Quando se casa, a maioria das mulheres espera receber determinada atenção, e elas muitas vezes têm como referência o casamento dos próprios pais e a relação que eles tinham. Em Hollywood, o padrão ouro da dedicação matrimonial era Marvin Davis, bilionário do petróleo dono da 20th Century Fox, do resort Pebble Beach e do hotel Beverly Hills. Ele foi casado por 53 anos com Barbara, mãe de seus cinco filhos. Todas as mulheres se derretiam por ele. Durante os jantares em sua casa, Barbara se vangloriava: “Marvin nunca, jamais passou uma única noite longe de mim. Sempre que viaja a trabalho, ele volta para casa no mesmo dia. Nunca dormiu fora de casa. E, quando dorme, ele me leva junto.” E as mulheres diziam a seus maridos: “Por que você não pode ser assim?” Ou então, se a sua mulher estivesse por perto, depois de ouvir isso ela o cutucava ou chutava por baixo da mesa. Pouco depois de Marvin morrer, a revista Vanity Fair publicou uma reportagem revelando que ele estava falido e que Barbara agora se esforçava para tentar dar continuidade a suas causas filantrópicas e arcar com uma série de dívidas. Essa revelação deixou uma porção de esposas de Hollywood muito brava com o seu exemplo.
Eu tinha prometido a mim mesmo que jamais teríamos que usar o dinheiro de Maria – nem o que ela ganhava nem o de sua família. Eu não estava me casando porque ela vinha de uma família rica. A essa altura, o cachê que tinham me oferecido por Predador era de 3 milhões de dólares e, se o filme se saísse bem nas bilheterias, eu embolsaria 5 milhões pelo segundo filme e 10 milhões pelo terceiro, porque tínhamos praticamente conseguido dobrar meu cachê a cada filme. Eu não sabia se me tornaria mais rico que seu avô, Joseph P. Kennedy, mas tinha a forte sensação de que nunca teríamos que recorrer ao dinheiro dos Shriver nem ao dos Kennedy. O dinheiro de Maria era só dela. Nunca lhe perguntei quanto ela tinha. Nunca quis saber qual era o patrimônio dos seus pais. Esperava que fosse tanto quanto eles haviam sonhado em ter, mas não estava interessado nisso.
Também sabia que Maria não iria querer um estilo de vida do tipo apartamento de dois quartos alugado. Eu tinha que lhe proporcionar um nível de vida parecido com o que ela sempre tivera.
Nós dois sentíamos enorme orgulho do que já havíamos conquistado. Depois do noivado, ela escolheu uma casa para que eu comprasse, bem maior e mais luxuosa que aquela em que morávamos. A nova residência, uma mansão em estilo espanhol de 1.115 metros quadrados em um terreno de quase um hectare no alto de Pacific Palisades, tinha cinco quartos e quatro banheiros. Era cercada por lindos sicômoros e sua vista abrangia toda a área de Los Angeles. Nossa rua, a Evans Road, subia o cânion até o Parque Nacional Histórico Will Rogers, com fantásticas trilhas de cavalgada e caminhada, além de um terreno de polo. O parque ficava tão próximo que Maria e eu íamos até lá montados em nossos cavalos – era como uma grande área de lazer que podíamos usar dia e noite.
Nos meses anteriores ao casamento, eu estava ocupado com a promoção de Comando para matar e filmando Jogo bruto – o filme de ação que prometera fazer para Dino de Laurentiis –, além da preparação para começar Predador. Maria, em Nova York, estava mais ocupada ainda. Mesmo assim, conseguimos arrumar um tempo para reformar e decorar a casa. Aumentamos a piscina, instalamos uma banheira de hidromassagem, construímos a lareira que queríamos, arrumamos as telhas, a parte de iluminação e as árvores. Debaixo da casa, onde o terreno descia em direção à quadra de tênis, cavamos para construir mais um piso, que na época servia de vestiário para as quadras, área de lazer e espaço extra para os hóspedes.
Maria escolhera as cortinas e os estofados, mas no final de maio, quando voltei das filmagens de Predador, eles ainda não estavam prontos. Ela só chegaria de Nova York dali a três semanas. Eu queria ter certeza de que a reforma ficaria exatamente como ela havia imaginado, para que pudéssemos nos mudar e ter uma casa perfeita para morar como casal. Portanto, pressionei o decorador para terminar o serviço e se seguiu um frenesi de pintura, montagem de móveis e instalação de obras de arte. Enquanto estava no set de Predador, eu controlava os prestadores de serviço a distância e voltava para Los Angeles nos fins de semana para conferir o andamento da obra. Também tinha um Porsche 928 esperando por Maria na garagem.
Na parede da sala de estar, o lugar de honra foi reservado para meu presente de casamento para ela: um retrato dela em silkscreen que tinha encomendado a Andy Warhol. Eu gostava das gravuras famosas que ele fizera de Marilyn Monroe, Elvis Presley e Jackie Onassis nos anos 1960. Sua técnica era tirar fotos em Polaroid, depois escolher uma para ampliar e servir de base ao silkscreen. Liguei para ele e disse: “Andy, você tem que me fazer um favor. Tive uma ideia maluca. Sabe aqueles quadros de gente famosa que você faz? Bom, quando Maria se casar comigo, ela vai ser famosa! Você vai pintar o retrato de uma celebridade! Vai pintar o retrato de Maria!” Andy riu. “Então eu gostaria de mandá-la ao seu estúdio para posar, aí você tira a foto dela e depois pinta o retrato.” A imagem que ele criou de Maria era um impressionante quadrado com 107 centímetros de lado que reproduzia toda a sua beleza selvagem e toda a sua intensidade. Ele acabou fazendo várias cópias em cores diferentes: uma para o meu escritório, uma para a casa dos pais dela, uma para ele próprio e quatro para a parede da nossa casa, reunidas para formar um gigantesco quadrado de quase 2,5 metros de altura. Litografias e quadros de Pablo Picasso, Miró, Chagall e outros artistas da nossa coleção particular foram pendurados em outros pontos da sala. Entre todas essas lindas imagens, porém, a mais preciosa era a de Maria.
PARTICIPEI BASTANTE DA DECORAÇÃO de nossa casa, mas no casamento em si não dei nenhum pitaco. Os Kennedy têm um sistema já estabelecido para as bodas em Hyannis Port. Contratam os cerimonialistas certos, sabem quais limusines e micro-ônibus devem ser usados e cuidam para que a lista de convidados não fique tão comprida a ponto de as pessoas saírem pelos fundos da igreja. Para a recepção, sabem o lugar exato do terreno no qual instalar as tendas aquecidas para os drinques, o jantar e a pista de dança. Administram o acesso do público e da imprensa para os curiosos poderem ver as pessoas saindo e entrando e os fotógrafos poderem fotografar e filmar o que precisam sem atrapalhar o evento. Nenhum detalhe da comida, da diversão ou da hospedagem dos convidados escapa à organização. E todos se divertem muito.
Franco foi meu padrinho, e convidei algumas dezenas de parentes e amigos, além das pessoas que mais tinham me ajudado na vida: Fredi Gerstl, Albert Busek, Jim Lorimer, Bill Drake e Sven Thorsen, o fortão dinamarquês de quem eu ficara amigo durante as filmagens de Conan. A lista de Maria tinha quase 100 pessoas só da família. Além destas, havia também suas amigas mais antigas, como Oprah Winfrey e Bonnie Reiss, e colegas de trabalho próximos, como o âncora Forrest Sawyer. Havia também nossos amigos em comum e uma galáxia inteira de pessoas maravilhosas que conheciam Rose Kennedy, Eunice ou Sarge: Tom Brokaw, Diane Sawyer, Barbara Walters, Art Buchwald, Andy Williams, Arthur Ashe, Quincy Jones, Annie Leibovitz, Abigail van Buren (a “Dear Abby”), cerca de 50 pessoas ligadas à instituição responsável pelos Jogos Mundiais Olímpicos Especiais, a Special Olympics – a lista era infindável. Ao todo, foram mais de 450 convidados, dos quais eu só devia conhecer um terço.