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Uma mulher alta de repente surgiu na rua à sua frente. Era magra, vestia uma volumosa saia marrom e uma blusa branca solta no corpo, com um xale marrom ao redor dos ombros e um cachecol dobrado em volta da testa, para segurar os cabelos brancos que desciam até a cintura. Apesar das roupas simples, a mulher usava muitos colares e braceletes de ouro, marfim ou ambos. De mãos plantadas na cintura, encarava Egwene nos olhos, franzindo a testa.

Outra mulher tola cujos sonhos a levaram onde ela não tinha o direito de estar e que não acredita no que vê, pensou Egwene. Tinha as descrições de todas as mulheres que haviam fugido com Liandrin, e esta sem dúvida não correspondia a nenhuma delas. No entanto, a mulher não desapareceu. Ficou ali parada enquanto Egwene se aproximava depressa. Por que ainda não sumiu? Por que ela…? Ah, Luz! Ela está mesmo…! Agarrou os fluxos para urdir raios, para envolver a mulher em Ar, alarmada e afobada.

— Ponha os pés no chão, garota — vociferou a mulher. — Já tive trabalho demais para encontrar você de novo sem que saísse voando feito um passarinho.

Egwene parou de voar de repente. Os pés tocaram o chão com um baque, e ela cambaleou. Era a voz da mulher Aiel, mas agora mais velha. Não tão velha quanto Egwene pensara a princípio — na verdade, parecia muito mais jovem do que os cabelos brancos sugeriam. Mas a voz e aqueles aguçados olhos azuis a faziam ter certeza de que se tratava da mesma pessoa.

— Você está… diferente — disse.

— Aqui você pode ser o que quiser. — A mulher soava constrangida, mas só um pouco. — Certas horas, eu gosto de me lembrar… Não importa. Você é da Torre Branca? Faz tempo que não se vê uma Andarilha dos Sonhos por lá. Muito Tempo. Eu sou Amys, do ramo dos Nove Vales, dos Aiel Taardad.

— Você é uma Sábia? É, sim! E conhece os sonhos, conhece Tel’aran’rhiod! Você pode… Meu nome é Egwene. Egwene al’Vere. Eu… — Ela respirou fundo. Amys não parecia uma mulher a quem se pudesse contar mentiras. — Sou Aes Sedai. Da Ajah Verde.

A expressão de Amys não se alterou, na verdade. Um leve enrugar de olhos, talvez por ceticismo. Egwene não parecia ter idade suficiente para ser uma Aes Sedai completa. No entanto, o que disse foi:

— Eu pretendia deixar você pelada até que me pedisse roupas apropriadas. Usar cadin’sor desse jeito, como se fosse… Você me surpreendeu se soltando, virando minha própria lança contra mim. Mas ainda não foi ensinada, não é? Por mais forte que seja. Caso contrário, não teria aparecido daquele jeito no meio da minha caçada, onde obviamente não desejava estar. E esse voo por aí? Você veio até aqui, a Tel’aran’rhiod!, para ficar olhando essa cidade, seja lá qual for?

— É Tanchico — respondeu Egwene, com a voz fraca. Ela não sabia. Mas como fora que Amys a seguira, ou como a encontrara? Estava óbvio que a mulher sabia muito mais do que Egwene sobre o Mundo dos Sonhos. — Você pode me ajudar. Estou tentando encontrar mulheres da Ajah Negra, Amigas das Trevas. Acho que elas estão aqui, e preciso encontrá-las, se estiverem.

— Então é verdade. — Amys quase sussurrou. — Uma Ajah de Mensageiras das Sombras na Torre Branca. — Ela balançou a cabeça. — Você parece uma garota recém-desposada com a lança que pensa que agora pode lutar com homens e saltar montanhas. Para ela, isso significa alguns hematomas e uma valiosa lição de humildade. Para você, aqui, pode significar a morte. — Amys olhou as construções brancas ao redor e fez uma careta. — Tanchico? Em… Tarabon? Esta cidade está morrendo, devorando a si mesma. Há uma escuridão aqui, uma maldade. É pior do que os homens são capazes de criar. Ou as mulheres. — A Aiel encarou Egwene com um olhar penetrante. — Você não consegue ver nem ouvir, não é? E quer caçar Mensageiros das Sombras em Tel’aran’rhiod.

— Maldade? — perguntou Egwene, mais do que depressa. — Podem ser elas. Tem certeza? Se eu contar como elas são, será que você pode se certificar de que são elas? Posso descrevê-las. Posso descrever uma por uma até o último fio da trança.

— Uma criança — murmurou Amys — exigindo do pai um bracelete de prata neste exato instante, sem saber nada sobre negócios ou sobre a feitura de braceletes. Você tem muito que aprender. Muito mais do que posso começar a ensiná-la agora. Venha à Terra da Trindade. Espalharei a notícia de que uma Aes Sedai de nome Egwene al’Vere deve ser trazida a mim, até o Forte das Pedras Frias. Diga seu nome e mostre o anel da Grande Serpente, então poderá seguir em segurança. Não estou lá agora, mas voltarei de Rhuidean antes de você chegar.

— Por favor, você tem que me ajudar. Preciso saber se elas estão aqui. Preciso saber.

— Mas não posso lhe dizer. Não as conheço, nem conheço este lugar, esta Tanchico. Você precisa vir até mim. O que faz é perigoso, muito mais perigoso do que imagina. Você precisa… Aonde está indo? Fique!

Algo pareceu agarrar Egwene, puxá-la para a escuridão.

A voz de Amys a acompanhou, fraca e minguante.

— Você precisa vir até mim e aprender. Você precisa…

12

Tanchico ou A Torre

Elayne soltou um suspiro aliviado quando Egwene enfim se mexeu e abriu os olhos. Ao pé da cama, o rosto de Aviendha perdeu o quê de frustração e ansiedade, e ela abriu um breve sorriso, que Egwene retribuiu. A vela passara da marca fazia apenas alguns minutos, mas mais parecia uma hora.

— Você não estava acordando — explicou Elayne, atordoada. — Eu a sacudi várias vezes, mas você não acordava. — Ela soltou uma risadinha. — Ah, Egwene, você assustou até Aviendha.

Egwene pôs a mão no braço da amiga e o apertou, tranquilizando-a.

— Agora voltei. — Ela soava cansada, e as roupas estavam molhadas de suor. — Acho que tive motivos para ficar um pouco mais do que tínhamos planejado. Tomarei mais cuidado da próxima vez. Juro.

Nynaeve pôs de volta a jarra de água do lavatório de forma brusca, deixando espirrar um pouco para fora. Estivera a ponto de jogar a água na cara sonolenta de Egwene. Seu rosto estava sereno, mas a jarra fez o lavatório chacoalhar, e ela não secou a água derramada que pingava no carpete.

— Foi alguma coisa que você encontrou? Ou foi…? Egwene, se o Mundo dos Sonhos pode prendê-la de alguma forma, talvez seja muito perigoso voltar até que aprenda mais sobre ele. Talvez, quanto mais você vá até lá, mais difícil seja retornar. Talvez… Eu não sei. Mas sei que não podemos arriscar que você acabe se perdendo.

Ela cruzou os braços, pronta para uma discussão.

— Eu sei — respondeu Egwene, quase submissa.

Elayne ergueu as sobrancelhas. Egwene jamais demonstrava submissão a Nynaeve. Muito pelo contrário.

A Sonhadora lutou para sair da cama, recusando a ajuda de Elayne, e caminhou até o lavatório para molhar rosto e braços na água relativamente fresca. Elayne encontrou um vestido seco no guarda-roupas, enquanto Egwene tirava o encharcado.

— Conheci uma Sábia, uma mulher chamada Amys. — A voz de Egwene saiu abafada quando a cabeça passou pela abertura do vestido. — Ela disse que eu deveria ir encontrá-la, para aprender sobre Tel’aran’rhiod. Em um lugar do Deserto chamado Forte das Pedras Frias.

Elayne percebeu um brilho nos olhos de Aviendha à menção do nome da Sábia.

— Você a conhece? Amys?

O meneio de cabeça da Aiel podia ser descrito apenas como relutante.

— Uma Sábia. Uma Andarilha dos Sonhos. Amys era Far Dareis Mai, até abrir mão da lança e seguir para Rhuidean.

— Uma Donzela! — exclamou Egwene. — Então é por isso que ela… Não importa. Ela disse que está em Rhuidean. Você sabe onde fica esse Forte das Pedras Frias, Aviendha?