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— Eu entendo, Egwene. Sei o que sou. Nenhuma mulher poderia…

— Seu cabeça de lã! — interrompeu ela, de repente. — Não tem nada a ver com você canalizar. Eu não amo você! Pelo menos, não a ponto de querer me casar.

O queixo de Rand caiu.

— Você não… me ama? — Ele soava tão surpreso quando parecia. E magoado.

— Por favor, tente compreender — começou ela, em um tom mais suave. — As pessoas mudam, Rand. Os sentimentos mudam. Quando as pessoas se distanciam fisicamente, às vezes se afastam. Eu amo você como um irmão, talvez até mais do que um irmão, mas não para casar. Consegue compreender?

Ele conseguiu abrir um sorriso pesaroso.

— Eu sou mesmo um idiota. Nunca pensei que você também pudesse mudar. Egwene, eu também não quero me casar com você. Não queria mudar, não tentei mudar, mas aconteceu. Se você soubesse o quanto isso significa para mim. Não ter mais que fingir. Não ter medo de magoar você. Eu nunca quis fazer isso, Egwene. Nunca quis magoar você.

A jovem quase sorriu. Rand estava se fazendo de forte.

— Fico feliz por você estar encarando isso tão bem — disse, em um tom suave. — Eu também não queria magoar você. Agora preciso mesmo ir. — Ela se levantou da cadeira e inclinou-se para dar um beijo na bochecha do amigo. — Você vai encontrar alguém.

— É claro — concordou ele, levantando-se, a mentira clara na voz.

— Vai mesmo.

Ela saiu satisfeita e atravessou a antessala correndo, liberando saidar enquanto tirava o cachecol dos ombros. A coisa era tão quente que mais parecia um pesadelo.

Rand estava no ponto para Elayne resgatá-lo como um cãozinho perdido, se ela o tratasse da forma como as duas haviam combinado. Pensou que Elayne cuidaria bem dele, agora e sempre. Por quanto o “sempre” durasse. Algo precisava ser feito em relação ao controle dele. Estava disposta a admitir que o que aprendera era certo — nenhuma mulher seria capaz de ensiná-lo, eram peixe e pássaro — mas isso não era o mesmo que desistir. Algo precisava ser feito, e teria de haver alguma forma. Aquela terrível ferida e a loucura eram problemas para depois, mas um dia seriam tratados. De algum jeito. Todos diziam que os homens de Dois Rios eram persistentes, mas eles não eram páreo para as mulheres de lá.

8

Cabeças duras

Pelo jeito que o rapaz olhava na direção de Egwene, meio perplexo, Elayne não sabia com certeza se Rand tinha notado que ela ainda estava no quarto. De vez em quando, ele balançava a cabeça como se discutisse consigo mesmo ou se tentasse pôr os pensamentos em ordem. Ela ficou feliz em esperar. Ficaria feliz com qualquer coisa que adiasse um pouco aquele momento. Concentrava-se em manter a aparente tranquilidade, com as costas eretas e a cabeça erguida, as mãos cruzadas no colo e uma calma no rosto que poderia rivalizar com a melhor expressão de Moiraine. O frio na barriga era tão grande que seu estômago podia muito bem virar gelo.

Não era medo de que ele canalizasse. Ela soltara saidar assim que Egwene se levantou para partir. Queria confiar nele, e tinha de confiar. Era o desejo do que queria que acontecesse que a fazia tremer. Precisava se concentrar para não ficar mexendo no colar ou cutucando a tiara de safiras no cabelo. Será que o perfume estava exagerado? Não. Egwene disse que ele gostava de cheiro de rosas. O vestido. Queria puxá-lo para cima, mas…

Rand se virou — mancando de leve, de um jeito que a fez contrair os lábios, pensativa — viu que ela estava sentada na cadeira e levou um susto, arregalando os olhos com uma expressão quase que de pânico. Elayne ficou contente em notar a reação, e fez dez vezes mais esforço para manter o rosto sereno assim que o rapaz pôs os olhos nela. Aqueles olhos agora estavam azuis, como um céu matutino nebuloso.

Ele se recuperou no mesmo instante, curvando-se em uma mesura um tanto desnecessária e esfregando as mãos no casaco, nervoso.

— Eu não percebi que você ainda estava… — Parou de falar, ruborizado. Esquecer-se da presença dela poderia ser tomado como insulto — Quer dizer… Eu não… Eu, hã… — Ele respirou fundo e recomeçou. — Nem sempre ajo como bobo da corte, apesar de ser isso que pareço para você, milady. Não é todo dia que alguém revela que não o ama mais, milady.

Ela assumiu um tom rígido e zombeteiro.

— Se me chamar assim mais uma vez, vou chamá-lo de Lorde Dragão. E fazer uma reverência. Até a Rainha de Andor pode se curvar diante de você, e eu sou só a Filha-herdeira.

— Luz! Não faça isso. — Ele pareceu incomodado demais com a ameaça.

— Eu não vou, Rand — respondeu a jovem, com a voz mais séria — se você me chamar pelo meu nome. Elayne. Diga.

— Elayne. — Ele proferiu a palavra com embaraço, mas também com prazer, como se saboreasse o nome.

— Bom. — Era um absurdo ficar tão satisfeita. Afinal de contas, ele só dissera seu nome. Havia algo que ela precisava saber, antes de prosseguir. — Doeu demais? — Percebeu que a frase poderia ser interpretada de duas formas. — O que Egwene disse, quer dizer.

— Não. Sim. Um pouco. Não sei. É mais do que justo, afinal de contas. — Um leve sorriso aliviou um pouco da cautela. — Estou agindo feito um bobo da corte outra vez, não estou?

— Não. Não para mim.

— Eu disse a pura verdade, mas acho que ela não acreditou. Acho que eu também não queria acreditar no que ela disse. Não mesmo. Se isso não é agir como um bobo da corte, não sei o que é.

— Se você se chamar de bobo da corte mais uma vez, talvez eu comece a acreditar. — Ele não vai tentar ir atrás dela, não terei que lidar com isso. Elayne estava com a voz calma, um tom leve o bastante para indicar que não falava sério. — Já vi o bobo da corte de um lorde cairhieno, ele usava um casaco listrado meio engraçado, grande demais e cheio de sinos. Você ficaria ridículo com um casaco de sinos.

— Acho que sim — respondeu ele, pesaroso. — Vou me lembrar disso.

O sorriso lento foi maior desta vez, aquecendo toda a expressão.

O frio na barriga era quase congelante, mas ela se ocupou em ajeitar as saias. Precisava ir devagar, com cautela. Senão ele vai pensar que sou só uma garota. E vai ter razão. Agora havia uma verdadeira geleira em sua barriga.

— Quer uma flor? — perguntou ele, de súbito, e a jovem piscou os olhos, confusa.

— Uma flor?

— É. — Ele avançou até a cama, pescou dois punhados de penas do colchão esfarrapado e as segurou diante dela. — Eu fiz uma para a majhere, ontem à noite. Pela reação dava para pensar que eu tinha dado a Pedra a ela. Mas a sua será muito mais bonita — acrescentou, mais do que depressa. — Muito mais bonita. Eu prometo.

— Rand, eu…

— Vou tomar cuidado. Basta só um pouquinho do Poder. Só um fiozinho, e vou tomar muito cuidado.

Confiar. Ela tinha de confiar nele. Era uma leve surpresa perceber que de fato confiava.

— Eu gostaria muito, Rand.

Por um longo instante, o rapaz encarou o montinho de plumas nas mãos com uma leve careta no rosto. De repente, deixou as plumas desabarem, batendo as palmas.

— Flores não são um presente apropriado para você. — disse ele. Elayne sentiu compaixão, o rapaz claramente tentara abraçar saidin, sem sucesso. Disfarçando a decepção, ele coxeou, apressado, até o tecido metálico e começou a enrolá-lo em volta do braço. — Esse sim é um presente apropriado para a Filha-herdeira de Andor. Você pode mandar uma costureira fazer… — Ele se atrapalhou para dizer o que uma costureira poderia fazer com um pedaço de tecido de ouro e prata de quatro passadas e menos de dois pés de largura.

— Tenho certeza de que a costureira terá várias ideias — respondeu Elayne, diplomática. — Puxando um lenço de seda azul-claro da manga, ela se ajoelhou por um instante e recolheu as plumas que ele deixara cair.