O bolo, de oito andares, era uma réplica do lendário bolo servido no casamento de Eunice e Sarge: de cenoura com glacê branco, mais de 1,20 metro de altura e 284 quilos. Sua aparição provocou uma nova rodada de aplausos.
Durante a recepção, fiz um comentário que pareceu sem importância na hora, mas que iria me atormentar por muitos anos. Teve a ver com Kurt Waldheim, ex-secretário-geral da ONU, que estava concorrendo à presidência da Áustria. Nós o convidáramos para o casamento, assim como outros líderes, entre os quais o presidente Reagan, o presidente da Irlanda – até o papa. Não achávamos que fossem comparecer, mas seria ótimo receber cartas suas para o álbum de casamento. Eu havia apoiado Waldheim como líder do Partido Popular conservador, ao qual era ligado desde os meus tempos de fisiculturista em Graz.
Algumas semanas antes do casamento, o Congresso Judaico Mundial acusou Waldheim de ocultar um passado de oficial nazista na Grécia e na Iugoslávia, na época em que judeus eram enviados para os campos da morte e nacionalistas eram fuzilados. Para mim, foi difícil aceitar isso. A exemplo da maioria dos austríacos, eu o considerava uma grande personalidade – como secretário-geral da ONU, ele fora não apenas um líder nacional, mas também um líder mundial. Como poderia esconder qualquer tipo de segredo nazista? Já teria sido investigado tempos antes. Muitos austríacos acharam que aquilo fosse uma tática dos rivais social-democratas para prejudicá-lo em ano de eleição – um ato idiota, que constrangeu a Áustria aos olhos do mundo. Pensei comigo mesmo: “Vou continuar a apoiá-lo.”
Embora Waldheim não tenha ido ao nosso casamento, o Partido Popular enviou à recepção dois representantes com um presente que chamou atenção: uma caricatura feita em papel machê, em tamanho real, de mim e de Maria vestindo trajes típicos austríacos. Em um brinde que fiz agradecendo a todos pelas cartas e pelos presentes, citei esse em especiaclass="underline" “Quero agradecer aos representantes do Partido Popular austríaco por estarem aqui e pelo presente que nos deram, e sei que isso expressa também os votos de Kurt Waldheim. Quero agradecer a ele e dizer que acho uma pena ele estar tendo que enfrentar os ataques pelos quais tem passado, mas campanhas políticas são assim mesmo.”
Alguém repetiu meu discurso para o USA Today, que o incluiu em uma reportagem sobre o casamento, me envolvendo em uma polêmica internacional que se arrastou por anos. Quando finalmente ficou provado que Waldheim havia mentido sobre seu histórico militar, ele passou a simbolizar a recusa da Áustria em encarar seu passado nazista. Eu mesmo ainda estava me esforçando para entender os horrores do nazismo e, se soubesse a verdade sobre ele, não teria mencionado seu nome.
Esse arrependimento, porém, viria a surgir com o tempo. Maria e eu entramos na limusine e seguimos para o aeroporto com a sensação de que aquele era o melhor casamento do qual já tínhamos participado. Foi um dia muito especial. Todo mundo ficou feliz. Foi tudo nota 10.
MARIA TINHA DITO A SEUS FÃS NO CBS Morning News que iria tirar apenas poucos dias de férias. Eu tampouco dispunha de muito tempo para a lua de mel. Ficamos três dias em Antígua e depois ela me acompanhou até o México para passar alguns dias no set de Predador. Eu já tinha mandado preparar tudo para quando chegássemos: havia flores no quarto, e levei Maria para um jantar romântico ao som de uma banda de mariachis. Quando voltamos ao hotel, abri uma garrafa de um ótimo vinho californiano, o que supus fosse desencadear alguns bons momentos de sensualidade. A noite foi toda perfeita – até ela ir tomar um banho. Foi então que ouvi gritos muito altos vindos do banheiro, como em um filme de terror.
Já deveria ter imaginado. Joel Kramer e sua equipe de dublês tinham decidido pregar uma peça nos recém-casados. Na verdade, eles estavam revidando, pois alguns dublês e eu tínhamos posto aranhas na camisa de Joel e cobras dentro de sua bolsa. O set tinha um quê de colônia de férias estudantil. Assim, quando Maria abriu a cortina do chuveiro, deparou com vários sapos pendurados. Seria de esperar que ela fosse entender o espírito da coisa, pois seus primos viviam fazendo brincadeiras em Hyannis. Mas ela tem uma particularidade: embora seja fisicamente audaz – não pensaria duas vezes antes de pular de um penhasco de 10 metros para dentro do mar –, quando vê uma aranha, ou quando há uma abelha no quarto, ela dá um chilique. Os irmãos dela também são assim. Os sapos, então, causaram um grande alvoroço. Parecia que uma bomba tinha acabado de ser detonada. Joel não tinha como saber disso, mas sua brincadeira deu supercerto. O filho da mãe estragou por completo a minha noite.
Maria então voltou para casa e chegou a hora de eu retornar às filmagens de Predador. Como se sabe, trata-se de um filme de ficção científica no qual lidero uma equipe na selva da Guatemala, onde pessoas estão sumindo e sendo esfoladas vivas por um inimigo desconhecido. (Na verdade, como acabamos descobrindo, trata-se de um alienígena, equipado com armas de alta tecnologia e aparelhos que o tornam invisível, que veio à Terra caçar humanos por esporte.) Os produtores Joel Silver, Larry Gordon, John Davis e eu assumimos um risco alto ao escolher John McTiernan como diretor. Ele havia feito apenas um filme, um terror de baixo orçamento chamado Delírios mortais, sobre algumas pessoas que criam o caos ao volante de uma van. O que distinguia o filme era a tensão que McTiernan conseguira manter com um orçamento de menos de 1 milhão de dólares. Pensamos que, para criar esse tipo de atmosfera com tão pouco dinheiro, ele devia ter muito talento. Predador precisaria de suspense desde o primeiro momento em que os personagens chegam à selva – queríamos que os espectadores sentissem medo mesmo nas cenas em que o predador não aparecia, só com a névoa, os movimentos de câmera e a maneira como as coisas surgiam bem em cima das pessoas. Então apostamos que McTiernan conseguiria lidar com uma produção mais de 10 vezes mais cara.
Assim como em qualquer outro filme de ação, as filmagens de Predador foram mais difíceis que prazerosas. Havia todas as dificuldades habituais de uma selva: sanguessugas, areia movediça, cobras peçonhentas, além de umidade e calor sufocantes. O terreno que McTiernan escolheu para filmar era tão acidentado que mal havia um centímetro sequer de solo plano. A maior dor de cabeça, porém, acabou sendo o próprio predador. Na maior parte das vezes, ele se mantém invisível. Quando aparece na tela, porém, precisa ter um aspecto alienígena e assustador o suficiente para aterrorizar e vencer um bando de caras grandes e viris. O predador que tínhamos não dava conta do recado. Fora projetado por uma empresa de efeitos especiais contratada pelo estúdio para economizar dinheiro – Stan Winston, que havia criado o Exterminador, teria lhes custado 1,5 milhão de dólares, e o concorrente cobrou metade desse preço. Só que, em vez de ameaçadora, a criatura ficou ridícula: parecia um cara usando uma roupa de lagarto com cabeça de pato.
Começamos a nos preocupar assim que iniciamos os testes de filmagem, e bastaram algumas cenas para confirmar que a preocupação era real. A criatura não funcionava, era fajuta, não transmitia credibilidade. Além do mais, Jean-Claude van Damme, que interpretava o predador, era um reclamão de marca maior. Ficamos tentando contornar o problema. Ninguém entendia que as imagens da criatura só poderiam ser consertadas depois que voltássemos do México, quando o filme já estivesse na ilha de montagem. No fim das contas, os produtores decidiram chamar Stan Winston para refazer o projeto do predador, então nos mandaram de volta a Palenque para refilmar o clímax do confronto: uma sequência noturna em que o predador aparece de corpo inteiro e trava um combate corpo a corpo com Dutch no pântano.