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Perrin conhecia muitos rostos naquelas fileiras de homens à espera. O corpulento Eward Candwin junto de Paet al’Caar, de queixo-quadrado, erguendo lanças. Buel Dowtry, o flecheiro grisalho, estava ao lado dos arqueiros, claro. E Jac al’Seen, forte e grisalho, estava junto com seu primo careca, Wit. Também tinha Flann Lewin, um senhor enrugado, um varapau magricela como todos os homens de sua família. Jim Torfinn e Hu Marwin, dois dos primeiros a acompanhá-lo, estavam muito constrangidos para se juntar aos Companheiros. Como se a falha em detectar a emboscada na Floresta das Águas tivesse aberto uma espécie de abismo entre eles e os outros. Elam Dowtry, Dav Ayellin e Ewin Finngar também estavam lá. Assim como Hari Coplin e seu irmão, Darl, além do velho Bili Congar. Perrin também viu Berin Thane, o irmão do moleiro; Athan Dearn, o gordo; Kevrim al’Azar, cujos netos já tinham filhos crescidos; Tuck Padwhin, o carpinteiro; e…

Ele se obrigou a parar de enumerar os homens e cavalgou até onde estava Verin, ao lado de uma das catapultas, sob o olhar atento de Tomas, montado no garanhão cinzento. A Aes Sedai roliça, vestida de marrom, analisou Aram por um instante antes de voltar o olhar a Perrin. Parecia uma ave de rapina, com uma sobrancelha erguida, como se questionasse por que ele viera incomodá-la.

— Estou um pouco surpreso em ver você e Alanna ainda aqui — comentou Perrin. — Ir atrás de garotas capazes de aprender a canalizar não pode ser algo pelo qual valha a pena acabar morrendo. Nem se prender a um ta’veren.

— É isso que estamos fazendo? — Ela apoiou as mãos na cintura e inclinou a cabeça para o lado, pensativa. — Não — disse, por fim — acho que ainda não dá para irmos embora. Você é um estudo muito interessante. Tanto quanto Rand, a seu próprio modo. E o jovem Mat. Se eu pudesse me dividir em três, ficaria colada a cada um e acompanharia cada momento, dia e noite, mesmo que tivesse de me casar com vocês.

— Eu já tenho uma esposa. — Era estranho dizer aquilo. Estranho e bom. Tinha uma esposa, e ela estava em segurança.

Verin despedaçou o devaneio de Perrin.

— Verdade, tem mesmo. Mas não sabe o que significa se casar com Zarine Bashere, não é? — Ela estendeu o braço para virar o machado dele, preso ao cinto, e analisá-lo. — Quando vai trocar isso aqui pelo martelo?

Encarando a Aes Sedai, Perrin puxou a rédea de Galope, para afastá-lo um passo, e puxou o machado das mãos da mulher antes que percebesse o que fazia. O que se casar com Faile significava? Largar o machado? O que ela queria dizer? O que ela sabia?

— ISAM! — O urro gutural se ergueu como um trovão. Trollocs surgiram, cada um com metade a mais da altura de um homem e o dobro da largura, trotando pelos campos e parando além do alcance de uma flechada. Era uma massa imensa, protegida por malha negra, espalhando-se por toda a extensão da aldeia. Havia milhares agrupados, as caras imensas distorcidas por bicos e focinhos, as cabeças com chifres ou cristas emplumadas. Tinham pregos nos ombros e cotovelos, espadas curvas feito foices e machados com ponteiras, lanças retorcidas e tridentes farpados, um verdadeiro mar de armas letais. Atrás deles, Myrddraal galopavam para cima e para baixo em cavalos negros como a meia-noite, as capas negras feito corvos, imóveis enquanto seus donos rodopiavam em cima das montarias.

— ISAM!

— Interessante — murmurou Verin.

Perrin não achou que fosse a palavra certa para descrever a cena. Era a primeira vez que os Trollocs gritavam qualquer coisa compreensível. Não que ele tivesse a mais vaga ideia do significado.

Alisando a faixa nupcial, forçou-se a cavalgar com calma até o centro da fileira de Dois Rios. Os Companheiros entraram em formação atrás dele. A brisa erguia o estandarte com a cabeça vermelha de lobo. Aram empunhava a espada com as duas mãos.

— A postos! — gritou Perrin. Sua voz saiu firme, ele não pôde acreditar.

— ISAM!

A onda negra avançou, emitindo uivos incompreensíveis.

Faile estava em segurança. Nada mais importava. Não se permitiria ver os rostos dos homens que se alinhavam de cada lado. Ouviu os mesmos urros vindos do sul. De duas direções ao mesmo tempo. Os inimigos nunca tinham tentado isso. Faile estava a salvo.

— A quatrocentas passadas…! — Em todas as fileiras, os arcos se ergueram de uma só vez. A massa urrante se aproximou ainda mais, as pernas compridas e grossas devorando o chão. Mais perto. — Disparar!

O estrépito das cordas dos arcos se perdeu em meio ao rugido dos Trollocs, mas uma chuva de flechas de penas de ganso varou o céu, caindo em arco em direção à horda de malhas negras. Pedras das catapultas estouraram em bolas chamejantes e fragmentos pontiagudos em cima das fileiras que fervilhavam com as Criaturas das Trevas. Trollocs desabaram. Perrin os viu caindo, esmagados em meio a botas e cascos. Até alguns Myrddraal caíram. Ainda assim, a onda continuava avançando, fechando os buracos e vãos, sem parecer ter qualquer baixa.

Não foi necessário ordenar outra saraivada. Uma segunda se seguiu à primeira com tanta rapidez quanto os homens conseguiram encaixar as flechas nos arcos, uma nova chuva de pontas largas se erguendo antes que a primeira tivesse caído, a terceira vindo logo em seguida, a quarta, a quinta. O fogo irrompia por entre os Trollocs com tanta rapidez quanto era possível baixar os braços das catapultas. Verin galopava de uma a outra, inclinada na sela. Mas as imensas silhuetas urrantes avançavam, gritando em uma língua que Perrin era incapaz de compreender, mas sabia que gritavam por sangue, sangue e carne humanos. Os homens agachados atrás das estacas se aprontaram, erguendo as armas.

Perrin sentiu um calafrio. Já via o solo atrás da avançada dos Trollocs tomado pelos mortos e moribundos, mas o número de criaturas parecia não diminuir. Galope empinava, nervoso, mas Perrin não conseguia ouvir o relincho do garanhão por conta dos urros dos Trollocs em disparada. O machado veio para sua mão com suavidade, a lâmina comprida em meia-lua e a ponteira grossa reluzindo à luz do sol. Ainda não era nem meio-dia. Meu coração é para sempre seu, Faile. Desta vez, ele não achou que as estacas fossem…

Sem sequer reduzir a marcha, a fileira dianteira de Trollocs partiu para cima das estacas afiadas, as caras deformadas pelos focinhos e bicos se contorcendo com guinchos e uivos quando os corpos eram espetados. As criaturas foram sendo derrubadas por outras, ainda mais imensas, que se amontoavam por detrás delas, caíam por cima das estacas e iam sendo substituídas por mais, sempre mais. Uma última saraivada de flechas foi disparada, quase à queima-roupa. Em seguida veio a investida com lanças, alabardas e armas de haste caseiras, que eram enfiadas e cravadas nos imensos corpos cobertos de malha negra. Os Trollocs iam desabando enquanto os arqueiros atiravam como podiam nas caras inumanas, uns por cima dos outros. Até os garotos em cima dos telhados disparavam flechas. Loucura, morte, urros, gritos e uivos ensurdecedores se espalhavam. Lenta e inexoravelmente, a coluna de Dois Rios foi sendo empurrada. Se os Trollocs, em qualquer um dos pontos…

— Recuem! — gritou Perrin.

Um Trolloc com focinho de javali, já sangrando, forçou passagem por entre as fileiras de homens, guinchando e golpeando com a espada grossa e curva. O machado de Perrin acertou seu focinho, dividindo a cabeça ao meio. Galope tentava recuar, dando berros inaudíveis em meio ao estrondo.

— Recuem!

Darl Coplin caiu, agarrado à coxa perfurada por uma lança da grossura de um punho. O velho Bili Congar tentou arrastá-lo para trás enquanto manejava uma lança de javali com dificuldade. Hari Coplin balançava a alabarda para defender o irmão, a boca escancarada no que parecia um grito sem som.

— Recuem para as casas!

Não soube ao certo se outros ouviram a ordem e passaram adiante ou se a montanha opressora de Trollocs pressionou ainda mais, mas, bem devagar, um passo relutante de cada vez, os humanos foram recuando. Loial balançava os machados ensanguentados feito malhos, a imensa boca contorcida em um rosnado. Ao lado do Ogier, Bran golpeava com sua lança. O homem tinha um ar sombrio: perdera o elmo tosco, e sangue escorria da franja de cabelos grisalhos. De cima do garanhão, Tomas abriu um espaço em volta de Verin. A Aes Sedai, com os cabelos despenteados feito uma louca, perdera o cavalo, mas bolas de fogo saíam de suas mãos, e cada Trolloc atingido explodia em chamas como se estivesse embebido em óleo. Não era suficiente para se defender. Os homens de Dois Rios recuavam aos poucos, acotovelando-se ao redor de Galope. Gaul e Chiad lutavam de costas um para o outro. A Donzela empunhava apenas uma lança, enquanto o Cão de Pedra golpeava e cortava com a faca pesada. Recuar. A leste e oeste, os homens haviam saído das linhas de defesa para evitar que os Trollocs os flanqueassem, mas continuavam disparando flechas. Não era suficiente. Recuar.