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De cada um dos acampamentos saíra um homem. Um era alto, de ombros largos, cabelos de fogo, perto da meia-idade, o outro, mais velho e mais moreno, tinha a mesma altura, embora fosse mais magro. Os dois pararam a poucos passos de Rhuarc e das Sábias, um de cada lado. O mais velho, de rosto curtido, não trazia arma visível além da faca de cintura de lâmina grossa, mas o outro portava lanças e broquel de couro e mantinha na cabeça erguida uma expressão de desprezo, feroz e orgulhosa, direcionada a Rhuarc, que o ignorou e virou-se para o homem mais velho.

— Vejo você, Heirn. Será que algum dos chefes dos ramos decidiu que já morri? Quem é que está querendo ocupar meu lugar?

— Vejo você, Rhuarc. Ninguém do Taardad adentrou Rhuidean, nem deseja. Amys disse que viria encontrar vocês aqui hoje, e as outras Sábias viajaram com ela. Trouxe esses homens do ramo Jindo para garantir que chegariam em segurança.

Rhuarc assentiu, solene. Egwene teve a sensação de que algo importante acabara de ser dito — ou insinuado. As Sábias não olharam para o homem de cabelos de fogo, nem Rhuarc ou Heirn, mas, a julgar pelo vermelho que surgiu nas bochechas do sujeito, todos poderiam muito bem estar com os olhos fixos nele. Egwene olhou para Moiraine e recebeu um meneio mínimo de cabeça em resposta: a Aes Sedai também não estava entendendo.

Lan inclinou-se entre as duas e falou baixinho.

— Uma Sábia é capaz de ir em segurança a qualquer lugar, a qualquer forte, independente do clã. Acho que nem mesmo uma rixa de sangue atinge uma Sábia. Este tal de Heirn veio proteger Rhuarc de quem quer que sejam as pessoas do outro acampamento, mas não seria honroso admitir isso. — Moiraine ergueu uma sobrancelha apenas um milímetro, então ele acrescentou: — Não sei muita coisa sobre eles, mas era frequente lutarmos um contra os outros antes de nos conhecermos. Você nunca me perguntou sobre os Aiel.

— Vou corrigir isso — retrucou a Aes Sedai, em um tom seco.

Virar-se de volta para olhar as Sábias e os três homens foi o suficiente para deixar Egwene tonta. Lan empurrou um cantil de couro desarrolhado em suas mãos, e ela inclinou a cabeça para beber, agradecida. A água estava tépida e cheirava a couro, mas, naquele calor, parecia fresca como se saída da nascente. Ofereceu o cantil meio vazio para Moiraine, que bebeu com parcimônia e o devolveu. Egwene ficou satisfeita em beber o resto de um gole só, de olhos fechados. Sentiu um líquido escorrendo por sua cabeça, e abriu os olhos depressa. Lan esvaziava outro cantil em cima dela, e o cabelo de Moiraine já estava pingando.

— Este calor pode matar, quando não se está acostumado — explicou o Guardião, enquanto molhava um par de lenços de linho branco que puxara do casaco.

Sob suas instruções, ela e Moiraine amarraram os lenços encharcados ao redor da testa. Rand e Mat faziam o mesmo. Lan deixou a própria cabeça desprotegida. Nada parecia perturbar aquele homem.

O silêncio entre Rhuarc e os Aiel que o acompanhavam se prolongou, mas o chefe de clã enfim virou-se para o homem de cabelos de fogo.

— Então os Shaido estão sem chefe de clã, Couladin?

— Suladric está morto — respondeu o homem. — Muradin adentrou Rhuidean. Se ele falhar, eu irei.

— Você não pediu, Couladin — disse a Sábia que parecia uma avó, com aquela voz aguda porém firme. — Se Muradin falhar, peça. Somos quatro, o bastante para dizer sim ou não.

— Eu tenho esse direito, Bair — retrucou Couladin, irritado.

Tinha o olhar de um homem que não estava acostumado a ser impedido.

— Você tem o direito de pedir — retrucou a voz fina da mulher — e nós, de responder. Creio que não terá permissão de entrar, seja lá o que acontecer com Muradin. Você está estragado por dentro, Couladin.

A velha mexeu o xale cinza, encobrindo outra vez os ombros angulosos, como se sugerindo que estava falando mais do que o necessário.

O rosto do homem de cabelos de fogo ficou vermelho.

— Meu irmão-primeiro voltará marcado como chefe de clã, e levaremos os Shaido a conquistar grandes honras! Pretendemos…! — Ele fechou a boca mais do que depressa, quase tremendo.

Egwene pensou que ficaria de olho no homem se o visse por perto. O sujeito a fazia lembrar dos Congar e Coplin da aldeia, sempre convencidos e arrumando confusões. Sem dúvida nunca vira um Aiel tão inflamado.

Amys parecia já tê-lo dispensado.

— Há uma pessoa que veio com você, Rhuarc — disse.

Egwene esperava que a mulher falasse com ela, mas os olhos de Amys foram direto para Rand. Moiraine obviamente não demonstrou surpresa. Egwene se perguntou o que haveria naquela carta das quatro Sábias que a Aes Sedai não tinha revelado.

Rand foi pego de surpresa e hesitou por um instante, mas então avançou pela colina a passos largos e postou-se ao lado de Rhuarc, olhando as mulheres nos olhos. O suor colava a camisa branca ao corpo e empapava as calças com manchas escuras. Com um pedaço de pano branco torcido e amarrado em volta da cabeça, ele decerto não parecia tão grandioso quanto lá no Coração da Pedra. Fez uma mesura estranha, com a mão esquerda no joelho e a direita espalmada para cima.

— Por direito do sangue — disse — peço permissão para adentrar Rhuidean, pela honra de nossos ancestrais e pela memória do que foi.

Amys piscou, claramente surpresa, e Bair murmurou:

— Uma forma antiga, mas o pedido foi feito. Respondo que sim.

— Eu também respondo que sim, Bair — disse Amys. — Seana?

— Esse homem não é Aiel — interveio Couladin, cheio de raiva. Egwene suspeitou que o sujeito passasse quase o tempo todo irritado. — Para ele, é a morte estar nesta terra! Por que Rhuarc o trouxe aqui? Por que…?

— Você deseja ser uma Sábia, Couladin? — perguntou Bair, fazendo uma cara feia que acentuava as rugas do rosto. — Ponha um vestido e venha falar comigo, que vejo se você pode ser treinado. Até lá, permaneça em silêncio quando as Sábias estão falando!

— Minha mãe era Aiel — respondeu Rand, com a voz tensa.

Egwene o encarou. Ela mal saíra do berço quando Kari al’Thor morrera, mas, se a mulher de Tam tivesse sido Aiel, ela decerto teria ouvido falar disso. Olhou para Moiraine. A Aes Sedai observava com o rosto plácido e calmo. Até que Rand se parecia bastante com os homens de Aiel. Era alto, de olhos azuis acinzentados e cabelos ruivos, mas a ideia era ridícula.

— Sua mãe, não — disse Amys, devagar. — Seu pai. — Egwene balançou a cabeça. A coisa beirava a loucura. Rand abriu a boca, mas Amys não o deixou falar. — Seana, o que você diz?

— Sim — respondeu a mulher de mechas grisalhas. — Melaine?

A última das quatro, uma bela mulher de cabelos loiro-acobreados, não mais de dez ou quinze anos mais velha que Egwene, hesitou:

— Precisa ser feito — respondeu por fim, relutante. — Respondo que sim.

— Você obteve sua resposta — disse Amys, dirigindo-se a Rand. — Pode adentrar Rhuidean, e…

Ela parou de repente, quando Mat se levantou e imitou, desajeitado, a mesura de Rand.

— Também peço para adentrar Rhuidean — disse, trêmulo.

As quatro Sábias o encararam. Rand virou a cabeça para o lado em um solavanco de surpresa. Egwene pensou não haver ninguém mais chocado que ela, mas Couladin provou que estava errada. Com uma careta de desdém, ele ergueu uma das lanças para golpear o peito de Mat.

O brilho tênue de saidar rodeou Amys e Melaine, e o homem com cabelos cor de fogo foi erguido por fluxos e arremessado cerca de doze passadas para trás.

Egwene observava, de olhos arregalados. Elas podiam canalizar. Pelo menos duas delas. De repente, as feições suaves e joviais de Amys, emolduradas pelos cabelos brancos, saltaram aos olhos de Egwene pelo que realmente eram: algo muito próximo do ar etéreo das Aes Sedai. Moiraine estava completamente imóvel. Egwene, porém, era quase capaz de ouvir os pensamentos dela. Estava claro que aquilo era tão surpreendente para a Aes Sedai quanto para ela própria.