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Luc surgiu de algum lugar, resplandecente sobre o garanhão negro de pelo brilhoso, vestido em lã vermelha com bordados dourados. Talvez fosse muito natural que o oficial dos Mantos-brancos escolhesse se dirigir a Luc, embora seus olhos escuros continuassem a sondar.

— Eu sou Dain Bornhald — anunciou o homem, puxando as rédeas — Capitão dos Filhos da Luz. Os senhores prepararam isso para nós? Ouvi dizer que Campo de Emond está fechado para os Filhos, sim? É claro que uma aldeia da Sombra estaria fechada aos Filhos da Luz.

Dain Bornhald, não Geofram. Seu filho, talvez. Não que fizesse diferença. Perrin supôs que tanto um quanto o outro fossem tentar levá-lo preso. Como esperado, o olhar de Bornhald passou batido por ele, depois retornou depressa. O homem pareceu ter sido tomado por um espasmo; uma das mãos protegidas por manoplas avançou até a espada, os lábios contraídos em um rosnado silencioso, e por um instante Perrin achou que o sujeito estivesse prestes a atacá-lo, dando um pinote com o cavalo em direção à barreira de tocos pontudos para alcançá-lo. O homem parecia nutrir um ódio pessoal por Perrin. De perto, aquele rosto guardava um toque de indolência, um brilho nos olhos que Perrin se recordava de ver em Bili Congar. Achou que sentia cheiro de conhaque.

O homem de rosto encovado ao lado de Bornhald era mais do que familiar. Perrin jamais esqueceria aqueles olhos fundos, feito duas brasas negras. Alto, abatido e duro feito uma bigorna. Jaret Byar de fato o encarava com ódio. Quer Bornhald fosse ou não um fanático, Byar sem dúvida era.

Luc aparentemente teve o bom senso de não tentar usurpar o lugar de Bran — ele de fato se preocupou mais em examinar a fileira de Mantos-brancos depois que a poeira baixou, revelando mais Filhos ao longo da estrada — para desgosto de Perrin, porém Bran o encarou — o aprendiz de ferreiro — e esperou seu meneio de cabeça antes de responder. O Prefeito! Bornhald e Byar claramente perceberam a movimentação silenciosa.

— Campo de Emond não está exatamente fechado para os senhores — respondeu Bran, empertigado, com a lança apoiada na lateral do corpo. — Nós decidimos nos defender sozinhos, e hoje de manhã conseguimos. Se quiserem ver nosso trabalho, olhem ali. — Ele apontou na direção da fumaça que se erguia das piras dos Trollocs. Um odor adocicado e enjoativo de carne queimada pairava, mas ninguém além de Perrin parecia notar.

— Vocês mataram alguns Trollocs? — perguntou Bornhald com desdém. — Sua sorte e habilidade me impressionam.

— Mais do que alguns! — gritou alguém do povo de Dois Rios. — Centenas!

— Foi uma batalha! — gritou mais alguém, e outras dúzias se manifestaram, raivosas, uma por cima da outra.

— Nós lutamos e vencemos!

— Onde é que vocês estavam?

— Podemos nos defender sem nenhum Manto-branco!

— Dois Rios!

— Dois Rios e Perrin Olhos-Dourados!

— Olhos-Dourados!

— Olhos-Dourados!

Leof, que deveria estar protegendo os lenhadores, começou a abanar o estandarte carmesim com a cabeça de lobo.

O olhar de Bornhald, fervente de ódio, era dirigido a todos os homens, mas Byar aproximou do grupo o capão baio, rosnando.

— Vocês, fazendeiros, pensam que sabem lutar? — vociferou ele. — Ontem à noite uma das suas aldeias quase foi eliminada por Trollocs! Esperem só até eles chegarem aos montes e vão desejar que suas mães nunca tivessem beijado seus pais! — Com um gesto cansado de Bornhald, o homem se calou, feito um sabujo treinado obedecendo ao mestre, mas suas palavras aquietaram o povo de Dois Rios.

— Que aldeia? — A voz de Bran exibia ao mesmo tempo dignidade e preocupação. — Todos nós conhecemos gente em Colina da Vigília e em Trilha de Deven.

— Colina da Vigília não foi atingida — respondeu Bornhald — e eu não sei nada a respeito da Trilha de Deven. Hoje de manhã um cavaleiro me trouxe a notícia de que Barca do Taren não existe mais. Se tiverem amigos por lá, muita gente conseguiu escapar pelo rio. Pelo rio. — O homem contraiu o rosto por um instante. — Eu mesmo perdi quase cinquenta bons soldados.

A notícia produziu alguns murmúrios de desagrado; ninguém gostava de ouvir aquele tipo de coisa, mas, por outro lado, ninguém ali conhecia gente de Barca do Taren. Decerto jamais haviam ido tão longe.

Luc avançou com seu cavalo, e o garanhão tentou morder Galope. Perrin segurou forte a rédea do animal antes que os dois começassem a brigar, porém Luc não pareceu perceber, nem se importar.

— Barca do Taren? — perguntou, a voz inexpressiva. — Os Trollocs atacaram Barca do Taren ontem à noite?

Bornhald deu de ombros.

— Eu falei, não falei? Parece que os Trollocs enfim decidiram invadir as aldeias. Que sorte vocês aqui terem sido avisados a tempo de preparar essa excelente defesa. — Ele correu o olhar pela cerca de estacas e pelos homens atrás dela antes de encarar Perrin.

— O homem chamado Ordeith estava em Barca do Taren ontem à noite? — perguntou Luc.

Perrin o encarou. Ele não sabia que Luc sequer conhecia Padan Fain, ou o nome que o sujeito usava agora. Mas as pessoas falavam, ainda mais quando alguém conhecido como mascate retornava cheio de autoridade entre os Mantos-brancos.

A reação de Bornhald foi tão estranha quanto a pergunta. Seus olhos cintilaram, destilando um ódio tão forte quanto o demonstrado por Perrin, mas seu rosto empalideceu, e ele esfregou os lábios com o dorso da mão, como se tivesse esquecido que estava usando manoplas de aço.

— O senhor conhece Ordeith? — perguntou, inclinando-se para a sela de Luc.

Foi a vez do Lorde dar de ombros, com um ar despretensioso.

— Já o vi aqui e ali, desde que vim para Dois Rios. Um homem de péssima reputação, e os que o seguem não vão muito além. O tipo que me parece descuidado o bastante para permitir o sucesso de uma incursão de Trollocs. Ele estava lá? Se estava, esperemos que tenha morrido por conta dessa asneira. Caso contrário, esperemos que o senhor o tenha trazido até aqui, bem debaixo dos seus olhos.

— Eu não sei onde ele está — retrucou Bornhald, bruscamente. — E nem me importo! Não vim até aqui para falar de Ordeith! — O cavalo deu um pinote, nervoso, quando Bornhald ergueu a mão e apontou para Perrin. — Você está preso como Amigo das Trevas. Será levado até Amador, e lá será interrogado sob o Domo da Verdade.

Byar encarou seu Capitão, incrédulo. Por detrás da barreira que separava os Mantos-brancos dos homens de Dois Rios se elevaram murmúrios de raiva; lanças e alabardas foram empunhadas, arcos, erguidos. Os Mantos-brancos mais distantes começaram a se dispersar, em uma fileira reluzente, sob os gritos de ordem de um sujeito tão grande dentro da armadura quanto Mestre Luhhan, deslizando as lanças para os suportes das selas, desencaixando os arcos curtos de montaria. Àquela distância, eles conseguiriam pouco mais do que proteger a fuga de Bornhald e seus homens, caso de fato resolvessem fugir, porém Bornhald parecia ignorar o perigo, ou qualquer outra coisa que não fosse Perrin.

— Não vai haver prisão nenhuma — retrucou Bran com rispidez. — Nós decidimos isso. Ninguém mais vai preso sem que haja uma prova do crime, e uma prova em que nós acreditemos. Os senhores jamais vão conseguir me convencer de que Perrin é Amigo das Trevas, então é melhor baixarem as armas.

— Ele traiu meu pai e o levou à morte em Falme — gritou Bornhald. A raiva o consumia. — Ele o atirou para Amigos das Trevas e bruxas de Tar Valon que assassinaram mil Filhos com o Poder Único! — Byar assentia vigorosamente.

Alguns dos homens de Dois Rios se movimentavam, indecisos; havia rumores a respeito do que Verin e Alanna tinham feito aquela manhã, e os falatórios sempre aumentavam os fatos. Fosse lá o que pensassem de Perrin, as centenas de histórias sobre Aes Sedai, quase todas falsas, facilitavam a crença de que elas haviam destruído mil Mantos-brancos. E, se o povo acreditasse nisso, talvez chegasse a acreditar no restante.