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O grandalhão ergueu a cabeça e encarou uma de cada vez, com uma carranca se formando lentamente.

— Vocês não são Aes Sedai. Quem são vocês? O que querem de mim?

— Sou a mulher que pode tirar você de Tar Valon — respondeu Siuan. — E talvez lhe dar a chance de se vingar da Ajah Vermelha. Você gostaria de ter a chance de pegar as mulheres que o capturaram, não gostaria?

O homem se arrepiou.

— O que é que eu devo fazer? — perguntou, devagar.

— Venha comigo — respondeu ela. — Venha comigo, e lembre que sou a única pessoa no mundo inteiro que vai lhe dar a chance de se vingar.

De joelhos, o homem inclinou a cabeça para analisá-las, examinando cada um dos rostos, depois se levantou, com os olhos fixos em Siuan.

— Vou com vocês — disse, simplesmente.

O rosto de Leane estava tão incrédulo quanto Min se sentia. Que uso, pela Luz, Siuan poderia ter para um homem de sanidade questionável que já havia falsamente se proclamado o Dragão Renascido? O sujeito, no mínimo, seria capaz de se voltar contra elas para roubar um dos cavalos! Encarando a altura dele e a largura de seus ombros, Min achou que seria melhor manter as facas de cintura à mão. De súbito, por um instante, aquele halo flamejante dourado e azul cintilou sobre a cabeça do homem, indicando glórias futuras, tão certamente quanto na primeira vez que Min o vira. Ela estremeceu. Visões. Imagens.

Ela olhou para trás, na direção da Torre, a coluna robusta e branca que dominava a cidade, porém destruída, tão destruída quanto se estivesse em ruínas. Por um instante ela se deixou pensar nas imagens que vislumbrara, apenas por um instante, tremeluzindo sobre a cabeça de Gawyn. Gawyn ajoelhado aos pés de Egwene de cabeça baixa, em uma mesura, e Gawyn quebrando o pescoço de Egwene; primeiro uma, depois a outra, como se qualquer das duas pudesse representar o futuro.

As coisas que ela via raramente tinham um significado tão claro quanto essas duas, e ela jamais tivera visões que vinham e voltavam, de modo que nem mesmo a visão fosse capaz de afirmar qual seria o futuro verdadeiro. E pior, ela tinha uma sensação quase concreta de que suas ações daquele dia voltaram Gawyn na direção daqueles dois caminhos.

Apesar do sol, ela estremeceu outra vez. O que está feito está feito. Olhou as duas Aes Sedai — ex-Aes Sedai. Ambas observavam Logain como se ele fosse um cão de caça treinado, feroz, possivelmente perigoso, mas útil. Siuan e Leane viraram os cavalos na direção do rio, e Logain seguiu avançando a passos largos no meio das duas. Min acompanhava os três, mais lentamente. Luz, espero que isso tenha valido a pena.

48

Uma oferta recusada

— É desse tipo de mulher que você gosta? — perguntou Aviendha, com desdém. Rand baixou a cabeça e encarou a mulher, que caminhava junto ao estribo de Jeade’en vestida nas saias pesadas, com o xale marrom enrolado na cabeça. Os olhos azul-esverdeados o encararam por baixo do turbante largo. Ela parecia desejar ainda ter em mãos a lança que usara durante o ataque dos Trollocs, que a fizera ouvir um sermão das Sábias.

Às vezes, Rand se sentia desconfortável por tê-la caminhando ao seu lado enquanto cavalgava. Até tentara caminhar ao lado dela, e seus pés ficaram muito gratos ao voltar para o cavalo. De vez em quando — muito de vez em quando — conseguia convencê-la a montar atrás dele, reclamando que estava com o pescoço doendo de tanto conversar olhando para baixo. Montar em um cavalo não era exatamente uma violação dos costumes, afinal de contas, mas o desprezo por aqueles que não usavam as próprias pernas fazia a jovem seguir a pé na maior parte do tempo. Uma risada de qualquer companheiro Aiel, sobretudo de uma Donzela, mesmo que a pessoa estivesse olhando para o outro lado, era suficiente para ela descer de Jeade’en em um piscar de olhos.

— Ela é mole, Rand al’Thor. Fraca.

Rand olhou outra vez por cima do ombro, examinando o carroção branco em formato de caixa que liderava o comboio dos mascates, uma cobra sinuosa avançando pela paisagem destruída e empoeirada, outra vez escoltada pelas Donzelas dos Jindo. Isendre seguia na frente, com Kadere e o condutor, sentada no colo do mascate atarracado, o queixo batendo no ombro do homem, que segurava um pequeno guarda-sol de seda azul para protegê-la — e a si mesmo — do sol forte. Mesmo de casaco branco, Kadere não parava de secar o suor do rosto com um lenço grande, mais afetado pelo sol do que a mulher de vestido lustroso e justo, que combinava com o guarda-sol. Rand não estava perto o suficiente para ter certeza, mas achou que os olhos escuros de Isendre o observavam por baixo do lenço enrolado cobrindo seu rosto e cabeça. Ela sempre parecia estar olhando para ele. Kadere não parecia se importar.

— Não acho que Isendre seja mole — respondeu, baixinho, ajeitando a shoufa. O tecido de fato protegia a cabeça do sol escaldante. Ele resistira a usar outros trajes da indumentária Aiel, ainda que fossem muito mais apropriados ao clima do que o casaco de lã vermelha. Não importava seu sangue e nem as marcas em seus antebraços, ele não era Aiel, nem fingiria ser. Fosse o que tivesse de fazer, poderia manter esse mínimo de decência. — Não, eu não diria isso.

No assento do condutor do segundo carroção, Keille, a mulher gorda, e Natael, o menestrel, discutiam mais uma vez. Natael segurava as rédeas, mas não conduzia tão bem quanto o homem que costumava assumir a função. Às vezes os dois também encaravam Rand com olhadelas rápidas, antes de retomar o debate. Bem, todo mundo encarava Rand. A longa fileira dos Jindo, do outro lado, as Sábias, mais adiante, com Moiraine, Egwene e Lan. Na fileira mais numerosa de Shaido, mais ao longe, ele achava que também via cabeças voltadas em sua direção. Aquilo não o surpreendia mais, já estava acostumado. Ele era Aquele Que Vem Com a Aurora. Todos queriam saber o que iria fazer. Em breve descobririam.

— Mole — grunhiu Aviendha. — Elayne não é mole. Você pertence a Elayne, não devia estar trocando olhares melosos com aquela meretriz branquela. — A jovem balançou a cabeça com vigor, resmungando, meio que para si mesma. — Nossos modos a deixam chocada. Ela não consegue aceitar. Por que eu deveria me importar com isso? Não quero ter nada a ver com isso! Não pode acontecer! Se eu pudesse, tomaria você como gai’shain e entregaria para Elayne!

— Por que Isendre deveria aceitar o jeito de ser dos Aiel?

Aviendha disparou um olhar tão arregalado e surpreso que ele quase soltou uma risada. Na mesma hora, a jovem fechou a cara, como se ele tivesse feito algo irritante. As mulheres Aiel sem dúvida não eram mais fáceis de entender do que as outras.

— Já você não é nada mole, Aviendha… — Ela deveria tomar aquilo como um elogio: às vezes, era dura feito uma pedra de amolar. — Me explique outra vez essa história de senhora do teto. Se Rhuarc é o chefe do clã dos Taardad e o chefe do Forte das Pedras Frias, por que o forte pertence à esposa, e não a ele?

A jovem aprendiz de Sábia o encarou furiosa por mais um instante, mexendo os lábios enquanto resmungava entre dentes, antes de responder.

— Porque ela é a senhora do teto, seu aguacento ignorante. Um homem não pode ser dono de um teto, assim como não pode ser dono de terras! Vocês, aguacentos, às vezes parecem uns selvagens.

— Mas se Lian é a senhora do teto das Pedras Frias porque é esposa de Rhuarc…

— Isso é diferente! Será que você nunca vai entender? Até uma criança entende!

Aviendha respirou fundo e arrumou o xale ao redor do rosto. Era uma bela mulher, mas quase sempre o encarava como se ele tivesse cometido algum crime contra ela. Que crime poderia ser esse, Rand não sabia. Bair, de cabelos brancos e rosto curtido, sempre tão relutante em falar sobre Rhuidean, enfim revelara, de má vontade, que Aviendha não visitara as colunas de vidro, nem visitaria até estar pronta para se tornar Sábia. Então por que a jovem o odiava? Era um mistério para o qual Rand gostaria de ter uma resposta.