. Eu poderia começar a atuar tendo apenas aquele desenho como referência.

– Estou absolutamente convencido de que, se você fizer esse papel, o Exterminador vai ser um dos personagens mais memoráveis que já existiram – continuou Cameron. – Posso ver que você é ele, que é uma máquina, que entende totalmente do que se trata. Esse papel arrebatou você.

Prometi reler o roteiro outra vez e pensar no assunto. A essa altura, a conta do almoço já tinha chegado. Em Hollywood, os atores nunca pagam. Nesse dia, porém, John Daly não conseguiu achar a carteira, Gale Anne Hurd estava sem bolsa e Cameron descobriu que também estava sem dinheiro. Todos se levantaram e apalparam os bolsos como em um esquete de comédia.

Por fim, falei:

– Deixem comigo.

Depois de ter que pedir dinheiro emprestado a Maria para pegar o voo naquela vez, eu nunca mais saíra de casa sem pelo menos mil dólares em dinheiro vivo e um cartão de crédito sem limite. Então paguei a conta e todos eles ficaram muito constrangidos.

Meu agente se mostrou cético. A opinião comum em Hollywood é que interpretar um vilão equivale a um suicídio profissional. Além do mais, depois de ter uma visão do meu próprio futuro, tenho muita resistência a mudar de planos. Apesar de tudo isso, vários motivos pareciam fazer de O exterminador do futuro a opção certa. Aquele era um projeto no qual eu poderia aposentar as tangas e usar roupas de verdade! Os argumentos de venda seriam a interpretação e a ação, não apenas eu arrancando a camisa. O Exterminador era o personagem durão por excelência, com roupas transadas e óculos bacanas. Eu sabia que aquele papel me faria brilhar. Podia não ter muitas falas, mas pelo menos me permitiria expandir minhas habilidades e aprender a manusear armas modernas. O roteiro era ótimo, o diretor era inteligente e cheio de garra, e o cachê era bom: 750 mil dólares por seis semanas de filmagem em Los Angeles mesmo. No entanto, o projeto também era pequeno o suficiente para eu não arriscar toda a minha reputação tentando algo novo.

Pensei que, se eu fizesse um bom trabalho em O exterminador do futuro, outras portas poderiam se abrir. O mais importante era que meu papel seguinte não poderia ser de vilão. Na verdade, eu não deveria fazer nenhum outro personagem desse tipo por um bom tempo. Não queria abusar dos deuses do cinema.

Levei apenas um dia para ligar para Jim Cameron e dizer que aceitava interpretar a máquina. Ele ficou felicíssimo, mas sabia que a primeira coisa a fazer era conseguir a liberação de Dino de Laurentiis.

Quando fui falar com Dino em seu escritório, ele não era mais aquele homenzinho enfezado que eu ofendera alguns anos antes. Sua atitude comigo parecia benevolente, quase paternal. Joe Weider já havia me despertado essa mesma sensação várias vezes. Tentei esquecer o fato de Dino ter tirado meus 5% de Conan no início da nossa parceria. Aquilo não tinha importância, decidi, e sempre prefiro ser movido pelos pontos positivos. Em pé na sala dele, fiquei observando as estatuetas e os prêmios de todas as partes do mundo: Oscars, Globos de Ouro, prêmios italianos, alemães, franceses e japoneses. Eu tinha uma enorme admiração por Dino e por tudo o que ele havia conquistado. Desde 1942, ele participara da produção de mais de 500 filmes e produzira oficialmente cerca de 130. Aprender com ele era muito mais importante que aqueles ridículos 5%. Além do mais, ele havia cumprido o acordo de me pagar 1 milhão de dólares por Conan II, o que me permitira alcançar meu objetivo. Eu era grato por isso.