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— Por que você permite que ela fique? — perguntou Amys, muito calma. — Caso se recusasse a aceitá-la, como poderíamos forçá-la a passar tempo com você?

— Pelo menos assim eu sei quem é o espião. — Poder vigiar Aviendha era melhor do que ficar tentando descobrir qual dos Aiel estava tentando vigiá-lo. Sem a mulher, decerto suspeitaria de que todos os comentários displicentes de Rhuarc fossem tentativas de espionagem. Ora, já não havia como dizer que não eram. Rhuarc era casado com uma daquelas mulheres. De repente, sentiu-se contente por não ter confiado mais no chefe de clã. E triste por pensar em uma coisa desses. Por que tinha acreditado que seria mais simples lidar com os Aiel do que com os Grão-lordes tairenos? — Fico feliz em deixar a situação exatamente como está.

— Então todos estamos felizes — respondeu Bair.

Rand encarou a mulher de rosto bronzeado com desconfiança. Sentira um tom de algo mais em sua voz, como se Bair soubesse mais do que ele.

— Ela não vai descobrir o que vocês querem.

— O que nós queremos? — indagou Melaine, de repente. Os longos cabelos balançaram quando ela jogou a cabeça para trás. — A profecia diz que “o que restar do restante ele salvará”. O que nós queremos, Rand al’Thor, Car’a’carn, é salvar o máximo possível do nosso povo. Seja lá que sangue e que rosto você tenha, não sente nada por nós. Eu vou fazer você encarar nosso sangue como seu nem que tenha que botar…

— Eu acho — interrompeu Amys, com delicadeza — que Rand deve estar com vontade de ver o quarto dele. Parece um pouco cansado. — Ela bateu palmas com vigor, e uma gai’shain graciosa apareceu. — Mostre a este homem o quarto que foi preparado para ele. Providencie o que ele precisar.

As Sábias rumaram para a porta e o deixaram ali parado, sozinho. Bair e Seana olharam irritadas para Melaine, feito integrantes do Círculo das Mulheres encarando alguém a quem pretendiam repreender duramente por algum mau comportamento. A mulher as ignorou. Quando a porta se fechou atrás delas, estava resmungando algo que soou como “pôr algum juízo naquela garota idiota”.

Que garota idiota? Aviendha? Mas ela já estava fazendo o que as mulheres queriam. Egwene, talvez? Sabia que Egwene estava estudando alguma coisa com as Sábias. E o que Melaine estava disposta a “botar” para fazê-lo “encarar o sangue Aiel como dele”? Como botar alguma coisa em algum lugar o faria decidir ser Aiel? Botar uma armadilha a seus pés, talvez? Idiota! Ela não falaria com tanta franqueza se pretendesse levá-lo para uma armadilha. Que tipo de coisas podem ser “botadas”? Galinhas botam ovos, pensou, rindo baixinho. Estava cansado. Cansado demais para fazer perguntas. Passara doze dias e parte do décimo-terceiro em cima de uma sela, todos escaldantes e secos. Não queria pensar em como se sentiria se tivesse caminhado toda aquela distância no mesmo ritmo. Aviendha devia ter pernas de aço. Ele queria uma cama.

A gai’shain era bonita, apesar da fina cicatriz enviesada logo acima de um dos olhos azuis, adentrando pelos cabelos tão finos que quase pareciam de prata. Outra Donzela, só que não era Donzela no momento.

— Por favor, queira me acompanhar — murmurou a mulher, olhando para o chão.

O quarto não era um dormitório, naturalmente. Como era de se esperar, a “cama” consistia de um catre grosso aberto sobre uma pilha de tapetes de cores fortes. A gai’shain — seu nome era Chion — ficou chocada quando ele pediu água para se lavar, mas Rand estava cansado dos banhos de suor. Podia apostar que Moiraine e Egwene não precisaram se sentar em uma tenda cheia de vapor para se limparem. Ainda assim, Chion trouxe água quente em um grande cântaro marrom, usado para regar o jardim, e um imenso vaso branco como lavatório. Ele a pôs para fora quando a mulher se ofereceu para banhá-lo. Que povo mais estranho!

O quarto não tinha janelas e era iluminado por lampiões prateados que pendiam de suportes nas paredes, mas Rand sabia que ainda não devia estar totalmente escuro lá fora quando terminou de se lavar. Não importava. Havia apenas dois cobertores sobre o catre, nenhum muito grosso. Sem dúvida um sinal da dureza dos Aiel. Ao lembrar-se das noites frias que passara nas tendas, vestiu-se outra vez, exceto pelo casaco e as botas, antes de apagar os lampiões e se enfiar debaixo dos cobertores, na mais completa escuridão.

Por mais cansado que estivesse, não conseguia parar de pensar e se revirar. O que Melaine pretendia botar? Por que as Sábias não ligavam para o fato de ele saber que Aviendha era uma espiã? Uma bela mulher, só que mais intratável do que uma mula com os quatro cascos machucados. Sua respiração ficou mais lenta, e os pensamentos, enevoados. Um mês. Tempo demais. Sem escolha. Honra. Isendre sorrindo. Kadere olhando. Armadilha. Botar uma armadilha a seus pés. Que armadilha? De quem? Armadilhas. Se ao menos ele pudesse confiar em Moiraine. Perrin. Casa. Perrin devia estar nadando no…

De olhos fechados, Rand passou as mãos pela água. Fresca e agradável. E tão molhada. Parecia que nunca se dera conta de como era bom sentir o molhado. Ergueu a cabeça e olhou em volta, a fileira de salgueiros de um dos lados do laguinho e o imenso carvalho do outro, extenso e robusto, os galhos formando sombras na água. A Floresta das Águas. Era bom estar em casa. Tinha a sensação de que estivera longe, não sabia ao certo onde, mas também não era importante. Subira até a Colina da Vigília. Isso. Nunca fora mais longe do que isso. Fresco e molhado. E sozinho.

De repente, dois corpos se lançaram ao ar, os joelhos encolhidos contra o peito, e mergulharam, chapinhando a água e embotando sua visão. Ele limpou a água dos olhos e viu Elayne e Min sorrindo, uma de cada lado, apenas as cabeças aparecendo sobre a superfície verde-clara. Estava a duas braçadas de cada mulher. Uma de cada lado. Não podia amar as duas. Amar? Por que aquilo surgira em seus pensamentos?

— Você não sabe quem ama.

Ele se virou, remexendo a água. Aviendha estava na ribanceira, vestindo um cadin’sor, em vez de saia e blusa. Não o encarava irritada, no entanto, apenas o olhava.

— Venha para a água — chamou ele. — Vou lhe ensinar a nadar.

Risadas musicais atraíram sua atenção para a margem oposta. A mulher que estava ali, pálida e nua, era a mais bela que ele já vira. Tinha grandes olhos escuros que o deixaram completamente desnorteado. Rand achou que a conhecia.

— Devo permitir que você seja infiel a mim, mesmo em sonhos? — perguntou ela.

Mesmo sem olhar, Rand de alguma forma sabia que Elayne, Min e Aviendha já não estavam mais lá. Aquilo estava começando a ficar muito estranho.

A mulher o observou por um longo instante, sem reparar na própria nudez. Lentamente, pôs-se nas pontas dos pés, com os braços para trás, e mergulhou direto no laguinho. Quando sua cabeça emergiu à superfície, os cabelos não estavam molhados. Rand ficou surpreso por um instante. Então a mulher se aproximou dele — teria nadado, ou simplesmente surgira a seu lado? — e enroscou os braços e as pernas em seu corpo. A água estava fria, e o corpo dela, quente.

— Você não pode escapar de mim — murmurou ela. Aqueles olhos escuros pareciam muito mais fundos do que o laguinho. — Você vai gostar tanto que não vai me esquecer nunca mais, nem dormindo, nem acordado.

Nem dormindo, nem…? Tudo se deslocou, virou um borrão. A mulher se agarrou a ele com ainda mais força, e o borrão desaparecem. Tudo estava como antes. Juncos preenchiam uma das margens do laguinho. Na outra, folhas-de-couro e pinheiros cresciam quase até a beira da água.

— Eu conheço você — comentou, devagar. Achava que conhecia, do contrário, por que deixaria a mulher fazer aquilo? — Mas eu não… isso não está certo. — Tentou se desvencilhar dela, mas bastava soltar um braço para a mulher agarrá-lo outra vez.