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Ver tantos rostos novos não me distraiu do casamento. Pelo contrário, tornou o evento ainda mais animado para mim. Foi uma chance de conhecer muita gente, desfrutar de momentos divertidos e brindar à vida. Todo mundo estava muito feliz. A família Shriver e os parentes de Maria foram extremamente gentis. Meus amigos não paravam de vir me dizer: “Arnold, está tudo incrível!” Foi uma festa e tanto para todos.

Minha mãe já conhecia Eunice e Sarge – encontrava-os durante as visitas que fazia aos Estados Unidos toda primavera. Sarge passava o tempo todo brincando com ela. Ele adorava a Alemanha e a Áustria, falava alemão com minha mãe e sabia exatamente como fazê-la se sentir bem. Cantava-lhe canções de cervejaria e a tirava para dançar valsas. Os dois rodopiavam juntos pela sala. Ele sempre comentava como ela havia me educado bem. Falava sobre detalhes da Áustria, sobre as várias cidades que visitara de bicicleta, sobre A noviça rebelde, a história do país, a partida dos russos e a independência, o ótimo trabalho de reconstrução feito pelo povo, sobre como adorava os vinhos austríacos e a ópera. Minha mãe sempre comentava depois: “Que homem agradável. Tão educado... Como eu sei pouco sobre os Estados Unidos em comparação com o que ele sabe sobre a Áustria!” Sarge era um sedutor, um verdadeiro profissional.

No casamento, minha mãe também conheceu Teddy e Jackie. Os dois se mostraram incrivelmente galantes. Teddy lhe ofereceu o braço e saiu com ela da igreja depois da cerimônia. Ele tinha muito talento para gestos gentis e significativos como esse. Cuidar assim da família era a sua especialidade. Quando fomos à sua casa na tarde anterior ao casamento, Jackie se desdobrou para tratar bem da minha mãe. Caroline, sua filha, era a madrinha principal e estava promovendo um almoço para as madrinhas, os padrinhos e os parentes próximos, um total de 30 pessoas. Todo mundo que conhecia Jackie pela primeira vez ficava impressionado, do mesmo modo que eu ficara no restaurante Elaine’s. Ela falava com todo mundo e realmente prestava atenção na conversa. Já fazia alguns anos que eu acompanhava sua trajetória e podia ver por que ela fora uma primeira-dama tão popular. Jackie tinha uma capacidade incrível de fazer perguntas que deixavam você pensando: “Como ela sabia disso?” Sempre fazia meus amigos se sentirem bem recebidos quando eu os levava a Hyannis Port. Minha mãe também se apaixonou por ela.

Nessa noite, minha mãe promoveu o tradicional jantar da véspera do casamento no Hyannisport Club, clube de golfe com vista para a casa dos Shriver. Oferecemos frutos do mar assados à moda austríaca, e a proposta foi misturar a cultura americana com a da nossa terra natal. Cobrimos as mesas com toalhas quadriculadas de vermelho e branco emprestadas por uma cervejaria austríaca e eu apareci vestido com trajes e chapéu típicos de tirolês. O cardápio foi uma combinação de iguarias austríacas e americanas: Wienerschnitzel (costeleta de porco empanada) e lagosta de prato principal, Sachertorte (torta de chocolate com recheio de geleia de damasco) e strawberry shortcake (torta de morangos com creme) de sobremesa.

Houve brindes incríveis nessa noite. Os convidados de Maria falaram sobre a pessoa maravilhosa que ela é e quanto eu ganharia me tornando seu marido. Do meu lado, foi o inverso: que cara incrível e que ser humano perfeito eu sou, e como ela ganharia com isso. Juntos, formaríamos um casal perfeito. Os Kennedy sabem mesmo como celebrar essas ocasiões. Todos entram na dança e se esbaldam. Foi bem divertido para as pessoas de fora. Quanto a meus amigos, era a primeira vez que eles tinham contato com esse mundo. Nunca tinham visto tantos brindes, nem convidados tão animados. Aproveitei a ocasião para dar a Eunice e Sarge sua cópia do retrato de Maria assinado por Andy Warhol.

– Na verdade, não estou levando Maria embora. Isto aqui é para que possam tê-la sempre com vocês – falei. Então fiz uma promessa aos convidados: – Eu amo Maria e sempre vou cuidar bem dela. Ninguém precisa se preocupar.

Sargent também falou:

– Você é o cara mais sortudo do mundo por se casar com Maria, mas eu sou o filho da puta mais sortudo que existe por estar com Eunice. Nós dois temos sorte!

A cerimônia foi na igreja St. Francis Xavier, uma construção de ripas de madeira brancas no centro de Hyannis, a alguns quilômetros da casa. Era sábado de manhã e, quando chegamos, literalmente milhares de pessoas esperavam do lado de fora para nos desejar felicidades. Abaixei o vidro da limusine e acenei para a multidão atrás das barreiras de isolamento. Também havia dezenas de repórteres e equipes de gravação.

Adorei ver Maria atravessar a igreja até o altar. Ela parecia uma rainha, com um lindo vestido rendado, uma cauda bem comprida e 10 damas de honra, irradiando felicidade e calor humano. Todos se acomodaram para a formalidade da missa, na qual os votos matrimoniais são ditos ao final do primeiro terço. Quando chegou o momento, Maria e eu ficamos em pé diante do padre. Estávamos prestes a dizer sim quando de repente a porta dos fundos da igreja fez !

Todos se viraram para ver o que estava acontecendo. O padre olhou por cima de nossas cabeças, e nós também nos viramos para olhar. Recortados na contraluz do vão da porta da igreja, vi um cara magrelo, de cabelos espetados, e uma negra altíssima com um chapéu de pele de marta tingido de verde na cabeça: eram Andy Warhol e Grace Jones.

Os dois pareciam pistoleiros em um faroeste entrando pelas portas de vaivém de um saloon, ou pelo menos foi isso que pensei, pois estava vendo tudo de maneira exagerada. Pensei: “Porra, não acredito que esse cara veio roubar a cena no meu casamento!” Mas, de certa forma, foi maravilhoso. Andy era um cara extraordinário e Grace Jones não conseguia fazer nada com discrição. Maria e eu ficamos contentes por eles terem conseguido chegar, e quando, durante o sermão, o padre recomendou que ríssemos pelo menos 10 vezes por dia quando fôssemos um casal, já estávamos bem encaminhados.

Pouca gente qualificaria sua recepção de casamento de enriquecedora e educativa, mas a minha foi. Quando meu sogro me pegou pelo braço para me apresentar aos convidados, fiquei mais uma vez assombrado com a quantidade de ambientes diferentes que Sarge e Eunice já haviam frequentado. “Este aqui era o chefe da minha operação do Peace Corps no Zimbábue, que na época se chamava Rodésia...” “Você vai adorar este cara: foi ele quem assumiu a operação na época das rebeliões em Oakland, e tivemos que mandar o Vista e o Head Start”, referindo-se aos programas federais de combate à pobreza e de auxílio à infância.

Eu me senti bastante à vontade, pois me considerava um cidadão do mundo, sempre disposto a conhecer o máximo possível de pessoas de diferentes áreas e origens. Foi Sarge quem chamou a maioria dos convidados do mundo da política, do jornalismo, dos negócios e das organizações sem fins lucrativos. Um grupo de pessoas com quem já trabalhara no Peace Corps e no governo Kennedy, ao longo de seus anos na política, em Moscou com a missão comercial que chefiara lá, em Paris quando fora embaixador etc. Outro cara que ele queria que eu conhecesse era de Chicago: “Ele é incrível, Arnold. Uma pessoa extraordinária. Administrou sozinho todo o programa de auxílio humanitário jurídico que iniciei, e agora pessoas sem dinheiro nenhum podem obter aconselhamento e representação jurídica.” E foi assim o dia inteiro. “Arnold, venha cá! Deixe eu lhe apresentar um amigo de Hamburgo. Ah, você vai adorar conversar com ele... esse cara fez um acordo com os russos...”

Quando chegou a hora de dançar, Maria trocou os escarpins por tênis brancos para proteger um dos dedos do pé que havia quebrado na semana anterior. Então, quando Peter Duchin e sua orquestra começaram a tocar uma valsa, ela enrolou a cauda do vestido umas cinco ou seis vezes em volta do pulso e dançamos os passos que tínhamos ensaiado, ganhando muitos aplausos. Meu amigo Jim Lorimer, de Columbus, tinha nos matriculado em aulas de dança de salão, que nos foram muito úteis.