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— Eu fiz isso! — exclamou Egwene. Nynaeve sentiu-a pular quando as mulheres Aiel dispararam os olhares em sua direção. — Antes de conhecer vocês — acrescentou mais que depressa. — Antes de irmos para Tear.

Necessidade. Nynaeve sentia mais afeição pelas mulheres Aiel agora que uma delas lhe fornecera algo de útil.

— Vocês têm de ficar de olho em Egwene — disse ela às duas, abraçando a mais jovem para demostrar que falara de maneira carinhosa. — Você tem razão, Bair. Ela vai tentar fazer mais do que sabe. Sempre foi assim. — Por algum motivo, Bair arqueou uma sobrancelha branca para ela.

— Eu não acho que ela seja assim — disse Amys, em um tom seco. — É uma aluna obediente agora. Não é mesmo, Egwene?

A boca de Egwene se fechou, formando uma linha teimosa. Essas Sábias não a conheciam muito bem se acreditavam que uma mulher de Dois Rios podia ser considerada obediente. Ainda assim, não disse nada. Aquilo era inesperado. Tão difíceis quanto as Aes Sedai, ao que parecia, eram essas sábias Aiel.

A hora de que Nynaeve dispunha estava passando, e ela borbulhava de impaciência para testar o método de uma vez; se Elayne a acordasse, ela talvez levasse horas para voltar a dormir.

— Daqui a sete dias — disse — uma de nós vai vir encontrar você aqui de novo.

Egwene assentiu.

— Daqui a sete dias, Rand vai ter se apresentado aos chefes dos clãs como Aquele Que Vem Com a Aurora, e os Aiel todos o apoiarão. — Os olhos das Sábias tremularam sutilmente, e Amys ajeitou o xale; Egwene não reparou. — Só a Luz sabe o que ele pretende fazer depois disso.

— Daqui a sete dias — disse Nynaeve — Elayne e eu já vamos ter tirado das mãos daquelas mulheres o que Liandrin está procurando. — Do contrário, muito provavelmente a Ajah Negra conseguiria encontrar o que quer que fosse. E, pelo visto, as Sábias tinham tanta certeza de que os Aiel apoiariam Rand quanto Egwene tinha dos planos dele. Não existia certeza em lugar algum. De todo modo, não havia razão para sobrecarregar Egwene com mais dúvidas. — Quando uma de nós retornar para encontrar você, elas todas já estarão sendo levadas à Torre para julgamento.

— Tente tomar cuidado, Nynaeve. Sei que você não sabe como, mas mesmo assim tente. E também diga a Elayne que eu falei isso. Ela não é tão… valente… quanto você, mas chega perto. — Amys e Bair pousaram uma das mãos em cada ombro de Egwene, e as três desapareceram.

Tentar tomar cuidado? Que boba. Ela sempre tomava cuidado. O que Egwene pretendera dizer em vez de valente? Nynaeve cruzou os braços com força, em vez de puxar a trança. Decerto era melhor não saber.

Ela percebeu que não havia contado a Egwene sobre Egeanin. Talvez fosse melhor não suscitar em Egwene as lembranças do cativeiro. Nynaeve recordava muito bem os pesadelos que a outra mulher tivera durante semanas depois de ter sido solta, acordando aos gritos, dizendo que não seria acorrentada. Era melhor deixar esse assunto adormecido. Egwene não precisaria mesmo algum dia encontrar a Seanchan. Que se queime aquela mulher! Que se queime Egeanin até virar cinzas! Que se queime!

— Assim não estou usando o meu tempo com sabedoria — disse, em voz alta. As palavras ecoaram pelas colunas compridas. Com a partida das outras, as colunas pareciam ainda mais agourentas do que antes, um esconderijo para espreitadores e coisas prestes a pular nela. Era hora de partir.

Antes, porém, ela mudou os cabelos para um conjunto de trancinhas compridas e finas, e o vestido para um bem apertado de seda verde-escura. Um véu transparente lhe cobria a boca e o nariz, ondeando de leve quando ela respirava. Com uma careta, ela acrescentou contas de jade verde às tranças delgadas. Se alguma das irmãs Negras usasse o ter’angreal roubado para adentrar o Mundo dos Sonhos e a visse no Palácio da Panarca, pensaria tratar-se apenas de uma taraboniana que se transportara para lá em sonho, da forma mais costumeira possível. Algumas, no entanto, a conheciam de vista. Ela ergueu um punhado das tranças com contas e abriu um sorriso. Cor de mel. Não sabia que aquilo era possível. Como será que eu estou? Será que elas ainda conseguem me reconhecer?

De súbito um espelho de chão comprido surgiu ao lado de Callandor. No reflexo, seus grandes olhos castanhos se arregalaram de choque, sua boca de botão de rosa se escancarou. Ela tinha o rosto de Rendra! Suas feições mudavam, depois retornavam, os olhos e os cabelos se alteravam, mais escuros; com esforço, ela os transformou nos da estalajadeira. Agora ninguém a reconheceria. E Egwene achando que ela não sabia como tomar cuidado.

Fechou os olhos e se concentrou em Tanchico, no Palácio da Panarca, na necessidade. Algo perigoso para Rand, para o Dragão Renascido, necessidade… Ao redor, Tel’aran’rhiod mudou; ela sentiu uma guinada deslizante e abriu os olhos, ansiosa para ver o que havia encontrado.

Era um dormitório, grande como todos os seis do Jardim das Três Ameixeiras, as paredes de massa branca trabalhadas com frisos pintados, lampiões dourados pendurados no teto por correntes também douradas. Os compridos pilares da cama exibiam entalhes de galhos e folhas em um dossel sobre os colchões. Uma mulher que sequer chegara à meia-idade estava parada ao pé da cama, rija, encostada em um dos pilares; era de fato bastante encantadora, com aquele tipo de beicinho que a própria Nynaeve adotara. Por sobre as tranças escuras usava uma coroa de folhas de três pontas cravejada de rubis e pérolas, com uma pedra-da-lua maior que um ovo de ganso, e em seu pescoço pendia uma ampla estola que caía até os joelhos, com bordados de árvores em toda a extensão. Além de coroa e estola, a mulher usava apenas uma camada brilhante de suor.

Seus olhos trêmulos estavam fixos em uma segunda mulher, deitada confortavelmente em um sofá baixo. Esta segunda mulher estava de costas para Nynaeve, tão nebulosa quanto Egwene estivera antes. Era pequena e esguia; os cabelos escuros caíam soltos pelos ombros, e o vestido amarelo-claro de saias largas sem dúvida não era taraboniano. Nynaeve não precisava ver o rosto da mulher para saber que tinha grandes olhos azuis e um aspecto sagaz, tampouco era preciso ver as tramas de Ar prendendo a primeira à coluna da cama, para saber que estava olhando para Temaile Kinderode.

— … aprender esse tanto quando você usa os seus sonhos em vez de desperdiçar o sono — dizia Temaile com um sotaque cairhieno, em meio a risadas. — Não está se divertindo? O que é que vou lhe ensinar agora? Já sei. “Eu amei mil marinheiros”. — Ela balançou um dedo em advertência. — Aprenda a letra toda bem direitinho, Amathera. Você sabe que eu não iria querer… o que é que você está olhando?

De repente Nynaeve percebeu que a mulher presa à coluna da cama — Amathera? A Panarca? — tinha os olhos cravados nela. Temaile se mexeu lentamente, como se fosse virar a cabeça.

Nynaeve fechou os olhos com força. Necessidade.

Mudança.

Apoiando-se contra a coluna estreita, Nynaeve tragou o ar como se tivesse corrido vinte milhas, sem sequer se perguntar onde estava. Seu coração batia feito um tambor ensandecido. Aquilo era de fato como aterrissar em um ninho de víboras. Temaile Kinderode. A irmã Negra que Amico dissera gostar de infligir dor, e ao ponto de suscitar o comentário de outra mulher da Ajah Negra. E ela ali, incapaz de canalizar uma faísca que fosse. Poderia ter acabado decorando uma daquelas colunas da cama ao lado de Amathera. Luz! Ela estremeceu, visualizando a cena. Acalme-se, mulher! Você já saiu de lá, e mesmo que Temaile tenha visto você, viu uma mulher de cabelos cor de mel que sumiu, só uma taraboniana que adentrou Tel’aran’rhiod em sonho. Decerto que Temaile não poderia ter notado Nynaeve por tempo suficiente para sentir sua capacidade de canalizar; mesmo sem conseguir, a habilidade estava presente e podia ser sentida por qualquer uma que também a tivesse. Apenas um instante. E, com sorte, insuficiente.