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O brilho tênue de saidar a envolveu, e ela…

Elayne soltou a Fonte Verdadeira. Havia algo muito imponente naqueles olhos escuros, no halo à volta dela, o resplendor pálido do Poder Único. Era a mulher mais majestosa que Elayne já vira. A Filha-herdeira percebeu que se curvava em mesuras afobadas, ruborizada por ter considerado… O que tinha considerado? Era difícil lembrar.

A mulher analisou as outras duas por um instante, depois assentiu com satisfação e deslizou até a mesa, puxando uma cadeira entalhada pelo topo do espaldar.

— Venham para onde eu possa ver vocês mais de perto — mandou, em um tom peremptório. — Venham. Isso. Isso mesmo.

Elayne percebeu que estava parada ao lado da mesa, olhando de cima para a mulher de olhos escuros brilhantes. Esperava mesmo que estivesse tudo bem. Do outro lado da mesa, Nynaeve segurava firme um punhado das tranças compridas e finas, mas encarava a visitante com uma expressão meio boba e extasiada. Elayne sentiu vontade de rir.

— Mais ou menos o que eu imaginava — comentou a mulher. — Pouco mais do que garotas, e obviamente sem nem metade do treinamento. Mas são fortes. Fortes o bastante para causar muitos problemas. Principalmente você. — Ela cravou os olhos em Nynaeve. — Talvez um dia se torne alguém. Mas tem um bloqueio, não tem? Teríamos arrancado isso de você, mesmo que gritasse feito louca.

Nynaeve ainda segurava firme as tranças, mas sua expressão passou de um sorriso contente, infantil e exaltado para um tremor de lábios cheio de vergonha.

— Peço desculpas pelo meu bloqueio — disse, quase em um choramingo. — Eu tenho medo… de tanto poder… do Poder Único… como eu posso…?

— Fique quieta, a não ser que eu faça alguma pergunta — retrucou a mulher, com firmeza. — E não comece a chorar. Você está feliz em me ver, extasiada. Só o que deseja é me agradar e responder às minhas perguntas.

Nynaeve assentiu vigorosamente, sorrindo, ainda mais extasiada do que antes. Elayne percebeu que também estava. Tinha certeza de que conseguiria responder às perguntas primeiro. Qualquer coisa para agradar a mulher.

— Pois bem. Vocês estão sozinhas? Tem alguma outra Aes Sedai com vocês?

— Não — respondeu Elayne à primeira pergunta, mais que depressa, e emendou com a resposta à segunda: — Não tem nenhuma Aes Sedai com a gente.

Talvez devesse ter contado que as duas também não eram de fato Aes Sedai. Mas não fora essa a pergunta. Nynaeve cravou os olhos nela, as juntas brancas agarradas às tranças, furiosa por ter ficado para trás.

— Por que estão nesta cidade? — perguntou a mulher.

— Estamos caçando irmãs Negras — vociferou Nynaeve, disparando um olhar de triunfo para Elayne.

A mulher bonita soltou uma risada.

— Então foi por isso que não senti vocês canalizarem antes. Muito sábio manterem a discrição, sendo onze contra duas. Eu mesma sempre fui dessa política. Deixar os idiotas chamarem a atenção até ser descobertos. Daí eles são abatidos por uma aranha escondida nas frestas, que só enxergam quando já é tarde demais. Contem o que descobriram sobre essas irmãs Negras, tudo o que sabem sobre elas.

Elayne despejou tudo, lutando com Nynaeve para ser a primeira. Não era muita coisa. As descrições das mulheres, os ter’angreal que haviam roubado, os crimes na Torre e o medo de que houvesse mais irmãs Negras à solta, auxiliando um dos Abandonados em Tear, antes da queda da Pedra, a fuga delas até ali em busca de algo que representava perigo a Rand.

— Estavam todas juntas em uma casa — concluiu Elayne, ofegante — mas saíram de lá ontem à noite.

— Parece que vocês chegaram bem perto — comentou a mulher, escolhendo as palavras. — Muito perto. Ter’angreal. Virem as bolsas na mesa, esvaziem. — Elas obedeceram, e a mulher passou os dedos pelas moedas, conjuntos de costura, lenços e afins. — Vocês têm algum ter’angreal em seus quartos? Angreal ou sa’angreal?

Elayne estava ciente do anel de pedra retorcida pendurado entre os seios e do ter’angreal da placa de âmbar, com a mulher dormindo entalhada, bem guardado em um bolso dentro da saia. Nynaeve levava o ter’angreal de disco de ferro em um bolso sob as saias. Essas coisas não podiam ficar soltas em qualquer lugar. Mas não fora essa a pergunta.

— Não — respondeu. Não havia nada do tipo nos quartos.

A mulher empurrou tudo para longe e inclinou-se para trás, falando sozinha:

— Rand al’Thor. Então esse é o nome dele, agora. — Ela contraiu o rosto em uma careta que durou poucos segundos. — Um homem arrogante que fedia a bondade e piedade. Ele ainda é assim? Não, não se deem ao trabalho de responder. Pergunta inútil. Então Be’lal está morto. O outro, para mim, parece que é Ishamael. Todo esse orgulho em não estar totalmente preso, sem se importar com o preço. Quando o encontrei, vi que restava menos humanidade nele do que em qualquer um de nós. Acho que uma parte dele acreditava ser o Grande Senhor das Trevas. Todos esses três mil anos de maquinações para acabar perseguido por um garoto destreinado. O meu jeito é melhor. Suave, suave, nas sombras. Algo que controle um homem capaz de canalizar. Sim, teria de ser isso. — Ela estreitou os olhos, analisando as mulheres uma de cada vez. — Pois bem. Tenho que decidir o que fazer com vocês.

Elayne aguardou, paciente. Nynaeve exibia um sorrisinho bobo, os lábios abertos, na expectativa. Parecia ainda mais bobo pelo modo como ela agarrava as tranças.

— Você é muito forte para se desperdiçar, talvez um dia seja útil. Eu adoraria ver a cara de Rahvin no dia em que a vir desbloqueada — comentou a mulher, encarando Nynaeve. — Eu afastaria vocês dessa caçada, se pudesse. Uma pena que a compulsão seja tão limitada. De qualquer jeito, com o pouco que aprenderam, vocês estão muito atrás das outras. Suponho que possa vir buscá-las mais tarde e garantir um… novo treinamento. — Ela parou, e de repente o corpo inteiro de Elayne começou a tremer. Seu cérebro parecia tiritar, e ela não tinha consciência de nada além da voz da mulher, ressoando em seus ouvidos a grande distância. — Vocês vão recolher as coisas da mesa e, depois de recolocá-las nos lugares, não vão se lembrar de nada do que aconteceu aqui, exceto que vim pensando que eram duas amigas do interior. Eu estava enganada, tomei uma xícara de chá e fui embora.

Elayne piscou e se perguntou por que estava amarrando a bolsa atrás do corpo, junto à bolsa do cinto. Nynaeve encarava as próprias mãos, ajeitando a bolsa com o cenho franzido.

— Uma mulher muito gentil — comentou Elayne, esfregando a testa. Sentia o início de uma dor de cabeça. — Ela disse como se chamava? Eu não me lembro.

— Gentil? — Nynaeve ergueu a mão e deu um puxão forte nas tranças. Depois encarou o membro se ele tivesse vontade própria. — Eu… acho que não disse.

— Sobre o que a gente estava conversando, quando ela chegou?

Egeanin tinha abado de partir. Qual era o assunto?

— Eu me lembro do que ia dizer. — A voz de Nynaeve assumiu um tom mais firme. — Temos que encontrar as irmãs Negras sem que elas desconfiem de nossa presença, ou nunca vamos ter qualquer chance de segui-las até essa tal coisa que representa perigo para Rand.

— Eu sei — respondeu Elayne, com paciência. Será que já dissera isso? Claro que não. — Nós conversamos sobre isso.

Diante dos portões em arco que levavam ao pequeno pátio da estalagem, Egeanin fez uma pausa e analisou os homens de feições duras que descansavam, descalços e quase todos sem camisa, entre o povo que vadiava daquele lado da rua estreita. Pareciam hábeis com os sabres presos nos cintos ou enfiados nas faixas de couro da cintura, porém nenhum dos rostos lhe era familiar. Se algum daqueles homens estivera no navio de Bayle Domon quando rumou com ele até Falme, não lembrava. Se algum deles tivesse viajado com ela, seria de se esperar que não ligassem a mulher de vestido de montaria à mulher de armadura que capturara a embarcação.