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— Este aqui — disse. — Você escolheu este.

Mat espiou a moeda e piscou os olhos.

— Isso mesmo. Como é que você sabia?

— Mais cedo ou mais tarde, tem que funcionar para mim.

Nenhum deles entendia, Rand sabia, mas não se importava. Ergueu a mão e olhou para o que ele e Mat haviam escolhido. O triângulo apontando para a esquerda. O sol já passara do ápice. Precisava acertar. Bastava um erro, e todos perderiam tempo, em vez de ganhar. Essa devia ser a pior consequência. Tinha que ser.

De pé, Rand revirou a bolsa e puxou o pequeno objeto sólido, uma pedra verde-escura entalhada que cabia sem dificuldade na palma da mão, um homem de cara e corpo redondos, sentado de pernas cruzadas com uma espada sobre os joelhos. Esfregou o polegar na cabeça careca da figura.

— Reúna todos aqui perto. Todos. Rhuarc, mande-os trazer os animais de carga para cá. Todo mundo tem que ficar o mais próximo possível de mim.

— Por quê? — indagou o Aiel.

— Estamos indo para Rhuidean. — Rand jogou a escultura para o ar e logo a pegou de novo, então inclinou-se para tocar a Pedra-portal. — Para Rhuidean. Agora mesmo.

Rhuarc o encarou com um olhar longo e inexpressivo, depois se endireitou para chamar os outros Aiel.

Moiraine deu um passo e aproximou-se da encosta gramada.

— O que é isso? — perguntou, curiosa.

— Um angreal — disse Rand, virando-o nas mãos. — Um que funciona com homens. Encontrei na Grande Posse quando estava procurando aquele batente de porta. Foi a espada que me fez pegá-lo, então eu soube. Se você está se perguntando como pretendo canalizar Poder suficiente para levar todo mundo, incluindo Aiel, mulas de carga e tudo o mais, a resposta é isso aqui.

— Rand — começou Egwene, preocupada — não tenho a menor dúvida de que você pensa estar fazendo o que é melhor, mas tem certeza de que quer mesmo fazer isso? Tem certeza de que esse angreal é forte o suficiente? Nem dá para saber se é mesmo um angreal. Acredito em você se diz que é, mas essas coisas variam, Rand. Pelo menos, os que as mulheres usam variam. Alguns são mais potentes que outros, e não dá para se guiar pelo tamanho ou pela forma.

— É claro que tenho certeza — mentiu.

Não houvera meio de testar, não para esse objetivo, não sem que metade de Tear soubesse que ele estava tramando alguma coisa, mas ele achava que iria funcionar. Por pouco. E, como era pequeno, ninguém perceberia que já não estava na Pedra, a não ser que decidissem inventariar a Posse. O que era pouco provável.

— Você deixa Callandor para trás e traz isso — resmungou Moiraine. — Parece que está sabendo bastante sobre como usar Pedras-portais. Mais do que eu pensei.

— Verin me explicou muitas coisas — retrucou ele.

E era verdade, mas fora Lanfear quem explicara primeiro. Naquela época, ele a conhecia como Selene, mas não pretendia contar isso a Moiraine, muito menos sobre a oferta de ajuda da mulher. A Aes Sedai recebera a notícia do aparecimento de Lanfear com tranquilidade até demais, mesmo para ela. E mantinha aquele olhar ponderador, como se o pesasse em sua balança mental.

— Tome cuidado, Rand al’Thor — disse Moiraine, em sua voz gélida e musical. — Qualquer ta’veren molda o Padrão a um ângulo ou outro, mas um ta’veren como você pode abrir um rasgão na Renda da Era que durará toda a eternidade.

Ele desejou saber o que a Aes Sedai estava pensando. Desejou saber o que ela estava planejando.

Os Aiel subiram a colina com as mulas de carga, tomando toda a encosta ao se amontarem em um círculo em torno dele e da Pedra-portal, os ombros colados uns nos outros, menos em Moiraine e Egwene. Para as duas, eles deixaram um pouco mais de espaço. Rhuarc assentiu, como se dissesse: Pronto, agora está nas suas mãos.

Ele ergueu o angreal verde e brilhante e pensou em mandar os Aiel deixarem os animais para trás, mas não sabia se eles o fariam, e também queria chegar ao fim da jornada com todos, ter a sensação de que os tratara com respeito. Boa vontade talvez fosse um recurso escasso no Deserto. Os Aiel o observavam com os rostos imperturbáveis. Alguns, no entanto, haviam posto os véus. Mat, rolando sem cessar o marco de Tar Valon por entre os dedos, e Egwene, com o rosto empapado de suor, eram os únicos que pareciam nervosos. Não havia motivo para esperar mais. Rand precisava agir mais depressa do que qualquer um pensava que ele poderia.

Envolveu a si mesmo no Vazio e tentou tocar a Fonte Verdadeira, aquela luz trêmula e nauseante que estava sempre ali, espreitando atrás de si. O Poder o preencheu, um sopro de vida, um vento que arranca carvalhos do solo, um vento de verão com aroma doce de flores, o bafo fétido que emana de um monte de esterco. Flutuando no Vazio, ele fixou os olhos no triângulo reluzente diante de si e alcançou o angreal, sorvendo a torrente furiosa de saidin. Tinha que levar todos. Tinha que funcionar. Agarrado à figura, ele sugou o Poder Único, puxou-o para dentro de si até ter certeza de que iria explodir. Puxou mais. Mais.

O mundo piscou e cessou de existir.

23

Além da Pedra

Egwene cambaleou, passando os braços em volta do pescoço de Bruma quando o chão se inclinou sob seus pés. Ali à volta, os Aiel tentavam conter as mulas de carga, que zurravam enquanto deslizavam por uma encosta de pedras íngreme, onde nada crescia. O calor que ela se lembrava de ter sentido em Tel’aran’rhiod a golpeava. O ar quente emanava do solo ardente sob os pés, penetrando as solas dos sapatos, o vapor reluzindo diante de seus olhos. Sentiu a pele pinicar por um instante, e logo o suor começou a brotar de todos os poros, empapou o vestido e começou a evaporar na mesma hora.

Os Aiel, muito altos, e as mulas que se debatiam quase a impediam de ver os arredores, mas Egwene conseguia vislumbrar algumas cenas nos espaços entre eles. Uma espessa coluna inclinada de pedra cinza emergia do solo a menos de três passadas. Fora de tal modo erodida pela areia soprada pelo vento que não havia como saber se era igual à Pedra-portal em Tear. Montanhas escarpadas, todas com encostas retas, como se entalhadas por machados gigantes, tostavam sob o sol ardente do céu sem nuvens. Ainda assim, bem abaixo deles, no meio do vale comprido e árido, pairava uma massa de névoa densa, intumescida como as nuvens. O sol escaldante deveria tê-la dissipado em questão de segundos, mas a névoa continuava intocada. Para além daquele cinza turvo erguiam-se topos de torres, alguns espiralados, outros interrompidos de repente, como se ainda não tivessem sido terminados.

— O mascate tinha razão — murmurou para si mesma. — Uma cidade nas nuvens.

Agarrado à rédea do capão, Mat olhava tudo à volta com os olhos arregalados.

— Conseguimos! — Ele riu para ela. — Conseguimos, Egwene, e sem nenhuma… Que me queime, conseguimos! — Ele soltou o laço na gola da camisa. — Luz, como está quente. Que me queime, está quente mesmo!

De súbito, Egwene percebeu que Rand estava ajoelhado, mantendo a cabeça baixa, apoiado no chão por uma das mãos. Puxando a égua, foi avançando por entre os Aiel até o amigo, enquanto Lan o ajudava a se levantar. Moiraine já estava lá, analisando Rand e parecendo calma — mas a leve contração nos cantos dos lábios indicava que ela estava com vontade de esbofetear as orelhas dele.

— Consegui — disse Rand, ofegante, olhando em volta.

Ele só se mantinha de pé graças ao Guardião. Seu rosto estava esgotado e tenso, parecia um homem no leito de morte.

— Você chegou bem perto — retrucou Moiraine em um tom frio. Muito frio. — O angreal não deu conta da tarefa. Não repita isso. Se for para correr riscos, que sejam calculados e com um objetivo firme. Só se for assim.