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— Quem é você? — inquiriu Carridin, irritado. — Como veio parar aqui? Vá embora de uma vez, ou vou jogar você na rua.

— Ameaças, Bors? Você deveria receber melhor seus convidados, sim?

Aquele nome o abalou dos pés à cabeça. Antes mesmo de pensar, já desembainhara a espada e avançara para a garganta da mulher.

Algo o deteve — o ar se transformou em uma geleia espessa — algo o fez desabar de joelhos e o envolveu do pescoço para baixo. A coisa apertou seu punho até os ossos estalarem. Carridin abriu a mão e a espada caiu. O Poder. A mulher estava usando o Poder Único nele. Uma bruxa de Tar Valon. E, se ela conhecia aquele nome…

— Você acaso se lembra — começou ela, aproximando-se — de uma reunião onde Ba’alzamon em pessoa apareceu e nos mostrou os rostos de Matrim Cauthon, Perrin Aybara e Rand al’Thor? — Ela praticamente cuspiu os nomes, sobretudo o último. Seu olhar era capaz de esburacar uma placa de aço. — Está vendo? Sei quem você é, sim? Você jurou a alma ao Grande Senhor das Trevas, Bors.

A mulher soltou uma risada repentina, que soava como o tilintar de sinos.

Suor brotou da face do homem. Não era apenas uma bruxa desprezível de Tar Valon. Uma Ajah Negra. A mulher era da Ajah Negra. Achara que um Myrddraal viria atrás dele. Pensara que ainda havia tempo. Mais tempo. Não ainda.

— Eu tentei matar o garoto — balbuciou. — Rand al’Thor. Eu tentei! Mas não consigo encontrá-lo. Não consigo! Disseram que matariam minha família se eu fracassasse, um a um. Prometeram que eu seria o último! Eu ainda tenho primos. Sobrinhos. Sobrinhas. Tenho mais uma irmã! Vocês precisam me dar mais tempo!

A mulher ficou ali parada, observando-o com os olhos castanhos e penetrantes, sorrindo com a boquinha carnuda, escutando-o revelar onde estava Vanora, onde ficava seu dormitório, como ela gostava de cavalgar sozinha na floresta para além de Carmera. Talvez, se ele gritasse, algum dos guardas viesse. Talvez a matassem. Ele escancarou a boca… e aquela geleia espessa e invisível jorrou para dentro, forçando sua mandíbula até os ouvidos zunirem. Com as narinas infladas ao máximo, Carridin sorvia o ar freneticamente. Ainda conseguia respirar, mas não podia gritar. Tudo o que saía eram ganidos abafados, feito o lamento de uma mulher por trás de uma parede. Ele queria gritar.

— Você é muito divertido — disse a mulher de cabelos cor de mel, por fim. — Jaichim. É um nome bom para um cachorro, eu acho. Quer ser meu cachorro, Jaichim? Se for um bom cãozinho, um dia posso deixar você assistir a Rand al’Thor morrer, sim?

Ele levou um momento para absorver o que a mulher estava dizendo. Se teria a chance de assistir à morte de Rand al’Thor, então ela não iria… ela não iria matá-lo, esfolá-lo vivo, fazer as coisas que a mente dele maquinara e que tornariam a morte um alívio. Lágrimas rolaram por seu rosto. Soluços de alívio o sacudiram — ao menos o quanto era possível, preso como estava. A armadilha desapareceu de repente, e Carridin desabou no chão, de quatro, ainda soluçando. Não conseguia parar.

A mulher ajoelhou-se ao lado dele, entrelaçou uma das mãos em seus cabelos e puxou sua cabeça.

— Agora me escute, sim? A morte de Rand al’Thor é para o futuro, e você só vai assistir se for um bom cãozinho. Você vai transferir os Mantos-brancos para o Palácio da Panarca.

— C-c-como a s-s-senhora sabe d-d-disso?

A mulher sacudiu a cabeça dele de um lado para o outro, sem delicadeza.

— Um bom cachorro não questiona a dona. Eu jogo o graveto, você pega o graveto. Eu mando matar, você mata. Sim? Sim. — A mulher exibiu os dentes em um sorriso rápido. — Vai ser difícil tomar o Palácio? A Legião da Panarca está lá, mil homens, dormindo nos corredores, nas salas de exposição, nos pátios. Você não tem todo esse número de Mantos-brancos.

— Eles… — Carridin precisou parar e engolir. — Eles não vão criar problemas. Vão acreditar que Amathera foi escolhida pela Assembleia. É a Assembleia que…

— Não me mate de tédio, Jaichim. Não me importa se você matar a Assembleia inteira, desde que ocupe o Palácio da Panarca. Quando você se muda?

— É… vai levar três ou quatro dias para Andric dar a garantia.

— Três ou quatro dias — murmurou a mulher, meio que para si mesma. — Muito bem. Um pouco mais de atraso não vai prejudicar. — Ele já estava se perguntando sobre que atraso a mulher falava quando ela removeu o pouco de chão que ainda restava sob seus pés. — Você vai controlar o Palácio e expulsar os bons soldados da Panarca.

— Impossível — disse, arquejante, e a mulher deu um puxão tão forte em sua cabeça que ele não soube se o pescoço quebraria ou se o couro cabeludo seria arrancado primeiro. Não ousou resistir. Mil agulhas invisíveis o ferroavam, no rosto, no peito, nas costas, nos braços, nas pernas, no corpo inteiro. Invisíveis, mas sem dúvida não menos reais.

— Impossível, Jaichim? — perguntou a mulher, baixinho. — Impossível é uma palavra que eu não gosto de ouvir.

As agulhas se retorceram com mais força. Carridin ganiu, mas precisava explicar. O que a mulher queria era impossível. Ele arfava, afobado.

— Quando Amathera for empossada como Panarca, vai controlar a Legião. Se eu tentar controlar o Palácio, ela vai mandar todos para cima de mim, e Andric vai ajudar. Não há como enfrentar a Legião da Panarca e o que Andric conseguir destacar das fortalezas circulares.

A mulher o analisou por tanto tempo que ele começou a suar. Não ousava se encolher, muito menos piscar. Aquelas mil agulhinhas não permitiam.

— Vamos resolver a questão da Panarca — respondeu ela, enfim.

As agulhas sumiram, e a mulher se levantou.

Carridin também se levantou, tentando manter o equilíbrio. Talvez conseguisse negociar, já que a mulher agora parecia disposta a escutar a voz da razão. Suas pernas tremiam por conta do choque, mas ele tentou impostar a voz com a maior firmeza possível.

— Mesmo que a senhora consiga influenciar Amathera…

Ela o interrompeu.

— Eu mandei você não perguntar, Jaichim. Um bom cachorro obedece a dona, sim? Eu prometo que, se você não me obedecer, vai implorar para que eu encontre um Myrddraal para jogar o graveto. Está entendendo?

— Estou — respondeu Carridin, em um tom sombrio. A mulher continuou a encará-lo, e, depois de um instante, ele compreendeu. — Vou fazer o que está mandando… senhora. — O sorriso da mulher, breve e aprovativo, o fez ruborizar. Ela se virou para a porta, dando-lhe as costas como se ele de fato fosse um cachorro, e sem dentes. — Qual… qual é o seu nome?

Desta vez, o sorriso foi doce e debochado.

— Sim. Um cachorro tem que saber o nome da dona. O meu é Liandrin. Mas esse nome jamais deve tocar a boca de um cachorro. Se isso acontecer, ficarei muito contrariada.

Quando a porta se fechou atrás dela, Carridin cambaleou até uma cadeira de espaldar alto com entalhes em marfim e se sentou. Deixou o conhaque onde estava; do jeito que sentia o estômago se revirar, acabaria vomitando. Que interesse Liandrin podia ter no Palácio da Panarca? Uma pergunta perigosa, talvez. Mas, ainda que os dois servissem ao mesmo mestre, ele não conseguia sentir nada além de repulsa por uma bruxa de Tar Valon.

A mulher não sabia tanto quanto pensava. Com as garantias do Rei em mãos, Carridin poderia manter Tamrin e o exército bem longe de seu pescoço com a ameaça de revelação, e Amathera também. No entanto, os dois ainda poderiam incitar a massa. E o Senhor Capitão Comandante talvez mostrasse mais do que desaprovação pela coisa toda, talvez acreditasse que ele estava atrás de poder para si. Carridin apoiou a cabeça nas mãos, antevendo Niall assinando a ordem de sua morte. Seus próprios homens o prenderiam e enforcariam. Se conseguisse provocar a morte da bruxa… Mas a mulher prometera protegê-lo dos Myrddraal. Ele quis chorar outra vez. Liandrin sequer estava lá, mas o prendia com a mesma força de sempre, as mandíbulas de aço agarradas às duas pernas e um nó de forca amarrado a seu pescoço.