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Na maioria dos casos, uma mudança na administração de um estúdio pode afundar um filme. Além de os novos contratados terem seus próprios projetos, em geral eles querem que os antigos diretores fiquem desacreditados. Mas esse problema não existiu com Guber e Peters, produtores de grande sucesso, porque eles eram muito ambiciosos. Pouco importava quem tivesse iniciado o projeto: os dois queriam que ele se tornasse bem-sucedido. Ao longo dos anos, eu passara a conhecer Guber bem o bastante para poder telefonar para ele e soar o alarme em relação a O vingador do futuro.

– Peter, faltam três semanas para a estreia e o awareness do filme não passou dos 40% – falei. – Para mim isso é um desastre.

– Qual é o problema? – indagou ele.

– O problema é que o seu estúdio está errando feio na campanha publicitária e nos trailers. Mas não precisa acreditar só na minha palavra. Quero que você e Jon assistam ao trailer e a uma sessão do filme. Eu os acompanho, e depois vocês me dizem o que acharam.

Então nos reunimos para ver O vingador do futuro e o trailer.

– É impressionante – comentou Peter. – O filme parece uma produção de 100 milhões de dólares, mas o trailer faz parecer que custou 20.

Ele estava a ponto de ligar para os marqueteiros da TriStar e dizer: “Quero ver grandeza, gente! Quero ver as incríveis cenas de ação que temos no filme!”, mas eu o impedi.

– Acho que temos que contratar alguém de fora – falei. – Não deixem mais o estúdio tomar essas decisões, porque eles só vão conseguir isso depois que vocês fizerem uma faxina, o que ainda não foi possível. A velha guarda continua lá. Entreguem o filme para uma empresa de marketing externa trabalhar. Vamos procurar as três maiores do ramo e abrir uma concorrência para ver qual delas consegue elaborar a melhor ideia.

Eles me escutaram, e marcamos reuniões com as três melhores. A Cimarron/Bacon/O’Brien, a primeira, foi ainda mais eficiente que eu ao apontar os erros no trailer do filme. Ela foi escolhida para trabalhar o lançamento e, no fim de semana seguinte, já havia novos trailers e uma campanha totalmente diferente na praça. A empresa começou a vender o filme com chamadas do tipo “Alguém roubou sua mente. Agora ele a quer de volta. Prepare-se para a melhor viagem da sua vida”, e “Se alguém roubasse a sua mente, como você iria descobrir?”. Os trailers enfatizavam as fantásticas cenas de ação e os efeitos especiais. A campanha surtiu efeito: em 14 dias, passamos de um awareness de 40% para 92%. Não se falava em outro filme na cidade. Apesar de nosso desentendimento por causa de Predador, Joel Silver me ligou e disse: “Fantástico! Fantástico! O filme vai deixar todo mundo de quatro.”

Dito e feito: O vingador do futuro não apenas abocanhou o primeiro lugar das bilheterias no fim de semana de estreia como bateu o recorde de melhor primeiro fim de semana de todos os tempos para uma não continuação. Arrecadamos 28 milhões de dólares nos primeiros três dias, e quase 120 milhões naquele ano só nos Estados Unidos. Hoje em dia, essas cifras passariam de 200 milhões, com o atual preço dos ingressos. O filme também fez enorme sucesso no exterior, arrecadando mais de 300 milhões de dólares. Ganhou um Oscar Especial pelos efeitos visuais. (É por meio do Oscar Especial que a Academia de Cinema premia um trabalho sem categoria estabelecida.) Paul Verhoeven teve uma visão de mestre e fez um trabalho incrível. Fiquei orgulhoso por meu interesse e minha paixão terem ajudado o filme a se realizar. No entanto, a experiência de O vingador do futuro mostra também a importância do marketing – a necessidade de informar as pessoas sobre do que trata a obra cinematográfica, de realmente instigá-las e fazê-las dizer: “Preciso assistir a esse filme.”

CAPÍTULO 18

Em ritmo de comédia

EU ADORAVA SER UM HERÓI DE AÇÃO. Com meu físico e meu histórico, interpretar esse tipo de papel era natural para mim. Mas não se pode passar a vida inteira correndo de um lado para outro e explodindo coisas à sua volta. Havia muitos anos que eu já sonhava em fazer comédias.

Sempre acreditei que tudo na vida tem seu lado cômico. Era engraçado posar na frente de uma plateia todo besuntado de óleo e usando uma sunga minúscula para tentar ser eleito o homem mais musculoso do mundo. Era engraçado receber um cachê de milhões de dólares para combater um predador extraterrestre. Era engraçado fazer aulas de parto sem dor pelo método Lamaze tentando fingir que a gravidez é um trabalho de equipe. Eu via muita graça no fato de Maria e eu termos origens totalmente opostas. Achava graça do meu próprio sotaque e adorava a imitação que os personagens de Saturday Night Live faziam de mim. Eu sempre tinha sido um alvo perfeito para piadas – o material para se trabalhar era farto. Ser austríaco, ter me casado com Maria, ser republicano, ter aquele sotaque: com todos esses fatores, é preciso ter senso de humor para poder também rir da piada.

Em 1985, um ano depois de O exterminador do futuro se tornar um grande sucesso, eu estava jantando em Denver na noite anterior ao Carousel Ball, célebre e sofisticado baile de caridade promovido por Marvin e Barbara Davis. Marvin, na época proprietário dos estúdios Fox – onde eu estava filmando Comando para matar –, era conhecido pelo senso de humor. Ele e a mulher estavam em uma mesa com vários humoristas que iriam se apresentar no evento, entre os quais Lucille Ball e o marido, Gary Morton. Eu ocupava a mesa ao lado junto com John Davis, filho dos anfitriões, e o pessoal mais jovem. Na mesa de Marvin e Barbara só se ouviam piadas e muitas risadas. De repente, Marvin me chamou:

– Ei, Arnold, venha cá um instante. Por que não conta uma piada para a gente?

Mais tarde fiquei sabendo que isso era típico dele. Na hora, porém, fiquei sem ação. Não tinha preparado nenhuma piada. Sequer sabia que tipo de piada devia contar em um evento como aquele.

Tudo o que consegui dizer foi:

– Preciso de um tempinho para me aquecer. Quem sabe amanhã? – Ou algo desse tipo.

Foi então que Lucille Ball interveio:

– Ele é muito engraçado. Não precisam se preocupar com ele. Já trabalhamos juntos.

Depois que ela me salvou, Gary Morton nos interrompeu com uma piada e então Milton Berle deu início a um esquete sobre como Gary Morton não seria ninguém sem Lucille Ball. Fui salvo pelo gongo, mas a situação foi um exemplo perfeito de como é importante estar preparado para momentos assim.

Eu havia sido apresentado a Milton Berle na festa de meu noivado com Maria na Costa Oeste, em 1985. Ruth, sua esposa, e Maria se conheciam por causa do Share Girls, grupo de caridade para o qual Maria entrara ao seu mudar para Los Angeles. A organização contava também com as esposas de Johnny Carson, Dean Martin e Sammy Davis Jr., entre outras, de modo que costumávamos chamar o grupo de “fundação das ricaças”. Os Berle e os Kennedy tinham um belo passado em comum, porque Milton fora um grande fã de John Kennedy. Os dois eram bastante próximos, e Milton dera de presente a JFK uma caixa para conservação de charutos que posteriormente fora vendida para Marvin Shanken, proprietário e editor da revista Cigar Aficionado, num leilão dos Kennedy, por 520 mil dólares. Milton só deu três caixas dessas de presente na vida, e uma foi para mim.

Maria e Ruth, portanto, tornaram-se boas amigas, e Ruth levou Milton à nossa festa de noivado. A primeira coisa que ele fez foi cumprimentar com um aperto de mão um cara que eu nem sabia quem era.