Quando voltamos para a margem do lago, é claro, ela começou a pensar em perguntas de todo tipo. “Quando você acha que deve ser a cerimônia?” “Quando seria melhor fazer a festa de noivado?” “Quando devemos fazer o anúncio?”
E me perguntou:
– Você já falou com meu pai?
– Não – respondi.
– Nos Estados Unidos, o costume é falar com o pai da futura noiva para pedir a permissão dele.
– Maria, você acha que eu sou burro? – retruquei. – Se eu perguntasse ao seu pai, ele contaria para sua mãe e ela daria com a língua nos dentes para você em um segundo. O que você acha, que eles são leais a mim? A filha deles é você. Ou então ela contaria para Ethel, Bobby e todo mundo da família antes mesmo de você ficar sabendo. Eu precisava ter a chance de realmente fazer o pedido. Então é claro que não conversei com eles. Na verdade, não falei com ninguém.
Nessa mesma noite, liguei para o pai dela.
– Sei que normalmente eu deveria ter falado com você primeiro, mas não queria dizer nada porque sei que você teria comentado com Eunice, e ela teria contado para Maria – falei.
– Você tem toda a razão. É exatamente o que ela teria feito – disse Sarge.
– Então queria pedir sua permissão agora.
E ele respondeu:
– Arnold, vai ser um grande prazer ter você como genro.
Sargent era sempre muito, muito educado e agradável.
Então contei a novidade a Eunice, que ficou muito animada. Mas tenho certeza de que Maria já tinha ligado para ela antes de mim.
Passamos bastante tempo com minha mãe. Ficamos na sua casa, fomos passear em Salzburgo, viajamos e nos divertimos muito. Depois voltamos para casa e fomos para Hyannis Port. Fizemos uma festinha para comemorar o noivado, com todos sentados em volta da mesa: a família Shriver, Eunice e a irmã Pat, Teddy e a então esposa, Joan, além de muitos primos Kennedy. As mesas lá eram sempre muito compridas e eles recebiam vários convidados para jantar.
Tive que contar nos mínimos detalhes como fizera o pedido. Foi divertido. Todos prestaram atenção em cada palavra que eu disse e não pararam de exclamar: “Ah! Puxa! Sensacional!” Houve muitos aplausos.
“A bordo de um barco a remo? Meu Deus, onde você conseguiu arrumar um troço desses?”
Teddy estava todo animado, falando alto e se divertindo:
– Que incrível! Ouviu isso, Pat? O que você teria feito se Peter a tivesse pedido em casamento a bordo de um barco a remo? Sei que Eunice teria preferido um veleiro. Ela diria: “Barco a remo? Isso não presta. Eu quero é ação!”
– Teddy, deixe Arnold terminar a história.
Todos faziam perguntas ao mesmo tempo:
“Mas, Arnold, e depois, o que Maria fez?”
“Qual foi a expressão no rosto dela?”
“O que você teria feito se ela tivesse dito não?”
Antes de eu conseguir responder, alguém falou: “Como assim, dito não? Maria mal podia esperar que ele fizesse o pedido!”
Foi uma forma tipicamente irlandesa de saborear os mínimos detalhes e transformar tudo em uma grande diversão.
Por fim, depois de algum tempo, Maria teve a chance de falar. “Foi muito romântico”, declarou. E levantou o anel de noivado para todo mundo ver.
CAPÍTULO 17
Casamento e filmes
QUANDO VOCÊ MARCA A DATA E DIZ “Então tá, vamos nos casar no dia 26 de abril do ano que vem”, não tem como prever se vai estar filmando ou não. Quando 1986 foi se aproximando, tentei adiar por algumas semanas a produção de Predador, mas o produtor Joel Silver ficou com medo de esperar e correr o risco de pegar a estação chuvosa. Foi assim que me vi embrenhado na floresta mexicana perto das ruínas maias de Palenque menos de 48 horas antes de subir ao altar. Pela primeira vez na vida, tive que fretar um jatinho para conseguir chegar a tempo do tradicional jantar com a família e os padrinhos na véspera da cerimônia, em Hyannis Port.
No dia programado para minha partida, o lutador profissional Jesse Ventura ficou me seguindo pelo set. Estávamos filmando uma sequência de ação na selva e ele, que não participava da cena, ficou escondido nos arbustos. Quando eu deveria gritar para os outros “Abaixem-se! Abaixem-se!”, ouvimos Jesse entoar com sua voz grave: “Sim, sim, aceito!” Rimos feito uns doidos e erramos várias tomadas. O diretor não parava de perguntar: “Por que vocês não estão se concentrando?”
Maria não gostou de eu ter perdido os preparativos finais. Queria que eu focasse no casamento, mas, quando cheguei, minha cabeça ainda estava no trabalho. Predador tinha graves problemas e, na mente do público, o protagonista é o responsável pelo sucesso de um filme – esteja isso certo ou não. Falou-se até em interromper a produção, e quando isso acontece sempre existe a possibilidade de o filme nunca mais ser retomado. Foi um momento arriscado da minha carreira. Mudei meu foco, claro, mas não consegui me concentrar totalmente no casamento. Enquanto isso, os convidados se perguntavam por que o noivo tinha aparecido com um corte de cabelo militar, à escovinha. Dei o melhor de mim. Embora a situação não fosse ideal, fazer as coisas daquela maneira foi uma aventura divertida.
Não dei ouvidos às histórias de terror que os amigos contavam sobre a vida de casado. “Ah! Agora vocês vão brigar para ver quem vai trocar a fralda.” “Sabe o que faz a mulher inventar que está com dor de cabeça para não ir para a cama com você? Casamento!” “Cara, você não viu nada. Espere só ela entrar na menopausa.” Não liguei para essas coisas. “Deixem que eu descubra tudo isso sozinho”, pedi. “Não quero que me contem nada com antecedência.”
Não se deve pensar demais nas coisas. Tudo tem seu lado negativo. Quanto mais você sabe, menos tende a agir. Se eu soubesse tudo de antemão sobre o mercado imobiliário, o cinema e o fisiculturismo, não teria me envolvido em nenhum dos três. Pois eu sentia o mesmo em relação ao casamento. Talvez eu não tivesse dado esse passo se soubesse tudo o que teria que enfrentar. Eu não estava nem aí! Eu sabia que Maria era a melhor mulher para mim, e só isso importava.
Vivo comparando a vida a uma escalada, não só porque ela envolve esforço, mas também porque a subida me dá tanta alegria quanto alcançar o topo. Imaginava o casamento como uma verdadeira cordilheira de fantásticos desafios, uma sequência interminável de cumes: planejar o casamento, comparecer à cerimônia, escolher onde iríamos morar, decidir quando e quantos filhos teríamos, onde eles iriam estudar e como pagaríamos pelos estudos – a lista era infindável. Eu já havia escalado a primeira montanha ao planejar o casamento, aceitando que aquele era um processo que não podia deter nem modificar. Não importava o que eu pensava das toalhas de mesa, o que iríamos comer, ou quantos convidados deveria haver na festa. Você simplesmente aceita que essas coisas estão fora do seu controle. Estava tudo em boas mãos, e eu sabia que não precisava me preocupar.
Tanto Maria quanto eu tínhamos sido cautelosos em relação ao casamento, e esperado muito tempo: ela estava com 30 anos e eu, com 37. A essa altura ambos parecíamos foguetes em nossas respectivas carreiras. Logo depois do noivado, ela fora promovida a uma das âncoras do noticiário televisivo CBS Morning News e logo iria trocar de emprego para ocupar um cargo igualmente bem remunerado e prestigioso na rede NBC. Os dois empregos eram em Nova York, mas eu já tinha deixado claro que jamais iria prejudicar sua carreira. Se nosso casamento tivesse que ser a distância, daríamos um jeito, de modo que nem sequer precisamos conversar sobre isso na época.
Sempre achei que uma pessoa devesse esperar até se estabelecer financeiramente e deixar para trás o período mais difícil da carreira antes de se casar. Já escutara inúmeros atletas, profissionais do entretenimento e empresários dizerem: “O principal problema é que minha mulher quer que eu fique mais em casa, e eu preciso passar mais tempo no trabalho.” Eu odiava pensar isso. Não é justo pôr sua mulher em uma situação na qual ela precise perguntar “E eu, onde fico?” porque você está trabalhando de 14 a 18 horas por dia para alavancar sua carreira. Sempre quis me estabelecer antes de me unir a alguém, porque a maioria dos casamentos acaba por causa de questões financeiras.