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— Se realmente acredita nisso — respondeu Siuan calmamente — é melhor arrancar a minha cabeça.

Min quase soltou um berro quando ele apertou as juntas embranquecidas de tanta força no cabo da espada. Devagar, estendeu a mão e pousou os dedos no braço teso do rapaz, com cuidado, para não dar a entender que pretendia fazer algo além de tocá-lo. Foi como encostar em uma pedra.

— Gawyn, você me conhece. Não pode achar que eu ajudaria a Ajah Negra. — Ele não desviou o olhar do rosto de Siuan, sequer piscou. — Gawyn, Elayne apoia Siuan e tudo o que ela fez até agora. Sua própria irmã, Gawyn. — Ele ainda estava duro feito pedra. — Egwene também acredita nela, Gawyn. — O pulso do rapaz estremeceu sob os dedos de Min. — Eu juro, Gawyn. Egwene acredita.

Ele olhou de relance para ela, depois de volta para Siuan.

— Por que é que eu não devo arrastar você pelos cabelos? Me dê uma razão.

Siuan o encarou de volta muito mais calma do que Min.

— Você poderia, e creio que eu me defenderia com a força de um gatinho. Ontem eu era uma das mulheres mais poderosas do mundo. Talvez a mais poderosa. Reis e rainhas viriam ao meu chamado, mesmo que odiassem a Torre e tudo o que ela simbolizava. Hoje, receio não ter nada para comer à noite e vou precisar dormir em uma moita. Em um dia fui reduzida da mulher mais poderosa do mundo a alguém que espera encontrar uma fazenda onde possa trabalhar em troca de comida. Seja lá o que você ache que eu fiz, será que isso já não é uma punição suficiente?

— Talvez — disse ele, depois de um instante. Min respirou fundo, aliviada, quando o rapaz embainhou a espada de volta, em um movimento fluido. — Mas não é por isso que vou deixar você escapar ir. Elaida talvez ainda arranque a sua cabeça, e não posso permitir isso. Quero as suas informações à mão, caso precise.

— Gawyn — disse Min — venha com a gente. — Um espadachim treinado por um Guardião poderia ser útil nos próximos dias. — Assim você teria Siuan por perto para responder às suas perguntas. — Piscando, embora não exatamente indignada, Siuan olhou para ela, mas sem desviar por inteiro as atenções de Gawyn; Min prosseguiu, enérgica: — Gawyn, Egwene e Elayne acreditam nela. Será que você não pode acreditar também?

— Não peça mais do que eu posso dar — respondeu ele, baixinho. — Vou levar os três ao portão mais próximo. Vocês nunca conseguiriam sair sem mim. É só isso que eu posso fazer, Min, e é mais do que eu deveria. A sua prisão foi ordenada, você sabia disso? — Ele voltou a olhar para Siuan. — Se acontecer alguma coisa com elas — prosseguiu o rapaz, naquele tom de voz inexpressivo — Egwene ou com minha irmã, eu vou encontrá-la, seja lá onde estiver se escondendo, e vou garantir que o mesmo lhe aconteça. — Ele se afastou abruptamente, a passos firmes, e plantou-se a uns doze passos de distância, de braços cruzados e cabeça baixa, como se não suportasse mais encará-las.

Siuan levou uma das mãos à garganta; um filete vermelho sobre a pele clara marcava o ponto onde a lâmina pousara.

— Passei tempo demais com o Poder — disse ela, um tantinho insegura. — Tinha me esquecido de como é enfrentar alguém capaz de pegar a gente e despedaçar feito um pedaço de pano. — Ela então encarou Leane, como se a visse pela primeira vez, e tocou o rosto como se não tivesse certeza das próprias feições. — Pelo que li, deveria demorar mais para esvanecer, mas talvez o tratamento intenso de Elaida tenha algo a ver com isso. Ele chamou de disfarce, e talvez seja mesmo essa a função. — Ela montou com dificuldade no lombo de Bela, segurando as rédeas como se a égua peluda fosse um garanhão destemido. — Outra vantagem, ao que parece, de ser… eu tenho de aprender a dizer isso sem me contrair… Fui estancada. — Ela proferiu as palavras lenta e deliberadamente, depois assentiu. — Pronto. Se Leane for um bom parâmetro, devo ter perdido uns bons quinze anos, talvez mais. Conheço mulheres que pagariam qualquer preço por isso. Terceira vantagem. — Ela olhou Gawyn. Ele ainda estava parado de costas, mas de todo modo a mulher baixou a voz. — E também soltei um pouco a língua, não é verdade? Fazia anos que eu não pensava em Mara. Uma amiga de infância.

— A senhora agora vai envelhecer como o resto de nós? — perguntou Min enquanto montava na sela. Era melhor do que comentar sobre a mentira. Melhor simplesmente lembrar que agora ela conseguia mentir. Leane subiu na terceira égua com plácida habilidade e deu uma volta com ela, testando seus passos; ela com certeza já montara um cavalo.

Siuan balançou a cabeça.

— Eu realmente não sei. Nenhuma mulher estancada viveu o suficiente para descobrir. Eu pretendo viver.

— Vocês vêm comigo? — perguntou Gawyn, em um tom ríspido. — Ou vão ficar aqui tagarelando? — Sem esperar a resposta, ele saiu a passos firmes em direção às árvores.

Elas cravaram os calcanhares nas éguas e saíram atrás dele, Siuan puxando o capuz bem para a frente para esconder o rosto. Disfarçada ou não, ela parecia não estar querendo se arriscar. Leane já estava completamente coberta. Depois de um instante, Min imitou as duas. Elaida queria a prisão dela? Isso só podia significar que ela sabia que “Elmindreda” era Min. Havia quanto tempo que a mulher sabia? Por quanto tempo Min circulara pensando estar disfarçada enquanto Elaida observava e ria de sua idiotice? O pensamento lhe deu calafrios.

Quando as mulheres alcançaram Gawyn, em um caminho de seixos, vinte ou mais homens apareceram, avançando na direção dos quatro, uns talvez um pouco mais velhos do que ele, outros praticamente garotos. Min suspeitou de que alguns desses últimos ainda nem sequer precisavam se barbear, pelo menos não com frequência. Todos portavam espadas nos cintos ou nas costas, no entanto, e três ou quatro usavam placas peitorais. Mais de um exibia ataduras ensanguentadas, e a maioria tinha as roupas manchadas de sangue. Todos tinham o mesmo olhar fixo de Gawyn. Ao avistá-lo, eles pararam e bateram no peito com o braço direito. Sem reduzir o passo, Gawyn assentiu, retribuindo a saudação, e os jovens formaram uma fila atrás dos cavalos das mulheres.

— Os alunos? — murmurou Siuan. — Eles também tomaram partido na luta?

Min assentiu, mantendo a expressão impassível.

— Eles estão se denominando de Jovem Guarda.

— Nome bem apropriado — observou Siuan, com um suspiro.

— Alguns não passam de crianças — resmungou Leane.

Min não pretendia contar a elas que os Guardiões das Ajahs Azul e Verde haviam planejado libertá-las antes que as duas fossem estancadas, nem que talvez tivessem obtido sucesso se Gawyn não tivesse incitado os alunos, também “crianças”, e os levado até a Torre para impedir. A luta fora das mais perigosas, alunos contra professores, sem misericórdia, sem clemência.

Os Portões de Alindrelle, altos e com pinos de bronze, estavam abertos, mas muito bem vigiados. Alguns guardas exibiam a Chama de Tar Valon no peitoral; outros usavam casacos de operário, com placas peitorais e capacetes descombinados. Guardas e sujeitos que tinham vindo disfarçados de pedreiros. Os dois grupos pareciam duros e habilidosos, bem familiarizados com suas armas, mas permaneciam distantes, encarando uns aos outros com desconfiança. Um oficial grisalho se destacava dos outros guardas da Torre, de braços cruzados, observando a aproximação de Gawyn e dos outros.

— Material para escrita! — disse Gawyn bruscamente. — Rápido!

— Ora, vocês devem ser dessa Jovem Guarda de quem eu ouvi falar — comentou o homem grisalho. — Um belo bando de frangotes, mas recebi ordens de não deixar ninguém ultrapassar os muros da Torre. Ordem assinada pelo Trono de Amyrlin em pessoa. Quem vocês pensam que são para desmandar?

Gawyn ergueu a cabeça lentamente.

— Eu sou Gawyn Trakand de Andor — respondeu, baixinho. — E pretendo deixar essas mulheres saírem, ou você morre. — Os outros da Jovem Guarda avançaram atrás dele, espalhando-se para encarar os guardas, com as mãos nas espadas, os olhos sem piscar, talvez sem se preocupar em estar em menor número.