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— Como ele está? — A voz da Filha-herdeira era uma estranha mistura de desinteresse forçado e apreensão.

— Bem, acho que está… — Egwene deu o relatório completo. As Pedras-portais, Rhuidean, tudo o que sabia pelo que escutara e o que conseguia inferir a partir das conversas sobre ver com os olhos dos ancestrais. Falou da estranha criatura do estandarte do Dragão marcada nos antebraços de Rand, da revelação de Bair de que ele seria a ruína dos Aiel e da convocação dos chefes dos clãs para Alcair Dal. Amys e as outras Sábias deviam estar cuidando disso naquele instante, pelo menos ela torcia para que estivessem. Contou até a estranha história dos pais verdadeiros de Rand, só que em uma versão resumida. — Mas não sei, não. Desde que ouviu sobre isso, ele anda mais estranho do que nunca, e Mat não fica muito atrás. Não estou dizendo que Rand enlouqueceu, mas… Ele é tão duro quanto Rhuarc ou Lan, talvez mais, pelo menos em alguns aspectos. Acho que está planejando alguma coisa, algo que não quer que ninguém saiba. E está com pressa de pôr em prática. É preocupante. Às vezes, tenho a sensação de que ele não vê mais pessoas, só peças em um tabuleiro.

Elayne não parecia preocupada, pelo menos não com isso.

— Ele é o que é, Egwene. Um rei ou um general nem sempre pode se dar ao luxo de ver as pessoas. Quando um governante precisa fazer o que é certo para a nação, às vezes alguns acabam feridos em prol do que for melhor para todos. Rand é um rei, Egwene, mesmo que sem nação. Isso sem contar Tear. E, se ele não fizer nada que machuque ninguém, vai acabar machucando todos.

Egwene fungou. Podia fazer sentido, mas ela não era obrigada a gostar da ideia. Pessoas eram pessoas e precisavam ser vistas como tal.

— E tem mais. Algumas Sábias conseguem canalizar. Não sei quantas, mas suspeito que mais do que umas poucas, até certo grau. Pelo que Amys contou, elas encontram todas as mulheres que nascem com a centelha. — Nenhuma Aiel morria tentando aprender sozinha a canalizar, tentando usar o Poder sem nem saber o que estava fazendo. Não existiam bravias entre as Aiel. Os homens que se descobriam capazes de canalizar enfrentavam um destino mais sombrio: rumavam para o norte, para a Grande Praga. Ou talvez mais além, para as Terras Devastadas e Shayol Ghul. Iam matar o Tenebroso, diziam. Nenhum sobrevivia por tempo suficiente para enlouquecer. — Parece que Aviendha é uma das que têm a centelha. Acho que ela será muito forte. Amys concorda.

— Aviendha? — repetiu Elayne, espantada. — Mas é claro. Eu deveria ter percebido. Senti a mesma afinidade com Jorin que senti com ela, à primeira vista. E com você, aliás.

— Jorin?

Elayne fez uma careta.

— Prometi que guardaria o segredo dela, mas solto a língua na primeira oportunidade. Bem, suponho que você não vá fazer mal a ela nem às suas irmãs. Jorin é Chamadora de Ventos do Bailador das Ondas, Egwene. Ela é capaz de canalizar, assim como algumas das outras que exercem a mesma função. — A Filha-herdeira olhou as colunas ao redor, e o decote de repente subiu de volta até o queixo. Ela ajustou um xale de renda escura que não estava lá um instante antes, cobrindo os cabelos e escondendo o rosto. — Egwene, você não pode contar a ninguém. Jorin tem medo de que a Torre as force a se tornar Aes Sedai ou que tente dar um jeito de controlá-las. Prometi que faria o possível para não deixar isso acontecer.

— Não vou contar — respondeu Egwene, devagar.

Sábias e Chamadoras de Vento. Havia mulheres capazes de canalizarem entre elas, e nenhuma tinha feito os Três Juramentos, nenhuma estava ligada ao Bastão dos Juramentos. Os Juramentos serviam para que as pessoas confiassem nas Aes Sedai, ou pelo menos para que não temessem seu poder, mas ainda era frequente as mulheres da Torre precisarem se deslocar em segredo. As Sábias — e Egwene apostava que o mesmo valia para as Chamadoras de Ventos — ocupavam lugar de honra em suas sociedades. Sem que precisassem jurar para supostamente manter a segurança. Era algo a se pensar.

— Nynaeve e eu também estamos adiantadas, Egwene. Jorin está me ensinando a manipular o clima. Você não acreditaria no tamanho dos fluxos de Ar que ela consegue urdir! E, cá entre nós, a gente pôs o Bailador das Ondas para correr mais depressa do que nunca, o que é bem rápido. Devemos chegar em Tanchico em mais uns três dias, talvez dois, segundo Coine. Ela é a Mestra das Velas, a capitã. Dez dias de Tear até Tanchico, mais ou menos. Isso parando para falar com todos os navios dos Atha’an Miere que encontramos. Egwene, o Povo do Mar acha que Rand é o Coramoor.

— Ah, é?

— Coine interpretou errado algumas coisas que aconteceram em Tear. Ela está presumindo que as Aes Sedai servem a Rand, por exemplo. Nynaeve e eu achamos que era melhor não esclarecer o erro, mas, assim que ela contar para outra Mestra das Velas, todos vão espalhar a notícia e servir a Rand. Acho que farão qualquer coisa que ele pedir.

— Queria que os Aiel aceitassem a questão com a mesma facilidade — suspirou Egwene. — Rhuarc acha que alguns vão se recusar a reconhecê-lo, com ou sem Dragões de Rhuidean. Tem um sujeito, um homem chamado Couladin, que tenho certeza de que mataria Rand em um instante, se tivesse chance.

Elayne deu um passo à frente.

— Você não vai deixar isso acontecer. — Não era uma pergunta, nem um pedido. Havia um brilho penetrante nos olhos azuis e uma adaga desembainhada na mão da Filha-herdeira.

— Farei o melhor que posso. Rhuarc está fornecendo guarda-costas a ele.

Elayne pareceu ver a adaga pela primeira vez e levou um susto. A lâmina desapareceu.

— Você precisa me ensinar o que Amys estiver ensinando a você, Egwene. É desconcertante ver as coisas ficarem aparecendo e sumindo, ou perceber de repente que estou usando roupas diferentes. Simplesmente acontece.

— Vou ensinar. Quando tiver tempo. — Ela já estava em Tel’aran’rhiod havia tempo demais. — Elayne, se eu não estiver aqui quando for hora de nos encontrarmos outra vez, não se preocupe. Vou tentar, mas talvez eu não consiga vir. Não se esqueça de contar a Nynaeve. Se eu não vier, confira todas as noites seguintes. Não vou atrasar mais do que um ou dois dias, tenho certeza.

— Se você diz — respondeu Elayne, desconfiada. — Com certeza levaremos semanas para descobrir se Liandrin e as outras estão em Tanchico ou não. Thom acha que a cidade vai estar muito confusa. — Ela pousou os olhos em Callandor, enfiada no chão até a metade. — Por que será que ele fez isso?

— Rand disse que isso vai prender os tairenos a ele. Enquanto souberem que está aí, saberão que ele vai voltar. Talvez ele saiba o que está dizendo. Espero que sim.

— Ah. Eu pensei que… talvez… ele estivesse irritado… com alguma coisa.

Egwene franziu o cenho para a amiga. Aquela súbita timidez não combinava nada com Elayne.

— Irritado com o quê?

— Ah, nada. Só passou pela minha cabeça. Egwene, entreguei duas cartas a Rand antes de ir embora de Tear. Você sabe como ele reagiu?

— Não, não sei. Você disse alguma coisa que possa tê-lo irritado?

— Claro que não. — Elayne deu uma risada alegre, mas pareceu forçada. O vestido de súbito transformou-se em um novo, de lã escura, pesado o bastante para um inverno rigoroso. — Eu teria que ser muito tonta para escrever alguma coisa que o deixasse irritado. — A jovem não tinha reparado, mas seus cabelos voavam para todos os lados, feito uma coroa insana. — Estou tentando fazer com que ele me ame, afinal de contas. Só tentando fazê-lo me amar. Ah, por que os homens não podem ser mais simples? Por que precisam causar tantas dificuldades? Pelo menos ele está longe de Berelain. — A lã voltou a ser seda, com um decote ainda mais profundo que o anterior. Seus cabelos cintilavam sobre os ombros, brilhando tão forte que quase apagavam o vestido. A Filha-herdeira hesitou, mordiscando o lábio inferior. — Egwene? Se você tiver chance, pode dizer a ele que eu estava falando sério quando disse que… Egwene? Egwene!