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Não precisei dizer nada para que ele entendesse o que me levara até ali. Dino sabia que eu estava recebendo outras propostas, e acho que o fato de mais pessoas em Hollywood quererem trabalhar comigo fez com que ele me valorizasse mais. Ele também havia percebido que eu tenho uma mentalidade mais parecida com a de um homem de negócios que com a de um ator, e que era capaz de entender os seus problemas.

– Estão aparecendo oportunidades incríveis, e quero estar livre para fazer algumas dessas outras coisas entre um e outro filme do Conan – falei. Lembrei a ele que só poderíamos fazer um Conan a cada dois anos, porque o pessoal do marketing precisava desse intervalo para explorar todo o potencial de cada filme. – Portanto, tenho tempo para outros projetos – argumentei. Contei-lhe sobre O exterminador do futuro e um ou dois outros filmes nos quais estava interessado.

Dino poderia muito bem ter me mantido preso por 10 anos. Mas não, foi flexível. Quando terminei de falar, ele balançou a cabeça e disse:

– Eu quero trabalhar com você e espero que a gente faça muitos filmes juntos. É claro que entendo o seu raciocínio. – O acordo que fizemos foi que eu continuaria a atuar nas sequências de Conan, contanto que elas permanecessem lucrativas. Se além disso eu me comprometesse a fazer um filme de ação contemporâneo com ele, a ser definido posteriormente, ele me liberaria para outros projetos. – Vá fazer o seu filme – falou. – Quando eu tiver um roteiro pronto, ligo para você.

A única outra condição era que eu só seria liberado depois das filmagens de Conan II, porque ele não queria que eu perdesse a concentração. Tive que tornar a falar com Cameron e Daly para saber se eles estariam dispostos a adiar as filmagens de O exterminador do futuro até a primavera seguinte. Eles aceitaram. Falei também com Mike Medavoy.

Em comparação com o primeiro filme, Conan, o destruidor pareceu uma viagem de férias ao Club Med. Filmamos no México, com um orçamento mais ou menos igual ao do anterior, de modo que havia cenários incríveis e bastante dinheiro para bancar a produção. John Milius, no entanto, não estava disponível nem para escrever o roteiro nem para dirigir a continuação. Diante disso, o estúdio assumiu um papel bem mais ativo na produção, o que gerou grandes equívocos, na minha opinião.

A Universal só conseguia pensar em E.T. O sucesso de bilheteria de Spielberg rendera tanto dinheiro que os executivos do estúdio decidiram que Conan também deveria ser transformado em entretenimento para a família. Alguém chegou a estimar que, se Conan, o bárbaro tivesse recebido uma classificação etária de 12 anos em vez de 18, teria uma bilheteria 50% maior. A ideia era que, quanto mais comercial e popular fosse o filme, quanto maior seu potencial de aceitação generalizada, maior seria o seu sucesso.

Só que não dava para transformar Conan, o bárbaro, em Conan, a babá. Ele não era um personagem para crianças de 12 anos. Era um cara violento, que vivia para conquistar e se vingar. O que fazia dele um herói eram o físico, as habilidades de guerreiro, a capacidade de suportar a dor e a noção de lealdade e honra, com uma leve pitada de humor. Suavizar o personagem a fim de que ele se adequasse à censura 12 anos poderia até ampliar o público em um primeiro momento, mas acabaria por prejudicar a série, pois os fãs mais entusiastas de Conan ficariam chateados. É preciso satisfazer primeiro os melhores clientes. Quem eram os leitores dos livros de Conan? Quem eram os fanáticos por seus quadrinhos? Essas pessoas tinham deixado bem claro que adoraram Conan, o bárbaro. Portanto, se quiséssemos que elas adorassem ainda mais a continuação, era preciso melhorar a trama, tornar a história mais ousada e as cenas de ação ainda mais espantosas. Focar na classificação etária era uma decisão equivocada.

Deixei minha opinião bem clara para Dino, Raffaella e o estúdio, e debatemos bastante o assunto. “Vocês estão se vendendo”, falei. “Não estão respeitando o que o filme é. Se ficam constrangidos com a violência ou com o que o personagem representa, talvez devessem desistir de fazer a continuação. Larguem o projeto ou vendam para outra pessoa! Mas não o transformem em algo que ele não é.”

Não adiantou nada. No fim das contas, como estava preso pelo contrato, tive que acatar a decisão deles.

Dessa vez, o diretor foi Richard Fleischer, que trabalhava em Hollywood havia 40 anos e dirigira alguns filmes memoráveis, como Tora! Tora! Tora! e Vinte mil léguas submarinas. Não foi ideia sua transformar Conan em um filme para crianças, mas, aos 66 anos, ele estava feliz por ter um emprego e não iria brigar com o estúdio nem com Dino. Eles o instruíram a dar ao filme um tom de quadrinhos, mais próximo da fantasia e da aventura, e a substituir a filosofia de Nietzsche e a violência por castelos mágicos. Em todos os outros sentidos, Richard foi um diretor incrível para Conan, o destruidor, mas ele fez questão de que seguíssemos essas diretrizes.

Apesar de tudo isso, uma coisa que tornou o filme divertido foi a oportunidade de trabalhar com Wilt Chamberlain e Grace Jones. Raffaella repetira o truque de Milius de contratar não atores interessantes para compor o elenco. Na trama, uma rainha feiticeira promete ressuscitar Valeria, o amor perdido de Conan, se ele for buscar para ela algumas joias e uma presa de animal com poderes mágicos. Para ajudá-lo nessa missão, empresta-lhe sua linda jovem sobrinha, a única humana que pode tocar nas joias, e o capitão da guarda de seu palácio, o gigante Bombaata, que tem ordens para matar Conan assim que eles conseguirem o que procuram.

Bombaata foi o primeiro papel de Chamberlain no cinema. Além de ser um dos maiores jogadores de basquete de todos os tempos, Wilt – cujo apelido era Stilt, “a estaca” –, por causa de seus 2,16 metros, era também uma prova viva de que a musculação não necessariamente faz de você um fisiculturista. Na academia da Universal, ele pegou uma pilha inteira de pesos e fez extensões de tríceps com 109 quilos como se não fosse nada. De 1959 a 1973, era tão potente e competitivo nas quadras que ninguém conseguia tirá-lo do caminho, e pude constatar suas habilidades atléticas no modo como ele manuseava a espada.

As lutas mais interessantes eram entre Wilt e Grace Jones. Ela fazia uma guerreira bandida chamada Zula, que usava uma maça; ela mandou dois dublês para o hospital por acidente com essa arma durante as cenas de luta. Eu já a conhecia do círculo de Andy Warhol em Nova York: modelo, artista performática e estrela da música de 1,86 metro, Grace podia ser realmente uma fera. Passou 18 meses treinando para as filmagens. Ela e Chamberlain não paravam de bater boca no trailer de maquiagem sobre qual dos dois era autenticamente negro. Wilt se referia a ela como afro-americana, e Grace, nascida e criada na Jamaica, perdia as estribeiras. “Eu não sou afro-americana, não me chame assim!”, gritava ela.

O trailer de maquiagem é um lugar do set onde todo mundo conversa. Se alguém está preocupado com alguma coisa, é lá que isso vem à tona. Às vezes as pessoas vão para o trailer a fim de ficar à vontade, se divertir e dar umas risadas. Mas há ocasiões em que chegam procurando briga, por estarem se sentindo inseguras, ou então por terem muitas falas na cena seguinte e estarem com medo, suscetíveis a qualquer coisinha.