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Ele coreografava tudo com precisão, sobretudo as cenas de ação. Contratou coordenadores de dublês e se reuniu com eles antes de filmar para explicar o que queria em cada plano, como um diretor fazendo a marcação em uma peça de teatro. Por exemplo, dois carros saíam de um beco para uma avenida durante uma perseguição, quase trombavam de frente com o tráfego que vinha em sentido contrário e um dos carros derrapava e batia no para-choque traseiro de uma picape que seguia na outra direção. Jim filmava isso como plano geral, depois fazia os planos de outros ângulos. Era tão experiente que os dublês sentiam que podiam realmente conversar com o diretor sobre o seu trabalho. Então eles iam lá e corriam todos os riscos necessários para fazer as cenas.

Às três da manhã, quando eles filmavam, em geral eu estava dormindo no trailer. Só iriam precisar de mim dali a duas horas, então eu aproveitava para tirar um cochilo. Mas, quando via o material no dia seguinte, eu ficava assombrado. Era incrível um diretor ter habilidade e segurança para conseguir aquilo no seu segundo filme.

No set, Cameron conhecia cada detalhe e vivia para lá e para cá ajeitando as coisas. Parecia ter olhos nas costas. Sem nem mesmo olhar para o teto, dizia: “Daniel, caramba, cadê aquele refletor? E já falei para pôr uma bandeirinha nele! Ou será que vou ter que subir lá e fazer eu mesmo essa porra?” Então Daniel, a 30 metros do chão, quase caía do andaime. Como Cameron podia saber? Ele conhecia todo mundo pelo nome e deixava bem claro que ninguém podia sacaneá-lo nem ficar de enrolação. Que ninguém pensasse que poderia se safar de algo assim. Ele gritava, repreendia a pessoa em público e armava um escarcéu, sempre usando um vocabulário preciso que fazia o sujeito da iluminação pensar: “Esse cara sabe mais sobre o assunto que eu. É melhor fazer exatamente o que ele está pedindo.” Para alguém como eu, que não presta atenção em detalhes assim, foi uma escola.

Percebi, no entanto, que Cameron não era apenas um homem detalhista – era um visionário no que dizia respeito à história e ao projeto como um todo, sobretudo à forma como as mulheres são retratadas em cena. Nos dois meses anteriores às filmagens de O exterminador do futuro, ele escreveu os roteiros de Aliens: O resgate e Rambo II: A missão. Rambo mostrou que Cameron sabe muito bem escrever um filme de machões, mas o personagem mais importante de Aliens é uma mulher: Ripley, interpretada por Sigourney Weaver. Em O exterminador do futuro, Sarah Connor também se torna uma poderosa heroína.

Isso não se aplicava apenas aos filmes que Jim fazia. Apesar de a lista das mulheres com quem ele se casou ser bem longa, eram todas mulheres com quem ninguém queria criar confusão. A produtora de O exterminador do futuro, Gale Anne Hurd, casou-se com Jim mais tarde, durante as filmagens de Aliens. Cabia a ela fechar nosso projeto dentro do orçamento – que acabou sendo esticado para 6,5 milhões de dólares. Mesmo essa quantia, porém, era muito enxuta para um filme ambicioso como aquele. Gale, que na época não tinha nem 30 anos, se tornara produtora depois de se formar em Stanford e começara a trabalhar como secretária de Roger Corman. Era apaixonada por filmes e superdedicada ao projeto. No início, ela e a amiga Lisa Sonne, uma das diretoras de arte, foram à nossa casa certo dia às três da manhã para me acordar e falar sobre o filme.

– De onde vocês estão vindo? – perguntei.

– Ah, a gente veio de uma festa – responderam elas.

Estavam meio doidonas. De repente, me peguei conversando animadamente sobre O exterminador do futuro: o que necessitava ser feito, em que precisavam da minha ajuda. Quem é que faz isso às três da manhã? Eu achei fantástico.

Gale costumava me procurar para falar sobre o roteiro, as filmagens e os desafios do projeto. Era uma profissional bem durona, mas podia mostrar toda a sua doçura quando achava que isso iria ajudar. Às seis da manhã, no meu trailer do set, ela se sentava no meu colo e dizia: “Você trabalhou muito esta noite, mas se importa se ficarmos mais três horas com você para continuar a filmar? Senão não vamos conseguir.” Sempre tenho em alta conta pessoas que abraçam um projeto e se dedicam a ele 24 horas por dia. Além do mais, ela precisava de toda a ajuda que pudesse conseguir, pois na verdade não tinha tanta experiência assim em produção. Assim, enquanto muitos atores teriam pegado o telefone para reclamar com seu agente, eu fazia as horas extras de bom grado.

Foi um contraste e tanto passar de uma imensa e cara filmagem da Universal Studios no exterior para o mundo noturno de O exterminador do futuro, em que cada centavo fazia diferença. Eu não fazia parte de uma gigantesca engrenagem, e sentia que não era apenas um ator. Era parceiro dos responsáveis pelo projeto. Gale ficava no trailer ao lado do meu, cuidando da produção, e Jim vivia por perto e me deixava participar de várias decisões. John Daly, que levantara o dinheiro, também era muito presente. Tirando esses três, não havia mais ninguém. Éramos quatro pessoas dando duro para que aquilo acontecesse. Estávamos todos em início de carreira e queríamos fazer algo que desse certo.

O mesmo valia para os principais integrantes da equipe. Eles não eram tão conhecidos nem haviam ganhado muito dinheiro até então. Stan Winston estava tendo sua grande chance na criação dos efeitos especiais do filme, incluindo todas as peças móveis para os assustadores planos fechados. Jeff Dawn, maquiador, e Peter Tothpal, o cabeleireiro que inventou maneiras de os cabelos do Exterminador parecerem espetados e queimados, estavam na mesma situação. Foi incrível quando todos nós obtivemos reconhecimento mundial graças a nosso trabalho.

Não tentei criar nenhuma química com Linda Hamilton e Michael Biehn, que interpretam Sarah Connor e Kyle Reese. Pelo contrário. Os dois ficam muito tempo em cena, mas, no que diz respeito ao meu personagem, eram irrelevantes. O Exterminador era uma máquina. Pouco lhe importava o que os dois fizessem. Ele só estava ali para matá-los e seguir em frente. Os dois me falariam sobre as cenas que filmavam quando eu não estava presente. Tudo bem, contanto que a interpretação fosse boa e eles fizessem o que tinham que fazer. Mas não nos aproximamos. Quanto menos química, melhor. Sério: nunca poderia haver química entre uma máquina e um ser humano! Então eu tentava não pensar neles. Era quase como se eles estivessem filmando seu próprio drama, que não tinha nada a ver comigo.

O exterminador do futuro não foi o que eu chamaria de um set de filmagem feliz. Como se pode ser feliz no meio da noite, explodindo coisas, quando todo mundo está exausto e há uma pressão tremenda para conseguir sequências de ação complicadas e efeitos visuais perfeitos? Era um set produtivo, no qual a diversão era fazer coisas realmente inacreditáveis. Eu pensava: “Que ótimo. Um filme de terror com ação. Pensando bem, nem dá para saber o gênero deste filme, de tão radical que é.”

Eu passava boa parte do tempo com o rosto coberto de cola para prender os dispositivos de efeitos especiais. Por sorte, tenho uma pele resistente, de modo que os produtos químicos nunca chegaram a estragá-la demais, mas era horrível mesmo assim. Quando usava o olho vermelho do Exterminador por cima do meu, sentia o fio que o mantinha aceso esquentar até me queimar. Tive que aprender a operar um braço de efeitos especiais, enquanto o meu próprio braço passava horas amarrado às minhas costas.

Cameron era cheio de surpresas. Um dia, assim que me maquiaram como Exterminador, ele falou: “Entre na van. Vamos filmar uma cena.” Fomos até uma rua residencial próxima e ele tornou a falar. “Está vendo aquela caminhonete ali? Mexemos nela toda. Quando eu der o sinal, ande até a porta do carona, olhe em volta, dê um soco na janela, abra a porta, entre no carro, dê a partida e saia dirigindo.” Não tínhamos dinheiro para pedir autorização à prefeitura e montar a cena do Exterminador roubando um carro como deveria ser, então foi assim que fizemos. Burlar a autorização para manter o filme dentro do orçamento me deu a sensação de estar participando da criatividade de Jim.